terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A inutilidade da tagarelice

Acabo de voltar de um jantar com, eu espero, um novo amigo e tive muitas tomadas de consciência que gostaria de contar para vocês. Só contar, sem analisar ou tentar entender, sobretudo sem julgar.


Bem, nem sei por onde começo, mas acho que pelo que me foi mais impactante: não conheço direito essa pessoa – segunda vez que a vejo, mas aconteceu uma mágica. Pouco ou nada falamos de sério. Rimos muito e foi muito divertido. Ficamos horas em um restaurante e eu, como fumante inveterada que sou nem tive vontade de fumar, nem de beber... nada.O que me fez pensar que quando você ri junto com uma pessoa, você está realmente conectado a ela. Os dois são um. Não há nada no meio disso. Poderíamos ter nos contado nossas vidas, poderíamos ter falado de mil assuntos sérios, mas nada disso faria a conexão perfeita que foi. Porque estaríamos usando só nossas cabeças, e ao dar muita risada e falar bobagens da hora, estávamos usando o coração.


Voltei para casa super feliz pensando nisso e me lembrei de um feedback que outro amigo me deu um dia desses: “você verbaliza o tempo todo, tudo com você tem que ser analisado, falado, esgotado”. Na hora em que ouvi isso, fiquei pensando em o quanto ele devia me achar uma chata. E isso foi se confirmando porque cada vez conversamos menos. Mas, o que isso realmente queria dizer eu só entendi hoje.


Quando a gente analisa muito, fala muito, está falando coisas que já pensou um dia (raramente é uma coisa que está pensando no momento) e, portanto, não tem nada a ver com aquela “vida” que está rolando ali, naquele momento. Por isso não há conexão. Tudo que é já pensado e falado é velho. Talvez valesse ontem, hoje não vale mais. A vida já andou, o momento é outro, os dois são outros e eu continuo (ou costumo continuar) como se meu coração não estivesse entendendo, só minha cabeça. Para estar com alguém ou "alguéns" é preciso estar inteiro e deixar as emoções e sensações fluírem de verdade, como um rio que nunca mais será o mesmo, mas continuará refrescando, provendo a água para nossa sede e proporcionando a vida. Peixes novos, plantas novas e a beleza será eterna. Se ficarmos como um poço de águas velhas e paradas, do qual ninguém bebe e, portanto, não se renova, essas águas só encontrarão feiúra e morte.


No Blog é diferente. Mesmo analisando, são coisas que me vêm no momento, então há vida e coração no que digo. E se escrevo, não é só para contar de mim e sim para tentar inspirar os leitores a refletirem sobre suas próprias vidas. E, cada uma dessas reflexões será nova e fresca. Mas às vezes, sinto que julgo. Julgar é a pior coisa que se pode fazer, pois a gente se enche de “verdade”, considerando apenas uma pequena parte do todo. Poderia julgar se me fosse dado conhecer O TODO. Mas é impossível. Se só sei uma parte, como posso dizer se é bom ou ruim? O que julgo hoje talvez se mostre justo o contrário amanhã.


O novo amigo não sabe tudo que me fez pensar e como me fez bem. Não sabe que acabei de entender que falar só é proveitoso se você está perfeitamente de acordo com o “momento presente”. Se há vida no que você está falando. Senão, mil vezes o silêncio, que coloca as pessoas conectadas e permite, aí sim, um diálogo novo que leve a coisas novas.


Quando nada, pode-se rir muito!

6 comentários:

  1. Esse texto ficou póetico, tem ritmo, quase chega ter som, aroma

    bacana mesmo esse exercicio disciplinado do prazer

    manter a constância no prazer é maravilhoso

    inspirador
    bj

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  2. ahh rssss

    melhor não contar tudo que te despertou kkkkkkkkk

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  3. Moniquinha querida,
    bom ver você de volta aos comentários. Sinto muito a sua falta.
    E não é que você vai embarcar sem termos nos visto esse ano?
    Imperdoável!
    Beijos muito muito saudosos
    Cláudia

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  4. Claudia, me identifiquei muuuuuuuuito com o seu texto! Tenho também uma forte tendência a elaborar e racionalizar sobre tudo. Como se esse processo de ordenação dos sentimentos gerasse a compreensão necessária que garantisse o controle sobre eles. Mas, paradoxalmente, sou muito bem-humorada e ver e fazer graça não me demanda grande esforço.
    Bom-humor e leveza são fundamentais para a manutenção e crescimento de qualquer relacionamento. Não há como suportar uma base intrinsecamente densa. Por outro lado, tampouco há como suportar uma base de bom-humor apenas frívolo e superficial.
    Pois bom-humor tem essa dualidade. Pode servir como escudo do seu eu mais profundo, e, portanto, ao não se revelar, contraria o “viver o agora e deixar fluir naturalmente as emoções”. E acaba inviabilizando o relacionamento por ser vazio de “eu”.
    Mas o bom-humor também pode ser a revelação do nosso íntimo mais íntimo. E, nesse sentido, resultado de uma densa e profunda análise de como vemos, entendemos e nos relacionamos com o mundo e as pessoas. Mais ainda, essa bem-humorada leveza cresce quando mais se intensifica o relacionamento. Nessas bases, o bom-humor requer muita intimidade e grande conhecimento do outro. Essa sintonia é rara e, quando acontece, é mágica! E realmente aproxima e conecta e é agora e é só bom!!!!
    Bom-humor é uma habilidade ou potência (referencia a outro texto seu – maravilhoso - que comentarei oportunamente), mas sua competência está diretamente relacionada aos recursos que acumulamos com nossas experiências e reflexões. E também, obviamente, à capacidade do outro em responder. Não há leveza mais densa! Ou densidade mais leve????
    Um beijo.

    Alice

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  5. Alice,
    adorei sua reflexão. Essa parte de que a qualidade do bom-humor está diretamente relacionada aos recursos que acumulamos com nossas experiências e reflexões é um achado. Só pode ter um bom-humor sofisticado e profundo quem já viveu, já pensou, já sofreu e escolheu o riso e a graça como a melhor forma de lidar com a profundidade de tudo.
    De fato, o bom-humor desprovido de 'eu'é vazio e insuportável. Aquelas pessoas a quem calmamente chamamos de 'babacas" rsrs
    O que tem me importado mesmo, atualmente, são as conexões feitas com o coração e rir junto (com densidade claro) me pareceu a que mais se ajusta. Quando estamos rindo juntos a mente pouco interfere. Já nos diálogos é preciso tomar muito cuidado. Cada uma das partes pode falar, falar, falar e só a cabeça entrou em ação. Foi puro exercício de retórica. Ninguém mudou, ninguém cresceu, e a conversa acaba como se nunca tivesse acontecido. As pessoas vão embora pensando exatamente o que pensavam antes (no máximo admirando a nossa inteligência). Mas a troca não se deu. A conexão não se deu.E honestamente, tenho achado que isso é pura perda de tempo e energia....me corrija de eu estiver errada.
    beijos querida

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  6. Você tem toda razão, Claudia! Se não há a conexão do coração, para que tentar qualquer conexão da razão? A troca positiva e construtiva se dá a partir da sintonia do sentir, não do pensar. E em relacionamentos de qualquer natureza! Só isso explica aquele gostar gratuito, muitas vezes irracional, e aquela afinidade pelas diferenças, tantas vezes maior do que pelas semelhanças. Essas são as conexões em que vale a pena investir, e só então, deixar a razão, entre risos e palavras, servir ao inexplicável!
    Seu comentario me fez lembrar do Caetano: "Demasiadas palavras, fraco impulso de vida, travada a mente na ideologia".
    Bjs

    Alice

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