segunda-feira, 14 de abril de 2014

Voando ao encontro da poesia

Em algum lugar do meu ser errante tem um mágico tapete mágico.
Me leva pra onde eu quiser se eu disser onde é
O problema é que ou não sei onde ir
Ou se sei, não faço ideia de onde fica
e o tapete anda meio em círculos
Esperando que uma hora eu acerte o nosso real destino.
Ouço um chamado que vem de dentro e de fora ao mesmo tempo
Palavras que começaram segredadas em sussurros , e viraram gritos, desatinos
Vozes que escuto sem compreender ao certo mas que falam noite e dia:
É urgente partir ao encontro da poesia
É irremediavelmente vital alcançar a terra onde lhe espera a fantasia
Me apressei em desenhar o mapa que fizesse o tapete entender nosso trajeto
Queria um mapa certo, que nos conduzisse pelo menos uma vez ao ponto desejado:
Fosse longe ou perto.
Nova ameaça de fracasso.
O caminho ora é escuro ora brilha. Me sinto cega, ofuscada. Me confundo, acho fundo
Sei que a poesia é uma terra distante
Sei que para ser bem recebido é preciso ser brilhante
Sei que há um milhão de trilhas, armadilhas, sedutoras redondilhas
Sei que me esperam a dúvida, o cansaço, as noites acordada, e o fantasma maior: desistir
Enquanto procuro pelo menos um único modo seguro de achar meu lugar enfim
O tapete me pressiona, me apressa, eu desespero
Com calma peço que não se impaciente, que só conheço o presente, que estamos longe do fim
Ele sorri e me diz com ironia e uma ponta de maldade: o princípio também sei onde é.
É onde sempre estivemos:
- na estaca zero

sexta-feira, 4 de abril de 2014

A crônica do Jabor



O que querem as mulheres? – Artigo de Arnaldo Jabor

By  | March 11, 2014

No Dia Internacional da Mulher, várias amigas me pediram: “Escreve, escreve sobre a Mulher!…”.
O psicanalista Lacan disse que “A Mulher” não existe, pois não há alguma coisa que as unifique. Acho que ele tinha razão. Eu nunca conheci a Mulher. Eu já amei e odiei “mulheres”. Então, por que esse título genérico? Existe a mulher de burca, a ‘strip-teaser’, existe a freira, a bondosa, a malvada, existe Eva e Virgem Maria.
Sempre que chega esse Dia Internacional, nós machistas elogiamos o lado “abstrato” das fêmeas, sua delicadeza, sua capacidade de perdão (sic), sua coragem, em textos de hipocrisia paternalista, como se falássemos de pobres, de crianças. As mulheres foram e são oprimidas e estupradas na alma e no corpo.
No Oriente e África, vemos o auge da violência: castrações, estupros impunes, pais condenando filhas, tudo de horrível. Mas no resto do mundo sobrevivem muitas formas mais sutis de opressão e desprezo.
Uma leitora, que se disse ‘perua inteligente’, me escreveu: “Antes, as mulheres eram escravas passivas, hoje somos ativas, mas continuamos escravas. Mesmo sendo frígidas, temos de prometer ‘funcionamento’. Não é por acaso que eles nos chamam de ‘aviões’. É só olhar as revistas masculinas. O que está acontecendo no Brasil é a libertação da mulher-objeto. A publicidade é toda em cima de sexo”.
É verdade, penso eu: muita mulher que se sente livre é enganada.
Na mídia, só vemos estímulos para as mulheres buscarem a bunda perfeita, bundas ambiciosas querendo subir na vida, bundas com vida própria, mais importantes que suas donas, próteses de silicone, sucesso sem trabalho, anúncio de cerveja com louras burras, mulheres divididas entre a “piranhagem” e a “peruíce”, sorrisos luminosos de celebridades bregas, passos de ganso de manequins. A bunda é a esperança de milhões de Cinderelas. O corpo tem de dar lucro. As mulheres querem ser disputadas, consumidas. Ficam em acrobáticas posições ginecológicas para raspar os pelos pubianos nos salões de beleza e, depois, saem felizes com uns bigodinhos verticais que lembram o Hitler ou Sarney. A liberdade de mercado produziu o mercado da ‘liberdade’.
A mulher não é um enigma. Nós é que somos, disfarçados de sólidos. Os homens são óbvios, fálicos.
As mulheres não sabem o que querem; o homem acha que sabe. O masculino é certo; o feminino é insolúvel. A mulher deseja o impossível; desejar o impossível é sua grande beleza.
A mulher precisa do homem impalpável. As mulheres têm uma queda pelo canalha (cartas indignadas para a redação…). O canalha é mais amado que o bonzinho. Ela sofre com o canalha, mas o canalha lhe dá um sentido claro com sua viril antipatia. Claro que é um preconceito também essa mania de dizermos que as mulheres são “incompreensíveis” (mesmo Freud). Mas essa confusão na cabeça das mulheres não é maluquice ou psicose; nessa confusa cabeça há uma verdade indeterminada mais profunda do que as ilusões masculinas. Homem tem um “fim”. Mulher abre-se num horizonte com muitos sentidos e está sempre equivocando o homem. Lembrando-me de quem amei, vejo que elas queriam ser “descobertas” para elas se conhecerem. Queriam ser decifradas pelos homens, por nossas mãos e bocas. Uma grande submissão a elas só as tornava mais desoladas, raivosas. Muitas vezes, cometi esse erro e dancei.
Elas ventam, chovem, sangram, elas têm inverno, verão, “TPM’s”, raiam de manhã ou brilham à noite, elas derrubam homens como terremotos. Elas querem ser decifradas por nós, mas nunca acertamos no alvo, pois não há alvo, nem mosca.
Daí o ódio que os primitivos cultivam contra elas, daí os boçais assassinos do Islã apedrejando-as até a morte, daí os mitos negros como Lilith ou Jezebel (até Eva) ou ladies da morte como Macbeth.
O único grande mistério talvez seja a divisão entre os sexos. Por mais que queiramos, nunca chegaremos lá. Lá, aonde? Lá, na diferença radical onde mora o “outro”. Há alguns exploradores: os veados, sapatões, travestis, que mergulham nesse mar e voltam de mãos vazias, pois nunca saberemos quem é aquele ser com útero, seios, vagina, aquele ser maternal, bom, terrível quando contrariado no “ponto g” da alma. Por outro lado, elas nunca saberão o que é um pênis pendurado, um bigodão, a porrada num jogo do Flamengo, um p… visitado de porre, nunca saberão do desamparo do macho em sua frágil grossura. Elas jamais saberão como somos. O amor é a tentativa de pular esse abismo. Eu sou hoje o que as mulheres fizeram comigo ou o que eu aprendi com elas, no amor ou no sofrimento. Eu descobri defeitos e qualidades que me formaram, como acidentes que me foram desfigurando. O que aprendi com elas? Não tenho ideia, mas sei que me mudaram. Eram como quebra-cabeças: ao tentar armá-los, eu achava que sabia tudo, mas entrava em novos labirintos. Com elas, loucas, sóbrias, boas e más, descobri que não tenho forma nem lógica e que sempre me faltará uma peça na charada.
Existe alguma coisa que as unifique em uma identidade geral? Não sei, mas parece que elas estão muito mais próximas que nós da realidade múltipla do mundo atual, aberto, sem futuro ou significado. Mas não é como vítimas que devemos lamentá-las ou louvá-las. Sua importância é afirmativa, pois elas estão muito mais próximas que nós da realidade deste mundo aberto, sem futuro ou significado. Elas não caminham em busca de um “sentido” único, de um poder brutal. O homem se crê acima do mistério, mas as mulheres estão dentro. São impalpáveis como a realidade que o homem “pensa” que controla.
O Dia Internacional devia estimular uma ação política das mulheres, não apenas para defender seus direitos, mas para condenar a civilização de machos boçais que destroem nosso destino.

Respondendo a uma crônica do Jabor sobre homens e mulheres

Há uma extensa e, na minha opinião equivocada mística de que as mulheres são indecifráveis; e além disso, que são definitivamente influenciadas pela tal mídia que cá prá nós é mais misteriosa que as mulheres, que as vende como objetos e faz com que desejem aquele visual e tudo que vem junto com ele: a piranhice, a canalhice e por aí vai. 
Tornou-se para lá de lugar comum e nem sei se é lenda ou fato real que até Freud desistiu de compreender as fêmeas da espécie .Mas também já se vão quantos anos?
Não se sabe o que quer uma mulher, não se lhe decifra os desejos e quem tenta, em geral paga muito caro.
Homens são compreensíveis? Pois é claro que mulheres também. A questão, a meu ver é o grau de complexidade, oriundo não só de uma psiquê diferente porque de gêneros diferentes mas de formações culturais ao longo dos tempos. Já temos  uma  muito razoável quantidade e densidade de história capaz de moldar os seres humanos em  diversas formas.
Não tenho conhecimento histórico nem antropológico. Não conheço as diversas civilizações e como evoluíram, mas sei que mulheres são seres humanos mais ou menos complexos mas que merecem tanta investigação e respeito quanto seus complementos masculinos. Sabemos que são menos objetivas, mais emocionais, mais complexas no pensar, mais cuidadosas no agir e, sobretudo têm a capacidade humana que lhes confere talvez o mais sublime de tudo. Elas procriam.
E procriar e fazer a raça humana evoluir não se faz sendo rasteira, óbvia, com um único ponto de vista, pelo simples fato de que cada criança gerada é diferente, e dessas diferenças, nascem imensos conhecimentos e estratégias de convívio e extração e identificação de cada um, do seu melhor e mais profundo eu.
Que homem entende disso? que homem se sente mais que um provedor se dando por bastante cumpridor de seus deveres ao levar o dinheiro para casa?
Sendo que nem isso é uma regra. As mulheres contribuem e muito, .Sabemos que tudo é muito caro e nem sei quem inventou esse nível de consumo, sobretudo para as crianças que acabam por estrangular, tiranizar e enlouquecer os pais.
Que homem para e pensa que dinheiro é, em si, muito pouco se não for trabalhado e transformado em amor, educação, caráter, valores, comida na geladeira, idas sem falta à escola, ao médico, dentista,  lazer e festas consequentes  de um convívio social normal. Dinheiro se fica no banco assemelha-se  a nada. O trabalho que vem depois obriga as mulheres a muito pensar, priorizar, discutir com os filhos, e muitas vezes totalmente sozinhas.
Discordo redondamente em colocarmos as mulheres, como maioria em caçadoras de belas bundas. Algumas talvez, de QI mais prejudicado. Mas a maioria? No way. Somos um gigantesco contingente de trabalhadoras responsáveis por seu lares e suas crias.
Seria diminuir demais o sexo forte.
Vou tentar fazer uma listinha sucinta sobre o  que querem as mulheres:
        No fim do dia falar muito pouco até se recompor da jornada exaustiva;
    Quer irritar uma mulher? Ofereça-lhe soluções simplistas. Mulheres quando conversam não querem soluções rápidas, querem esgotar o problema mesmo que implique em não resolver;
3    Mulheres adoram a companhia de outras mulheres. São insubstituíveis; Nem pensem em dificultar suas amizades.
   Adoram os homens pela confiança, segurança, amizade e tesão. Dificilmente mulheres traem por trair;
       Adoram sexo sem pressão; em geral menos que os homens que fique claro
    Contem com elas. Não as infantilizem mesmo nos problemas mais cabeludos;
8 Esqueçam essa questão de bunda e que tais.  As mulheres são sim vaidosas e sempre querem adiar seus sinais de velhice. Compreendam e não julguem pequenas extravagâncias;
Depois que uma mulher tem filhos, desista. Eles serão mais importantes. Não entre em disputa, você homem também é muito importante;
   Se não souber o que falar dê apenas colo mas não abra a boca para dizer”: o emprego tá ruim, larga logo.”
    Entendam de uma vez por todas que mulheres são francas umas com as outras e não se envergonham de suas fragilidades. Suas conversas podem durar horas e caminhar em espiral, ou da forma do Windows, muitas janelas se abrindo e poucas se fechando; mas o que você tem com isso?
        Homens não falam de seus fracassos com outros homens e acho que com ninguém. Não pedem conselhos e pensam poder resolver tudo sozinhos. Nos piores momentos recolhem-se a suas cavernas e só saem com tudo resolvido. Mulheres precisam entender isso e não insistir nem dar uma de mãe. Eles odeiam.
   Sexo para as mulheres não resolve tudo. Se houve desentendimento precisam ser superados para depois pensar em sexo. Mas sem ele não há casal que viva, então, muita calma nessa hora.
-   Mulheres se magoam mais. Homens aprenderam a aguentar o tranco; Ah mulheres adoram elogios
    Enfim, carinho de ambas as partes tentando entender e respeitar as diferenças, só pode ajudar. Mas por favor, sem crises desnecessárias de ciúmes, sem competições e com toda vontade de acertar;
   Penso nos homens e sinto como sua responsabilidade é grande. Tem que ser bem sucedido, suprir as necessidades materiais, trabalhar dia e noite e ser cobrado pela louca que não lavou. E como são enrustidos, essa pressão vira stress que eventualmente vira infarto Ou pior, vira traição, agressividade, alcoolismo e aí é o fim mesmo sendo que, lógico, a culpa foi da complicada mulher que nem deus pode entender. Não é fácil ser homem no mundo moderno;

Como não é fácil ser mulher ainda mais com todos afirmando que, coitadas, não batem bem e nem sabem se comunicar.
Mas, sua responsabilidade só aumenta. Vejam:
se a  criança  é mal educada todos dirão: não tem mãe não é?
Se for bem na escola, foi a herança da inteligência do pai que mal viu a criança estudar e não teve que se aborrecer com ela.

Assim, é o esforço conjunto que multiplica ao invés de somar. Homens, tentem abrir-se mais e conversar sobre suas fraquezas e inseguranças. Mulheres, parem de bancar as vítimas, digam quando não estão aguentando e nunca se façam de coitadinhas. Exercitem dizer o que verdadeiramente sentem, sem usar o jogo do 
-“ o que você tem?
- “Nada” e a cara horrível .  
-“Porque você não quis ir à festa?
- “estou cansada´ quando o motivo real é que você queria ter ganhado uma roupa nova. 
-“Gostou do presente"?
- "Adorei" quando queria ter jogado no lixo.  Jogar no lixo e resolver a questão na hora é muito mais saudável que aquele osso de galinha atravessado na garganta sempre te lembrando que ele é péssimo para presentes. Se for, seja sincera e diga do que você gosta;
Faça o não ser não e o sim ser sim.
E tem uma ótima prá fechar: você deu a ele duas camisas: uma listrada e uma xadrez. No primeiro jantar ele usa a listrada e você, sem pestanejar, dispara:  sabia que não tinha gostado da xadrez.

Fala sério!

Ps.`: Claro que tem de tudo: maus caráteres de todos os lados, gananciosos, arrivistas, traidores, inimigos quase. Mas falei aqui do que considero normal e maioria. E há homens que nem contam com mulheres. Cumprem papéis de pais e mães com perfeição e são dignos de muita admiração. Assim como as mulheres sozinhas.

Para

Para tudo tem um jeito
Para  tudo tem um nome
Paralamas do sucesso
Paratodos tem o Chico.
Para viver paranóia
Parafernália para tudo
Parafuso aperta e para
Paradoxo confunde.
Parabólica para mais nada
Para passarinhar parapente
Paraninfo para que mesmo
E por aí o para não para
Mesmo tendo parágrafo
De todo jeito não para
Parapsicologia
Paraplegia
Para quedas
Para raios
Para brisa
Para choques
Para quieto
Para frente
Para trás
Para cima
Para baixo
Para não aborrecer don' Ana
Por favor
Para com isso!


terça-feira, 25 de março de 2014

A primavera da paz

Quando o mundo foi povoado e percebeu que era rico, um tempo que ninguém sabe quando foi,
Uma voz forte e autoritária mandou que todos escolhessem seus inimigos.
Os filhos da terra ficaram aflitos porque nem bem sabiam o que era isso
E muito menos o que deveriam fazer depois que a voz tivesse dito.            

Como um chefe do mundo, disse que todos tinham que ter inimigos para lutar
Caso contrário ficariam fracos e tolos, nada tendo em que pensar
Inimigo pode ser qualquer um diferente de você, dizia a voz
Qualquer um com mais que você, qualquer um melhor, mais capaz ou mais veloz

Inimigo é o que tem a terra que você queria ou a mulher da sua fantasia,
Inimigo é o mais forte, mais bonito, mais amado
Inimigo a gente escolhe e planta uma semente que se chama ódio
Quando cresce, dá uma frutinha ardida que só deixa uma saída: tirar-lhe a vida.

Os filhos da terra tiveram medo. As vozes eram diferentes e sempre traziam tristeza.
Mas pensavam que se não odiassem nem lutassem, que haveria para fazer nessa existência¿
E também, seria justo que houvesse gente com amor, ideais, arte e beleza
Construindo um outro mundo que, por certo, teria valores e decência¿

Assim justificando, já cheios de raiva e hostilidade, cada um saiu a procurar seu inimigo
Foi mais fácil que previam. Em pouco tempo todos odiavam. Quanta gente merecia castigo!
Todos fizeram pactos com quem chamavam de deus, outros com o diabo
Os que não queriam lutar sozinhos, juntavam-se em exércitos a enterrar cada um que devia ser odiado

E o mundo, depois de muito tempo de horrores que a voz dizia inofensivos
Virou um só grande mar. Vermelho, viscoso com um cheiro doce e enjoativo
Os filhos da terra e seus inimigos já nem respiravam, nem lutavam, nem se odiavam
Afogando-se todos no fluido infinito da vida derramado, perceberam que a voz tinha um só objetivo.

Ela, que sempre parecia diferente, brava que estava com a desistência, mostrou-se então;
Vinha sempre da escuridão. O que ela não sabia é que agora todos queriam enxergar
E viram que uma voz era do dinheiro, outra da inveja, outra da religião, outra da intolerância
E eram tantas que os filhos armaram-se do que puderam para resgatar o mundo e tirar da voz o poder e a ganância

E muito lutaram. E deram suas vidas para exterminar os inimigos reais
Acabaram com templos e deuses inventados; quebraram bancos
Derrubaram governos, prenderam ladrões e incendiaram dinheiro roubado
Chamaram de amigos todos os diferentes e os filhos ficaram de verdade iguais

Esta é a única guerra comovente que a história traz
A última das guerras de um mundo que quase virou um tribunal de almas de outro mundo
E sempre que os mais velhos sentam em volta da fogueira, puxam o ar lá do fundo
E aproveitam o bem que contar lhes faz. Dizem que jamais esquecerão a primavera da paz.



Guerra e paz

Qual é a guerra que promove a paz¿
Qual  é a morte que resulta em vida¿
Que causa nobre justifica os bárbaros finais¿
Quem nos faz nadar  nos rios de sangue que brotam das feridas¿

Alimentar o ódio e transformá-lo em compulsão por extinguir o inimigo              
deve ser a evolução de um saber antigo
Tornado um pedaço da alma humana que não lhe compreende o sentido
E segue, tentando desatar o nó que a tantos leva ao desatino

Se arrancarmos nossos corações com a faca
E o olharmos muito de perto como quem procura uma enfermidade
Talvez só haja um grande tumor onde esperávamos a verdade
E a verdade pode ser um cancro formado de guerra e paz, ódio e amor,


Missão de paz

Você escolheu incondicionalmente a paz ou para você tanto faz¿
A violência justifica a sua e lhe dá uma força a mais¿
A maldade e a truculência a que temos assistido, pega sua indignação e faz o que¿
desfaz¿

E a sua violência  inata, aonde jaz -  se é que jaz¿
Sua fome de briga, sua raiva e seu necessário acerto de contas, é briga contumaz¿
Acha naturais as escolhas que todo mundo faz¿
Não lhe parece que o ódio de cada um multiplicado por bilhões nos torna menos que animais¿

Olho para minhas mãos incrédulas e não encontro bala, nem pedra, nem faca
Com o nada que não tenho, corto meu triste coração e
Não acho raiva, nem inveja, nem vontade de vingança
Só uma vaga e mansa calma, com vontade de ter esperança.

Tenho certeza de que é das fraquezas de gente como eu, que se liquefaz diante da barbárie
Que os vermes se alimentam na vã tentativa de alcançar o éden, e terem vidas celestiais ,
roubando de novo a terra que sempre nadou em sangue, e temeu, mal foi colonizada, seu capataz
Tecendo nova história que é sempre a mesma: violência em nome de deus, de riqueza, de poder,
Sem se dar conta, os imorais, de como tudo isso é pouco e é fugaz!

Quem nos enganou e disse que a paz viria logo que todo o mal fosse suprimido¿
Mas quem, meu deus, afinal, definiu o mal¿. E não só um mal, todos os males¿
E fez o mundo desejar horríveis pragas e perdas contra todos os que descompactuaram ¿
Se desse mesmo veneno já morreram tantos e nenhum “mal” jamais foi banido¿

Será a paz uma noção divina imerecida e imaterial?
Seremos nós os castigados por pecados que não cometemos¿
Pois não é assim que tem sempre sido¿
Não somos vítimas de desprezo, seres que deus ainda nem criou, apenas fantasias em potencial?

Quando estivermos todos quase mortos – de guerra, bala perdida, doença, tanto faz
Que haveremos de pensar que foi a vida¿
Alguns sentirão vergonha e arrependimento: nem de reagir fui capaz
Outros, talvez a maioria, sintam ainda a raiva que nunca passou: estivemos sempre do lado errado, que vergonha.
Estavam certos em nos achar uns boçais

E esta, que nada pode nem tampouco reagiu,
Pensa que ainda é tempo de pensar em paz
Não matando as velhas serpentes,
Mas invertendo em tal medida o que a nossa finitude apraz,
Que a vingança pacífica maior será tornar toda guerra ineficaz, até que não haja mais.

É dentro de cada um de nós que é guerra ou paz
É em nós que as bombas explodem ou as mãos se dão
E dentro das nossas almas perdidas que nasce ou se mata a vida

São nossos corações sem rumo que odeiam e amam conforme possamos ou não

quinta-feira, 6 de março de 2014

A qui la faute?

Para  minha amiga Marcia Cintra, um lindo poema do
genial Victor Hugo

Tu viens d'incendier la Bibliothèque ?

- Oui.
J'ai mis le feu là.

- Mais c'est un crime inouï !
Crime commis par toi contre toi-même, infâme !
Mais tu viens de tuer le rayon de ton âme !
C'est ton propre flambeau que tu viens de souffler !
Ce que ta rage impie et folle ose brûler,
C'est ton bien, ton trésor, ta dot, ton héritage
Le livre, hostile au maître, est à ton avantage.
Le livre a toujours pris fait et cause pour toi.
Une bibliothèque est un acte de foi
Des générations ténébreuses encore
Qui rendent dans la nuit témoignage à l'aurore.
Quoi! dans ce vénérable amas des vérités,
Dans ces chefs-d'oeuvre pleins de foudre et de clartés,
Dans ce tombeau des temps devenu répertoire,
Dans les siècles, dans l'homme antique, dans l'histoire,
Dans le passé, leçon qu'épelle l'avenir,
Dans ce qui commença pour ne jamais finir,
Dans les poètes! quoi, dans ce gouffre des bibles,
Dans le divin monceau des Eschyles terribles,
Des Homères, des jobs, debout sur l'horizon,
Dans Molière, Voltaire et Kant, dans la raison,
Tu jettes, misérable, une torche enflammée !
De tout l'esprit humain tu fais de la fumée !
As-tu donc oublié que ton libérateur,
C'est le livre ? Le livre est là sur la hauteur;
Il luit; parce qu'il brille et qu'il les illumine,
Il détruit l'échafaud, la guerre, la famine
Il parle, plus d'esclave et plus de paria.
Ouvre un livre. Platon, Milton, Beccaria.
Lis ces prophètes, Dante, ou Shakspeare, ou Corneille
L'âme immense qu'ils ont en eux, en toi s'éveille ;
Ébloui, tu te sens le même homme qu'eux tous ;
Tu deviens en lisant grave, pensif et doux ;
Tu sens dans ton esprit tous ces grands hommes croître,
Ils t'enseignent ainsi que l'aube éclaire un cloître
À mesure qu'il plonge en ton coeur plus avant,
Leur chaud rayon t'apaise et te fait plus vivant ;
Ton âme interrogée est prête à leur répondre ;
Tu te reconnais bon, puis meilleur; tu sens fondre,
Comme la neige au feu, ton orgueil, tes fureurs,
Le mal, les préjugés, les rois, les empereurs !
Car la science en l'homme arrive la première.
Puis vient la liberté. Toute cette lumière,
C'est à toi comprends donc, et c'est toi qui l'éteins !
Les buts rêvés par toi sont par le livre atteints.
Le livre en ta pensée entre, il défait en elle
Les liens que l'erreur à la vérité mêle,
Car toute conscience est un noeud gordien.
Il est ton médecin, ton guide, ton gardien.
Ta haine, il la guérit ; ta démence, il te l'ôte.
Voilà ce que tu perds, hélas, et par ta faute !
Le livre est ta richesse à toi ! c'est le savoir,
Le droit, la vérité, la vertu, le devoir,
Le progrès, la raison dissipant tout délire.
Et tu détruis cela, toi !

- Je ne sais pas lire.

Amor virtual

Se eu morrer de repente..
Exausta, exaurida....  extenuada...
Quem saberá por que terá sido?
Quem terá uma noção exata?

Pensarão, é certo, que simplesmente...me excedi
Trabalhava demais... mal dormia  a exagerada!
Coitada.. não sabia priorizar, fazer planejamento!
- “A vida não é só trabalho!”
dizia-lhe o pai regularmente:
“ há família, saúde, lazer e casamento”...

Pra todo mundo menos ela
que teimava em viver apaixonadamente!

Não saberão nunca que o  que houve
Foi execução consentida, pactuada...
A vítima expunha-se, dava-se, oferecia-se 
O algoz, sensualmente, executava.
Ela dizia: - esfola!
Ele: - mata!
E numa compulsão desenfreada
Buscaram o desfecho extremo: ela jaz exangue, a vida exterminada.

Se eu morrer de repente ...
Saibam todos...
Terá sido de prazer exclusivamente
Terá sido de abandono e extravagância,
De entrega... extasiadamente!

E aqueles que me conheceram bem...
(deve haver dois ou três capazes de enxergar essa verdade)
Ao lerem essas palavras sorrirão disfarçadamente...
- “ela de fato era extraordinária!”.
O que não soube fazer na realidade
nem por isso não viveu.

Não morreria nunca de amor real? pois morreu de amor.... virtualmente”


Obs.: Encontrei esse poema em um velho computador.. Foi escrito em 2003 quando comecei a conhecer historias de romances virtuais.

Gravidade


Estava louca para ver. Adoro o espaço - ou a ideia que faço dele e filmes de ficçāo científica.
Bom, para começar, nāo sei se tudo que tem espaçonaves, astronautas e se passa no espaço, está contido nesse gênero. Eu achava que ficçāo cientifica fosse tudo que projetasse um futuro que ainda nāo conhecemos, com coisas e máquinas que ainda nāo foram feitas e ideias de cidades e guerras e pessoas de um jeito como o cineasta imaginasse para uma futuro mais ou menos remoto.
O fato é que, em Gravidade, tudo já me parece do nosso tempo: naves, roupas, estaçōes espaciais etc. Claro que o filme flerta com ficçōes tais como os inesqueciveis 2001 uma odisséia no espaço e Allien o oitavo passageiro. Tenho dúvidas se é um filme de ficçāo científica, ou se é um filme de açāo  e suspense (MUITA açāo e suspense) que se passa no espaço. Nem isso importa.
Acho que estou enrolando porque nao sei bem o que dizer. 
O filme é bonito? Lindo de morrer. Tem cenas absolutamente deslumbrantes como há muito eu nāo via.
O filme é de tirar o folego? Totalmente.Tanto ou mais que Allien. Fiquei muito, muito tensa
Os atores sāo bons? Ótimos
Você acredita no filme? Totalmente. A sensaçāo é o tempo todo de estar no espaco vivendo o que, principalmente ela, está vivendo. E imaginando se aguentaria.
Mereceu todos os prêmios que ganhou? Sem dúvida alguma.
Entāo qual é o problema?
O caso é que eu, ainda assim, esperava mais.
Acho que um pouco mais de filosofia em um enredo tāo propício a subjetividades, nao faria nenhum mal. Faria um contra ponto. Mesmo que o filme crescesse um pouco.
Sim, por trás de todos os sustos, tensōes, faltas de ar etc, o filme resvala em questōes que, para mim, fazem toda a diferença.
Gravidade definitivamente mostra o espaço e as andanças humanas por ele como algo muito, mas muito desconfortavel, um lugar onde nao gostariamos de estar e, aparentemente, muito perigoso.
Penso eu ( e o astronauta diz isso), viver na terra é muito perigoso também.
No entanto, temos quase todos uma pulsāo de vida, um força que achamos para viver e superar barreiras, um apego a estar nesse mundo que, no meu entender, pode ser comparado à força da gravidade, que nos liga e prende irremediavelmente à terra. 
O filme me sugere essa metáfora. É perigosissimo sair da gravidade, mas quem ama as pesquisas e o desconhecido é lançado para fora por uma força tao forte e inelutável quanto a gravidade. E, mais ainda, a gravidade puxa essas pessoas de volta. Nāo importa o que façamos da vida. A gravidade está no comando - ou uma força muito parecida com ela.
Além disso, me fez pensar muito no encontro com nossos limites. Nem todos temos essa oportunidade na vida, mas quem precisou olhar de frente suas possibilidades todas, sentiu a vontade imensa  de desistir, a auto preservaçāo mandando continuar, deve ter saído dessa muito mais enriquecido e forte.
Me fez avaliar nossa relaçāo com o silêncio -  o filme tem alguns bons diálogos sobre isso, e nossa capacidade de adaptaçāo.
Mas nada disso é explorado com um mínimo de profundidade. É tudo produto da minha visāo. Pouco ou nada nos leva a pensar que o diretor quis falar sobre isso.
Até os dialogos, que poderiam ser muito bons em momentos tao limite, sāo fracos. Sim, o diretor quis colocar um toque de humor, mas precisava ser aquele humor americano mais besta de todos? Será que foi isso que ficou faltando?
Nao sei direito ainda. Mas estou com um buraco. Trespassada por um pedaço de lixo espacial incandescente, sem conseguir reentrar na atmosfera. 
" Houston: às cegas e à deriva" 

O silêncio da idade




Quando a vida podia ser qualquer coisa,
Quando querer e poder eram separados apenas pelo tamanho da nossa resignaçāo
Quando os compromissos limitavam-se a bem poucos e podia-se ser um pouco louco
Nesse tempo tudo era um tédio e fantasiar, o único remédio

Deitar à noite e imaginar histórias
Tristes, absurdas, cheias de auto-piedade ou felicidade
Criar finais impossíveis, ousadamente belos, tragicamente desafortunados
ou ainda, cada noite voltar um pouquinho, numa infinita novela de capítulos apagados e refeitos na memória

Ah com que despudor fugia do mundo chato! Vivia aventuras impensáveis até para o cinema. Alucinava ser outra pessoa, naturalmente de quem eu gostasse mais.
Projetava meus desejos em roteiros surreais em uma sala vazia na qual faltava, inclusive, luz.
Fantasias sāo como vampiros: dormem de dia e à noite re-alimentam nossa imaginaçāo, com tudo aquilo que o inconsciente produz. 

Mas hoje, que a vida é sempre meio igual no que chamamos maturidade,
Que grandes mudanças exigem muito esforço e muita agilidade,
Que o futuro já nao é nem tāo longo nem tāo imprevisível
Que é feito da imaginaçāo e da irrealidade?
Que é feito do sono e da possibilidade do impossível?

Pois se é agora que preciso que me cravem os dentes
É agora que desejo à noite imagens irrresistíveis e tomadas cheias de efeitos,
Onde estāo minhas fantasias? Porque o escuro e minha mente se tornaram tāo silentes?
Por acaso também era fantasia o drácula que me guiaria pela eternidade?
Sendo esse pensamento o único que eu supunha ser verdade?