sábado, 24 de setembro de 2011

Pretérito Perfeito

Eu achei que tivesse achado mas perdi
Tu  não achaste que tivesses achado, porque não estavas procurando
Ele não achou nada porque de nada soube
Nós achamos que tivéssemos achado uma alegria extra pra quem já tinha perdido toda
Vós, o dono e a voz, achastes que tudo seria simples e natural: vida que segue
Eles – os silêncios, acharam que tudo estava perdido:
a vida seguiria sim, mas perdendo -se um do outro: definitivamente

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Precisa-se para viver

 Precisa-se para viver


 De  beleza  para  deleitar os olhos
 De  música para sossegar os ouvidos
 De vinhos e chocolates para instigar o paladar
 De peles macias para acariciar
 De perfumes para inebriar todos os sentidos

Precisa-se para viver

De silêncio para a mente
De alegria para o espírito
De afeto para o coração
De energia para o corpo
De sonhos e palavras para atravessar a insônia

Precisa-se para viver

 
De gente que nos encante
De gente que nos defina
De gente que nos faça rir
De gente que nos dê a mão
De gente que nos espelhe sem nenhum pudor

Precisa-se para viver

De natureza pra nos sentirmos em casa
De bichos pra lembrar de que matéria somos feitos
De auroras para despertar esperanças
De sóis do meio dia para erradicar as sombras
De crepúsculos para saber que o ciclo se fechou

Precisa- se de tão pouco para viver.

Só de corpo, alma, espírito
Alimentados, cultivados, às vezes embriagados
Perto das pessoas que elegemos
Na casa de que cuidamos 
Atentos aos momentos que quase sempre estão certos, quase tudo em sintonia

Para viver, precisa-se de amor, prazer, e sempre, de uma cruel e imperceptível ironia

sábado, 17 de setembro de 2011

What if?

E se eu quisesse mudar de vida agora?
E se eu resolvesse ser feliz e despreocupada?
E se eu esquecesse que tenho uma doença e nem pensasse no que ela fará de mim?
E se eu pudesse amar o mundo todo e ninguém em especial?
E se os homens não mais resolvessem por mim?
Se eu me achasse maravilhosa e parasse de me desculpar?
Se eu aproveitasse cada minuto como se fosse o último e não tivesse medo do ridículo?
Se eu batesse a porta e saísse por aí com a tranqüilidade dos que nada devem?
Se eu assumisse minhas fragilidades e nem ligasse para o que pensa o mundo?
Se eu achasse que o amor não é tão complicado e pudesse me apaixonar mais facilmente?
E se eu não confundisse sexo com amor? Prazer e dor?
Se eu me danasse toda mas realizasse meus desejos?
Se parasse de achar que a vida é uma sucessão de obrigações e uma chatice?
Se eu aproveitasse as facilidades  que deus me deu sem culpa?
Se eu ficasse irreconhecível?
Se eu mudasse o visual e nem me importasse em parecer um pouco burra, um pouco fútil?
Se eu ficasse invisível? Ou virasse estátua na pose que me conviesse?
Se nunca mais eu esperasse um telefonema?
E se eu nunca mais esperasse nada que não dependesse de mim?
E se eu eu, finalmente, parasse de fingir?
Parasse de encenar?
Assumisse minhas fraudes?
Rasgasse minha alma e abrisse minhas feridas que ficariam cheias de moscas e infeccionariam?
Se eu quisesse purgar todas as mentiras pela pele? Pelo pus que dela sairia?
E se eu quisesse derreter? Virar uma poça de sangue e de fluidos corporais nojentos?
Se eu quisesse agora, me revirar, vomitar, botar todo meu nojo pra fora?
Se eu quisesse, eu não sei se poderia ou conseguiria
Mas o se, é sempre uma porta que não se fechou completamente.






sábado, 10 de setembro de 2011

Tem coisas que a gente adoraria ter escrito

Só hoje, vendo um post, é que me dei conta do quanto essa música é uma inspiração maravilhosa

Realce Gilberto Gil

Não se incomode
O que a gente pode, pode
O que a gente não pode, explodirá
A força é bruta
E a fonte da força é neutra
E de repente a gente poderá

Realce, realce
Quanto mais purpurina, melhor
Realce, realce
Com a cor do veludo
Com amor, com tudo
De real teor de beleza

Não se impaciente
O que a gente sente, sente
Ainda que não se tente, afetará
O afeto é fogo
E o modo do fogo é quente
E de repente a gente queimará

Realce, realce

Quanto mais parafina, melhor
Realce, realce
Com a cor do veludo
Com amor, com tudo
De real teor de beleza

Realce, realce

Não desespere
Quando a vida fere, fere
E nenhum mágico interferirá
Se a vida fere
Como a sensação do brilho
De repente a gente brilhará

Realce, realce
Quanto mais serpentina, melhor
Realce, realce
Com a cor do veludo
Com amor, com tudo
De real teor de beleza



Ainda por cima é aninadíssima e altíssimo astral. Quem brilhou, brilhou. Quem não, talvez venha a brilhar! Mesmo que sem brilho haha
Cantem bem alto no link

http://youtu.be/WLGyrsHe0eg

Lava  a ALMA!

A minha paz - uma ousadia não prevista

Nunca pensei que pudesse me aventurar e ainda por cima publicar, algo de que tenho vergonha e que talvez nunca venha a me perdoar. Mas que que eu faço se meus caminhos se enovelam se misturam, se emaranham e viram  um nó indesatável? Hoje descobri com todas as letras que sou extremamente corajosa. Repassei minha vida quase inteira e vi um milhão de erros, só não encontrei covardia.
E vou provar isso, publicando uma "poesia" (desculpem-me os poetas)  que cometi em 10 minutos. Sei que é tola - conheço muito as boas poesias, Mas saiu de mim e, portanto, não pode estar tão errada assim. Acho que os amigos, por mais que riam baixinho, me perdoarão:

A Minha Paz


A paz que habita em mim sentiu um frio, um arrepio
A paz que costumava andar por aqui é um passarinho alegre que parou de  cantar
De um lado para o outro na gaiola, assustado...
Pressente um gato?

Providencio às pressas, água, comida, carinho
Leio em voz alta poemas lindos de muitos poetas maiores, na  esperança de que sábias palavras o tranquilizem e voltemos a descansar.
Inútil. 
Pressinto, eu também,e não sem estremecer, que é das minhas palavras que ele precisa agora.
Afago meu passarinho como uma mãe que extraiu de si esse filho,que levou a vida toda pra nascer.
Esse cantorzinho que é frágil, peninhas suaves, inseguro e trêmulo
é a minha paz, a minha frágil e trêmula paz. Sempre por tão pouco ameaçada.

Curioso destino:
Me cabe salvar essa criaturrinha que agoniza na fria noite, sob meu úmido e desesperado olhar
E receio que só tenha um jeito: apostar.
Soltá-la no mundo, aos perigos, às estranhezas, perdas, desilusões e estranhamentos
Saberei assim se essa paz é minha mesmo ou foi inventada.  Como saberia  se é tão protegida e enclausurada.?
Aperta-me o peito.
Se morrer,  meu passarinho não me salvaria nem eu a ele e a ilusão seria  inútil
Se viver, não precisaremos mais de gaiolas.
Passeiem gatos tristes ou alegres, passeiem momentos indizíveis, passeiem sonhos irrealizados, passeie a vida
Porque nunca mais nos separaremos, e como grandes e velhos amigos, nos cuidaremos até morrer.
Coragem para resolver.









domingo, 4 de setembro de 2011

Eu estou de saco cheio



Cansei. Não tenho mais saco. Estou porrrr aqui.
Até bem pouco tempo, me interessava e queria saber de tudo que ia pelo mundo.
Haja! Quero que se exploda.
Meio ponto na taxa selic e a TV só fala disso, as bolsas ficam loucas, economistas discutem veementemente: “foi precipitado”, “foi pressão política”! Não dou a mínima nem entendo nada. A inflação vai disparar, perdemos o controle.
O futuro do mundo árabe? Deus! Sei que isso é do interesse do mundo, mas a gente sabe que uns poucos vão resolver o que bem lhes aprouver então: eu é que vou me preocupar?
O Brasil vai crescer menos 0,5% do que se esperava. Pô! Mas o Brasil não era a bola da vez? Não encabeçava a sigla BRIC? Os BRICs não estão crescendo a taxas imensas? Menos nós? Ah cansei de esperar que chegue esse dia.
E também 0,5%, cá pra nós, não é para o ministro e a presidenta descontenta ficarem na nossa frente na TV horas a fio.
E por aí vai. Não entendo, não quero entender e tenho raiva de quem entende. De um lado nunca se consumiu tanto, nunca teve tanto emprego e de outro o PIB dá prá trás. Azar o dele.
E a corrupção? Não dá nem pra falar... eca. Salário do judiciário... eca.
Não quero mais saber de nada. Viva o Tele Cine Cult. Alienei-me. Só quero ver filmes e ouvir piadas de gente engraçada. Sou café com leite. Tô de altos.
Onde está Kadafi? Sei lá, vai perguntar pra mim?
E os 10 anos do nine/eleven? Quem agüenta mais? Esse Bin Laden fez dois serviços: planejou o maior ato terrorista de todos os tempos e nos condenou a nunca mais parar de ouvir falar disso.
Que mundo sacal e hipócrita. E a imprensa se achando. Pensando que pode analisar fatos. Que tem as informações confiáveis. Tem nada. Quem tem não conta.
Hoje uma amiga que amo, postou no FB uma matéria do Estadão que ela julgou ótima sobre a ética do capitalismo. Desculpa Alice, mas nem abri. Capitalismo lá tem ética? Invade países, mata milhões, faz e desfaz em nome de mercados sem pensar um minuto nas pessoas e vem me falar de ética?
Agora a China quer comprar um pedaço da Islândia! Alooooooou!!! Já ouviram falar em negócio da China?
Sustentabilidade, ecologia, democracia, direitos humanos... tudo isso me encheu total.
Peguei meus dois jornais de domingo na porta, me deu esse entojo só de ler as manchetes, vim aqui escrever e assim que acabar vou separar as coisas amenas e compreensíveis e para o lixo com essa encheção da recessão americana. Só eles é que não sabiam? Até eu sabia que do jeito como as coisas iam não acabaria de outra forma. Danem-se. Eles e nós que vamos afundar junto. Mas não já estamos afundados mesmo?
Para terminar, farei uma confissão que alguns mais chegados já sabem e agora contarei para o mundo. Pode todo mundo rir e dizer que sou louca, não me importo: assunto chato sobre qualquer coisa na TV, só quando tiver o William Waack, ou seja, Jornal da Globo e Globo News Painel. Só.
Sou apaixonada por ele. Engulo qualquer assunto só para ver aquela covinha no queixo e as mãos quando é Globo News Painel e elas aparecem muito bem. Alice, para de rir ou conto seu astronômico segredo.
Por falar nisso, ontem no GNP teve um debate sobre o futuro da Líbia – insuportável, mas com “ele” vá lá. E aqueles cientistas políticos todos empertigados e cheios de uma retórica irritante, dizendo que vai demorar muito até a Líbia se configurar como estado democrático, onde os cidadãos comecem a refletir, a se expressar e a fazer valer sua vontade e construir seu futuro. Vem cá, onde é que tem isso? Nem no ocidente e estão esperando na Líbia? A pessoa pra ouvir isso tem que ter muita paciência.
Voltando ao William que é o que interessa: ainda tem aquele ar superior e desapaixonado que lhe confere um charme que me faz sonhar.
Com ou sem as grosserias que lhe atribuem, com ou sem gafes, trocando ou não Melo por Merda, com Iris ou sem Iris, de preferência sem Fabiana...
Só o William Waack me conecta com o mundo. Estou por um fio. E que fio!

Extra extra! deu no VAM NEWS que o fim do mundo previsto para 2012 foi adiado no Rio de Janeiro por falta de estrutura para abrigar um evento desse porte. Houve quem dissesse que eles podiam ter aproveitado as instalações da cidade do rock, que faltou foi vontade política. Esse assunto ainda está sendo investigado pelo MP e a PF. Onde foi parar a verba destinada ao fim do mundo?

sábado, 3 de setembro de 2011

Escolhas

Acabei de assistir um ótimo filme – Paris Vive à Noite que, diga-se de passagem, deve ser visto por todos aqueles que gostam de jazz, excelentes atuações e a presença de grandes músicos.
Paris Vive à Noite, talvez tenha sido feito com a intenção de ser um ótimo entretenimento, ao mesmo tempo em que revive (ou conta), algumas facetas de uma época de grandes questionamentos – o existencialismo, o racismo entre outros, e como os grupos se formavam, viviam e se divertiam – nesse caso, os músicos e as intelectualidades. Em outras palavras: o  documento de uma época, misturado com uma ficção que conduz a narrativa.
Nada além de um bom filme, não fosse eu sempre ser fisgada e começar a sofrer como um peixe no anzol, quando qualquer coisa – filmes, livros, conversas etc., me remetem aos vastos, obscuros e solitários caminhos das escolhas.
Não vou contar o filme, mas justamente o conflito “por trás” do documento e que prende o espectador, são as escolhas de dois jovens músicos americanos em Paris.
Ficar na cidade e estudar música seriamente e obsessivamente para descobrirem a dimensão real dos seus potenciais e talentos, ou seguirem as garotas que amam e deixar a música como está. Boa mas não grandiosa?
Sei muito bem que não tem certo ou errado. Que só lá na frente, dependendo do que aconteça, eles saberão.
Minhoca suficientemente grande para por em marcha meus pensamentos sobre o assunto.
Que a vida é uma sucessão de escolhas, disso já sabemos e de tanto ser repetido, já perdeu a força e a capacidade de se tomar esse fato como o “mais sério” das nossas vaidosas e breves existências.
Quando jovens, vamos fazendo nossas escolhas quase sempre baseados em visões de curto ou no máximo médio prazos. Vamos percorrendo nossos caminhos ou abrindo nossas trilhas do jeito que podemos, na medida das nossas forças, das oportunidades que surgem, do tamanho do ego que nos conduz, de acordo com nossas histórias, do que herdamos física e culturalmente, do tamanho da nossa auto-estima, coragem, sensatez, autoconhecimento, enfim...de tal forma que, quando mais velhos, possamos nos perdoar dizendo: “fiz o melhor que podia naquele momento, não posso me cobrar nada diferente.”.
É importante o auto perdão mas nem de longe ele apaga a sensação ou a certeza de não ter feito as melhores escolhas.
Às vezes essas escolhas mal feitas aparecem pontualmente – “devia ter estudado jornalismo e não matemática”, outras vezes, aparecem como uma sensação de mal estar geral, indefinido, amargo, sem solução aparente.
Outro dia li o relato de um psicanalista, dizendo que boa parte dos pacientes chega ao consultório desejando que o passado tenha sido melhor. Como entendo isso! E como sei que esse desejo é só fruto das escolhas que fizemos lá atrás.
Mas nada dessas reflexões têm sentido, se não me levarem a refletir sobre o que é que se faz quando, na segunda metade da vida (otimistamente), uma pessoa descobre que, no geral, suas escolhas não a conduziram a uma vida satisfatória (nem emocional, nem financeiramente) e, sobretudo, não realizou seus potenciais, nem a maioria de suas fantasias (sim, porque não se pode chamar de sonhoo algo pelo qual não se lutou. Sonho sem ação é puro delírio) e que, até mesmo muitas escolhas, foram na direção justamente oposta.
Falar em auto sabotagem, tendência patológica ao sofrimento ou qualquer coisa inconsciente, a essa altura tem muito pouco ou nada a acrescentar.
Querer que o passado seja melhor, também não.
A questão central é: o que fazer com essa realidade e com a incompetência de fazer escolhas?
A realidade está aí, mas a incompetência para fazer escolhas é o que?
Isso me fez lembrar a mãe muito sagaz de uma grande amiga que, lá pelos meus 16 anos disse: “A Cláudia compra relógios caríssimos e diz que não tem dinheiro para fazer análise”. Ela sabia que eu já era uma adolescente atormentada e detectava claramente minhas escolhas: relógios sim. Qualquer esforço para melhorar minha então frágil e insegura cabecinha, não.
A incompetência passa por não saber prever os efeitos das escolhas?
Pela preguiça de fazer as escolhas mais trabalhosas?
Pela falta de autoconhecimento?
Pela confiança no acaso que sempre haverá de nos proteger?
Pela arrogância e prepotência?
Por não saber discernir o que é importante do que não é?
Pela bagunça mental?
Pelo espírito de jogador?
Pela falta de compromisso?
Pelo descaso com a dor?
Pela crença de que nada faz qualquer diferença?
Eu não sabia no que esse texto ia dar. Não comecei com a conclusão pronta, e agora penso que acabei de achar o que estava procurando: por anos a fio, a última pergunta pautou minhas escolhas e não escolhas. Agora vejo.
Tanto fazia como tudo terminaria.
Ser feliz, infeliz, rir ou chorar, morrer pobre ou rica, ter amigos ou ser sozinha, ter ou não filhos, ter família por perto ou estar na mais completa solidão, correr mundo ou jamais sair de casa. Nenhuma diferença. Apenas finais diferentes para o absurdo a que todos chamamos vida e à qual, o valor que eu dava era, nem mais nem menos, o valor de alguém ter me posto no mundo e haver um tempo a estar aqui, sem saber direito para quê.
Foi esse o meu erro.
Avaliei mal.
Hoje quero tudo que antes não fazia diferença. Hoje tudo faz diferença.
Quero a plenitude, a fartura de tudo que é bom, quero amor, família, amigos, cheiro de café e bolo, de mato, de perfumes intrigantes. Minhas primas, meus irmãos, meus pais, um trabalho que eu goste muito, férias inesquecíveis, mares paradisíacos, muitos filmes, livros, divertimentos sem fim. Muitas gargalhadas, poucas lágrimas e só as dores inevitáveis.
Não plantei isso lá atrás. Não fiz as escolhas que me levariam a essas colheitas. Não tenho o direito de lamentar.
Mas, como diria meu pai se lesse isso, o jogo não acabou e, no futebol como na vida em um minuto pode-se virar o placar.
Peço então, a sabedoria de, aos 45 do segundo tempo, descobrir que estratégia me fará virar esse jogo.
Viva “Paris Vive à Noite”, que ainda nos dá de brinde, a nós mulheres, a visão onírica do Paul Newman jovem e maravilhoso.