Fui assistir “Chico”. Obviamente o show de Chico Buarque que não por acaso se chama “Chico”.
A minha leitura é que nele e no disco de mesmo nome, Chico Buarque é para os íntimos, para os que o chamam de Chico, por convivência real ou por tietagem escancarada. Aqueles que sabem todas as suas músicas, que acompanham de perto sua trajetória, e por que não dizer, o amam de paixão.
Quer dizer: uma legião sem fim de fãs.
Como me encaixo nessa turma, daqui para a frente o tratarei por Chico. Com todo respeito.
Digo isso porque as músicas do disco novo são muito reveladoras de quem é Chico agora e as antigas, escolhidas para compor o show, não são as mais conhecidas, mas talvez as que ele gosta mais, tem mais prazer em cantar, revelem melhor sua versatilidade, enfim... nos mostrem “Chico”. A roupa preta, que sempre lhe cai tão bem, e a simplicidade de cenário e iluminação, terminam o recado: viemos ver e ouvir (muito mais ouvir) “Chico”.
O que parece (para quem o acompanha), é que Chico Buarque de Holanda, chegou a tal complexidade, que a riquíssima simplicidade com que se mostra hoje me parece ser a consequência de ter vivido 68 anos não desperdiçando uma só influência, um só papo, uma só revelação. É a consequência de ter estado atento, antenas captando sempre tudo, muitas vezes se autodestruindo na busca do que havia de importante e relevante à sua volta.
A minha leitura é que nele e no disco de mesmo nome, Chico Buarque é para os íntimos, para os que o chamam de Chico, por convivência real ou por tietagem escancarada. Aqueles que sabem todas as suas músicas, que acompanham de perto sua trajetória, e por que não dizer, o amam de paixão.
Quer dizer: uma legião sem fim de fãs.
Como me encaixo nessa turma, daqui para a frente o tratarei por Chico. Com todo respeito.
Digo isso porque as músicas do disco novo são muito reveladoras de quem é Chico agora e as antigas, escolhidas para compor o show, não são as mais conhecidas, mas talvez as que ele gosta mais, tem mais prazer em cantar, revelem melhor sua versatilidade, enfim... nos mostrem “Chico”. A roupa preta, que sempre lhe cai tão bem, e a simplicidade de cenário e iluminação, terminam o recado: viemos ver e ouvir (muito mais ouvir) “Chico”.
O que parece (para quem o acompanha), é que Chico Buarque de Holanda, chegou a tal complexidade, que a riquíssima simplicidade com que se mostra hoje me parece ser a consequência de ter vivido 68 anos não desperdiçando uma só influência, um só papo, uma só revelação. É a consequência de ter estado atento, antenas captando sempre tudo, muitas vezes se autodestruindo na busca do que havia de importante e relevante à sua volta.
Sim, porque Chico Buarque não é um acidente. Eu o definiria como um “espaço/tempo” em que tudo se misturou, e sua cabeça processou, redefiniu e ressignificou para, a partir daí, criar o que talvez haja de mais belo na nossa música. Chico foi nosso tradutor. Às vezes não sabíamos nem bem de quê, mas o entendíamos com a alma.
Chico é Pixinguinha, Cartola, Noel,Luiz Gonzaga,Dorival, Vinícius, Antônio Brasileiro (muuiiiitoooo Tom), João Gilberto, sua letrada e fascinante família, seus irmãos, os amigos dos seus pais, nossa... quanta gente mais. O Chico é a Marieta, suas filhas, seus netos.
Chico é a ditadura, a censura, o exílio.
Chico é os livros que leu, os que escreveu, as noites que imagino que não dormiu lutando com as palavras, a tietagem que o cerca, as mulheres que o amam, os homens que o odeiam.
Chico é as noites de boemia, o monte de uísque que tomou, os porres, os cigarros, talvez as drogas. As desavenças conjugais, as diferenças com os outros, as profundezas de sua solidão em Paris ou aqui, a capacidade imensa de conviver e ser gostado.
Chico é a simpatia, o sorriso, a empatia infinita sem a qual não falaria de putas, mulheres abandonadas, homens trabalhadores, gente humilde, marinheiros, mulheres de marinheiros, casamentos desfeitos de todas as formas, paixões e alegrias com tamanha carga emocional.
Não. Tenho certeza: Chico não é um acidente.
Tampouco é um acidente que, ainda por cima, tenha aqueles brilhantíssimos olhos verdes, que tenha até hoje aquele ar de menino tímido, que tropece no seu próprio charme.
Alguém o fez assim completo para que prestássemos atenção. Ele tinha coisas importantes a dizer. E aproveitou todos os seus dons. Não desperdiçou nada. Deu-nos tudo que tinha e deve ser por isso que hoje, mesmo aos 68 anos, seu semblante é pleno e feliz. Talvez seja o dever cumprido.
Me lembro que quando Caetano fez 50 anos, eu fui ao show e pensei: se ter 50 anos é isso, estar tão lindo, sereno e pleno, quero que os meus 50 cheguem logo. Não foi diferente com Chico Buarque. Mas hoje tenho certeza de que é preciso merecer essa plenitude e essa alegria. É preciso ter sofrido e trabalhado muito. Sofrido ao menos para se achar em meio a tantas freqüências diferentes.
Só acho que hoje, Chico poderia pensar melhor sobre o que representa. Quando diz em “Querido Diário” que pensou em ter uma religião, em sacrificar uma ovelha, ele adota o tom do ateu que sempre foi, mas que agora me parece equivocado.
Não sei se deveria pensar em ter uma religião mas simplesmente agradecer por ter sido escolhido como o cara que viveria, perceberia e decodificaria o propósito primeiro de tantos talentos, acontecimentos, alegrias e desventuras de uma linha de tempo muito maior que sua vida cronológica, e saberia misturá-los e transformá-los em pura emoção, daquelas que são capazes de nos fazer chorar um show inteiro.
Talvez só acender uma vela.
Fala muito mais alto quem fala ao coração.