segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Fim de férias e daí?

Foi a pergunta que me fez um amigo no penúltimo post chamado ‘Liberdade e fim de férias’.  E eu fiquei pensando: é, e daí?
E eu estava de tal forma encantada com tudo que tinha se passado, com a alegria que havia me tomado, que nem tinha me colocado essa questão. Parecia-me meio óbvio que fim de férias é retomar a vida, o trabalho, as atividades normais só que alegre e não triste, deprimida ou angustiada.
Mas na realidade não é só isso.  E foi o que respondi para ele.
Fim de férias é claro que significa voltar tudo ao normal, mas, nesse caso, muito diferente. Significa se acostumar com a “nova pessoa”, sair do piloto automático, prestar atenção a cada passo, dar significado a cada palavra ou gesto, continuar percorrendo o novo caminho. Sinto-me uma “Bandeirante” explorando as terras de um país desconhecido. Desbravando serras, planícies e chapadas. Tendo que cortar a faca cada novo obstáculo e descobrindo ora belezas estonteantes, ora despenhadeiros imensos e animais muito perigosos.
O que acontece é assim mais ou menos como quando a gente para de fumar (pasmem, já fiquei muitos meses sem fumar). Você já não está fumando há dias, está tudo bem e uma hora você acaba de almoçar e pensa sem querer: "agora vou tomar um café e fumar um cigarrinho antes de voltar a trabalhar". E sua cabeça reage: opa! Nada disso, não estou fumando... e você tem que esquecer aquele pensamento. Talvez aqueles que nunca fumaram não entendam isso, mas é assim que acontece. Nosso piloto automático custa a reconhecer um novo padrão de comportamento e parar de pensar no velho. Não é nenhum desespero esquecer a idéia já arraigada, você parou de fumar porque quis e nem está sentindo falta... mas o reflexo condicionado não sabe disso.
E foi assim que minha semana começou com uma reunião em um cliente cujo trabalho não anda de jeito nenhum. Mas na segunda eu ainda estava tomada pela minha “viagem” das duas semanas e fui para a reunião cheia de alegria e pensamentos positivos.  Correu tudo bem.
No auge da minha angústia, tinha me comprometido a ir fazer uma palestra sobre Atendimento num certo Clube do Conhecimento, seguida de debate. Claro que tinha esquecido dela e era na terça.
Saindo da reunião na segunda, me ligaram perguntando: tudo certo para amanhã? O que fez meu reflexo antigo? Me fez pensar imediatamente: droga, para que fui me meter nisso? Não preparei nada agora vou ter que pensar numa coisa que não quero... e já ia dando asas a esse “sofrimento” quando me toquei: porque isso? Adoro falar sobre atendimento, vou conhecer um monte de gente nova, trocar muitas coisas legais. E girei o caleidoscópio imediatamente.
Resultado dessa história comprida que é só para ilustrar: foi ótimo. Fiz um roteirinho e falei de improviso. Falei com todo meu coração e com vontade de que as pessoas alí presentes mudassem alguma coisa em suas cabeças e seus corações. Dito e feito: adoraram.
Ainda mais: eu não sabia, mas a coisa era transmitida ao vivo para uma TV e uma rádio na internet. Várias pessoas me ligaram, fui convidada para dar uma entrevista numa outra rádio (num programa que só entrevista mulheres “poderosas” rsrs), o público me beijou, me abraçou, tiraram fotos comigo... enfim, um super astral que só me deu mais alegria, bons frutos (divulguei muito meu trabalho) e, de brinde, ainda conheci pessoas maravilhosas.
Não tem erro: ocupar o seu lugar plenamente aqui e agora só traz coisas boas e realimenta o processo.
É isso a vigilância. A gente já aprendeu outra forma de sentir, pensar e agir, mas o velho teima em aparecer e reconhecer imediatamente é o exercício permanente.
Outro exemplo? Falei nas minhas queixas que não ia mais à praia porque não gosto mais do meu corpo. Para falar a verdade eu nem me olhava mais. Mesmo. Qualquer espelho era fonte de angústia.
No fim das férias estava totalmente apaziguada com o corpo, o rosto, as rugas e toda minha imagem. Respeitando-a, apreciando-a. E como ainda por cima tinha me livrado da necessidade de ter reconhecimentos, e de achar que valho quanto “acham” que valho, passei a ir à praia. Sem nenhum esforço. Sem pensar. Foi natural como se nunca tivesse havido o outro momento. E porque estou em paz com o corpo e a cabeça, retomei meus exercícios e estou menos ansiosa, portanto comendo menos e o corpo, sendo gostado, chegará onde quero. Com amor e não com raiva.
Eu nunca tinha entendido direito quando as pessoas diziam: “quanto mais você tenta fugir de alguma coisa, mais ela te persegue”. Hoje entendo perfeitamente. Entender-se com o sentimento que atormenta é a melhor forma de livrar-se dele.
E poderia dar mil outros exemplos pequenos e grandes do que vem depois do fim das férias.
Tenho saído mais com minha filha e tirado disso um prazer muito maior que antes – claro, a angústia e a tristeza desviavam todo meu foco de qualquer coisa. Tenho me encontrado muito mais com as amigas e não para falar de dor. Outro dia éramos quatro e passamos umas cinco horas falando só sobre literatura. Cada uma falou de seus livros preferidos da vida toda, trocamos idéias, impressões, discutimos quando não concordávamos, trocamos indicações de livros...uma noite e tanto. Gostosa, enriquecedora e o sofrimento nem passou perto.
Assim Luiz, fim de férias é só o início de uma longa jornada que, espero, dure a vida toda. Esse processo me parece que é como uma cebola. Você vai melhorando e cuidando dessa melhora de camada em camada.
Não somos só esse pouquinho que conhecemos e ao qual nos acostumamos e nos apegamos. Diga-se de passagem, nos apegamos porque não conhecemos outra forma de ser e não porque gostamos tanto assim dela. Temos inúmeras camadas de consciência e a cada vez que expandimos um pouquinho um novo mundo se abre. 
Quero muito continuar expandindo a minha e vivendo exatamente as mesmas coisas: trabalho, filha, casa, amigos, amores se houver, blog e todos os prazeres de sempre. Mas com alegria, entrega, amor. Enfim, plena.
Claro que terei ainda muitos sofrimentos pela vida. Mas que sejam concretos e reais e saberei como lidar com eles. Os que se foram, são fantasmas da casa mal-assombrada que eu mesma construí e estou aprendendo não a demolir, mas a tornar cada fantasma um amigo que vai sair por bem e tranqüilo e não porque tentei implodir a casa.
Fantasmas não têm medo de dinamite.

8 comentários:

  1. Querida, para variar ótimo texto. Sou seu fã incondicional. Parece que vc está encontrando uma forma de ser plena. Eu ainda estou longe disso !!! rs.... Mas quem sabe eu chego lá. Puta bj, Luiz

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  2. E nunca pare de fumar ou beber !!!!!

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  3. Luiz querido, tenho me esforçado MUITOOO.
    A questão é que essa luz vem quando a gente de verdade cansa de sofrer e quer DESESPERADAMENTE mudar. Nessa hora, que a gente começa a correr atrás de saídas, parece que o universo conspira e elas vêem. Mas vêem sutis. A gente é que tem que estar atento e agarrar a tábua na hora certa rsrs
    Mas tenho comido muita merda acredite. O preço é alto.
    Quanto a beber, bem, já não bebo mesmo. É muito raro. Minha onda não é essa. Lá de vez em quando para comemorar alguma coisa ou para fazer companhia a alguém que mereça rsrs mesmo assim só se estiver muito bem. Nunca consegui beber estando mal...veja que então não bebo muito rsrs
    E fumar, pretendo deixar sim. É tb um padrão velho, que me define por enquanto mas tenho certeza de que daqui a pouco não terá mais nada a ver comigo.
    Mudar é preciso Luiz...
    Beijão

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  4. Nossa, escreevi todos os vêem do verbo ver. Será que Freud explica. Onde se lê vêem leia-se vêm.

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  5. Que lindo, Claudia! Putz q férias da sabedoria, heim? Ficar amiga dos "fantasmas" é uma tática sensacional. Fiquei pensando nisso e sabe q me bateu um tremendo otimismo diante da vida?
    Nada de desespero diante do sofrimento, estamos exatamente no lugar onde devemos estar.
    Li ainda a pouco uma cronica que diz q o passado é o melhor lugar, porque escolhemos aqueles momentos ou situações, das quais queremos lembrar. Como ele n existe mais, a não ser na nossa cabeça, é também bastante confortável, nada nos é cobrado e fica só a delicadeza do momento (nem tão fácil assim).
    E assim, a "casa mal assombrada", passa a ser habitada só por quem nos quer bem e vice versa.

    Até a próxima, bjos.

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  6. Prima querida,
    temos muito o que conversar!
    Tenho que dar um jeito de ir aí...
    Prometo que vou me planejar
    beijoss

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  7. Que férias abençoadas para os seus fiéis leitores!!! Voltou ainda mais inspirada com outro belíssimo texto!

    Todos temos fantasmas, Claudia! E um ladinho nosso que desgostamos e rejeitamos, por acreditar que eles sejam, no fundo, os sabotadores de nossa felicidade. Ou, no mínimo, os sabotadores da nossa serenidade e paz de espírito.

    Conhecer e aprender a conviver com esse lado alivia a angustia e o sofrimento. Por um lado, nos dá as ferramentas necessárias para enfrentá-lo. O que não significa eliminar a sua manifestação.Muitas vezes, o desgaste de inibir o que é natural e parte de nossa natureza é ainda mais angustiante e sofrido. A verdadeira libertação está na aceitação pura e simples do nosso Darth Vader interior. A auto-sensação incômoda de inadequação ou comportamento/sentimento indesejáveis provém, muitas vezes, de parâmetros subjetivos do ambiente onde estamos inseridos. A resposta, talvez, não seja mudar o comportamento, e sim, os parâmetros...

    Quanto aos fantasmas, são apenas fantasmas. Vivem dentro de nós e apenas dentro de nós. Podem parecer extremamente ameaçadores e volta a meia voltem a nos assombrar, mas são apenas sinais mal resolvidos do passado. E o passado nos pertence. E dele podemos tirar o melhor ou o pior. A escolha é nossa. Se optamos pelo melhor, se fazemos as pazes com as nossas escolhas, se reconhecemos que fizemos o melhor que pudemos, nosso passado se transforma em apenas doces lembranças. E abrimos o caminho para que Plufts, milhões de Plufts passem e passeiem por nossas mentes!

    Um beijo.

    Alice

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  8. Alice querida,
    adoro seus comentários. Tanto pelo conteúdo quanto pela carga de entrega que eles revelam.
    Seus comentários invariavelmente complementam e ampliam minhas reflexões e me deixam encantada por perceber o quanto você se coloca neles e leva meus textos a sério. Isso é um presente para mim.
    Sabendo o quanto você é ocupada, ver como você se dá ao trabalho de aprofundar ainda mais as questões e escrever longa e verdadeiramente sobre um texto, me faz admirá-la cada vez mais.
    Você nunca comenta por comentar. Cai de cabeça. Obrigada por isso. Você foi um presente que ganhei em 2010.
    By the way, eu estou contando as horas para o nosso primeiro encontro que está chegando, eu espero.
    Beijo querida e mais uma vez obrigada

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