quinta-feira, 24 de março de 2011

A importância de conviver

Não tenho mais dúvidas. É a convivência que fortalece as relações e constrói laços muito difíceis de desfazer. Podem ser laços de amor, de amizade, ou até de algum sentimento sem nome. O fato é que, ainda que tenha havido brigas e desentendimentos com quem você conviveu, ainda que você pense que aquela relação morreu e os dois estão impregnados de ressentimentos, na hora H é com essas pessoas que você pode contar e são as que, de fato, vão se importar com você sem fazer julgamentos, sem se importar se sua mão está torta, sem medo de ver você chorar, sem levar em conta que elas acabaram de chegar e você quer ir dormir.
Chamo de conviver o dormir e acordar junto. O estar presente nos mínimos acontecimentos da vida, o passar junto situações diversas – fáceis e difíceis, o brigar, o se desentender e depois perdoar, o estar perto mesmo que seja a coisa mais banal do mundo.
Dizem que o que importa para os relacionamentos não é a quantidade de tempo que você passa junto, mas a qualidade. Inclusive com os filhos. Não concordo com isso. A quantidade conta muito também.
Nunca se pode prever quando uma coisa importante vai acontecer ou ser dita num relacionamento. Daí, quanto mais tempo se passa junto, maior a probabilidade de se viver e dividir momentos importantes e, muitas vezes, definitivos.
Quando sua filha vai dividir um sentimento importante para ela? Não tem hora marcada. Pode ser no café da manhã, pode ser quando uma está fazendo xixi e a outra se maquiando na frente do espelho, pode ser durante um jogo domingo à tarde ou uma andada no shopping. E isso só é possível se houver quantidade de tempo juntas.
Marido, namorado, amigos, a mesma coisa. Nem vou falar da família porque essa é a maior convivência de todo mundo e, salvo famílias muito desestruturadas, ela é, em geral, o grande esteio que temos na vida. Pai, mãe, irmãos, primos, sobrinhos. Esses são quase extensões da gente e é quase sempre vital sua participação nas nossas vidas.
Digo isso porque agora que estou doente, está ficando muito claro. Quem está sempre presente, liga todo dia, vem me visitar sempre, tenta ajudar o tempo todo, além da família que é incansável? Meu ex-marido e os amigos da vida toda.
Com o ex, embora tenhamos tido todo desentendimento do mundo, embora tenhamos mágoas que talvez nunca se apaguem, fica claro para os dois (sem que se precise dizer) que o problema atual é mais importante e requer atenção. Pode ser que quando tudo isso passar, voltemos ao padrão antigo (de quase nunca ver nem conversar), mas por hora é no meu bem estar que estamos focados. Se fosse com ele eu me comportaria da mesma forma.
Com os amigos a mesma coisa. De que vidas você, no fundo, faz parte? Da das pessoas com quem conviveu, das vidas em que sempre esteve presente. Pode ser por longuíssima duração ou por intensidade (muito em pouco tempo). Não importa, mas só dá para ser assim com quem você conviveu muito. Esse carinho fica lá, escondido muitas vezes, mas o tempo e/ou a intensidade o construiram e ele se revela quando é importante.
Descobri também, que sinto um imenso amor pela filha do meu ex-marido, nascida do primeiro casamento. Um amor de mãe mesmo. Porque a vi crescer. Porque convivemos muitos anos e dividimos os momentos mais banais – desde as brigas até o contar histórias para ela dormir e tomar banho sem reclamar. Não nos vemos muito agora, mas ela está passando por problemas e sabe que pode contar comigo. Sinto um enorme amor e isso me faz estar ao lado dela mesmo não fazendo mais parte da minha vida cotidiana.
Me dando conta desse amor que sinto por ela, é que percebi o quanto é possível amar plenamente um filho adotado. Exatamente porque é a convivência que faz brotar esse amor. Não faz a menor diferença se é seu filho biológico ou não.
A mesma coisa se dá com os amigos com os quais você conviveu muito na escola ou no trabalho. Passaram juntos por situações de “desespero”, prazos e metas inalcançáveis, períodos de saco cheio conjunto, problemas pessoais divididos em sala de aula ou no almoço do trabalho. Risos, lágrimas, aniversários, almoço diário. Isso é conviver e a mim me parece que a convivência vai tecendo uma trama invisível, mas muito poderosa que se manifesta nos momentos cruciais das nossas vidas.
Não que as pessoas com quem você não teve a oportunidade de conviver, mas admira, acha muito legais e gosta muito, também não possam gostar muito de você e fazer muita diferença na sua vida. Mas, certamente, uma diferença de outra ordem, de outra dimensão.
O chato de ter isso tão claro, é que aos 54 anos, não dá tempo de conviver muito com mais ninguém. Quem tinha que fazer parte da sua vida já faz e os outros relacionamentos podem ser muito importantes mas, necessariamente, menos profundos, sem esse conhecimento mútuo quase total, sem ser “da família” por assim dizer.
Uma pena. Acho que essa é a única coisa que lamento com relação à idade. A impossibilidade de novas e longas convivências.

domingo, 20 de março de 2011

Gafe Total

Não sei de onde tirei ontem que a caixinha de surpresas vinha do nosso querido João Saldanha. Acho que foi o sono porque hoje quando reli, aquilo me pareceu muito estranho.
"De onde tirei isso se não tenho a mínima ideia de quem disse essa frase? ", pensei.
Fui ao google e deixo aqui registrada a correção: quem disse que o futebol é uma caixinha de surpresas foi o radialista Benjamin Wright (1919-2000).
"Wright eve uma longa trajetória no rádio. Atuou na Rádio Nacional em seus primórdios, onde tentou a carreira como cantor. Seu nome artístico era Ben Wright. Segundo um de seus filhos, o ex-árbitro José Roberto Wright, “ele tinha voz semelhante ao (cantor americano) Bing Crosby”.
A carreira como cantor foi deixada de lado na década de 50, quando Wright mergulhou no jornalismo esportivo. Trabalhou na Rádio Continental e depois na Globo. Segundo sua outra filha, Ana Maria, cobriu seis Copas, entre 1950 e 1970. Foi comentarista de futebol e de arbitragem.
 “O futebol é uma caixinha de surpresas” é uma frase tão boa que passou a ser usada de forma indiscriminada na explicação de “fenômenos” ocorridos dentro e fora do campo. O uso excessivo “gastou” a expressão, banalizando-a, tornando-a sinônimo de falta de originalidade."


Perdão pelo erro. Não tem nada pior que informação errada.

sábado, 19 de março de 2011

Uma rapidinha antes de dormir


Tenho que contar: ontem o meu jogo de tarot "falou" que eu estava em  um momento de me dar muito prazer, de aproveitar a vida social, que o momento era favorável a festas, encontros inesperados e tudo mais que pode ser impensável para quem está doente e não sai de casa nunca.
Pensei: “seu traidor, foi só elogiar publicamente os oráculos e você me vem com essa enorme bobagem!”
Acreditem se quiserem: ontem teve praticamente uma festa aqui em casa – veio um monte de gente do trabalho trazendo iguarias para comermos e muita animação. Ouvimos música, rimos muito, conversamos até muito tarde.
Hoje o telefone não parou e recebi uma visita totalmente inesperada de um grande amigo que não via há séculos e que soube que eu estava doente.
Trouxe flores e de novo, parece que não passou um segundo desde a última vez que nos vimos. Papo animadíssimo desde o primeiro momento. Tomei até cerveja...coisa que eu nem podia supor  com minha mãozinha paralítica rsrsr, Chegou umas 9 horas e saiu quase agora. Uma delícia.
Amanhã chega minha grande amiga de Sampa e teremos pela frente um fim de semana maravilhoso tenho certeza.
Agora me digam: o oráculo estava errado?
Tive ou não  tive muito prazer? E as festas? E a vida social?
Ah...vamos falar sério...não duvidemos de nada!
João Saldanha é que estava certo...a vida é uma caixinha de surpresas – ou seria o futebol?
Só que às vezes  só as cartas sabem disso.

sexta-feira, 18 de março de 2011

De médico e de louco

Poucas facas de dois gumes me parecem tão afiadas para o bem e para o mal quanto o acesso quase ilimitado das pessoas a qualquer tipo de informação.
Não preciso nem dizer o quanto acho sensacional que a informação possa fazer parte do patrimônio do maior número de seres possível: informação é poder, é capacidade de decidir melhor, minimizar erros desnecessários, tornar as pessoas mais iguais enfim, as vantagens são infinitas.
Por outro lado, tenho observado muito “a fala” das pessoas informadas e é impressionante a quantidade de rótulos apressados que se coloca em quem quer que seja com base no muito pouco ou quase nada que se sabe.
Tenho escutado pessoas afirmarem, sem a menor cerimônia, que fulano é autista. Filhos chamando os pais de bipolares. Qualquer um mais “colecionador” tem transtorno obsessivo compulsivo, que o colega ao lado é claramente um psicopata, enfim, a doença mental virou uma espécie de adjetivo tão normal quanto ser feio, bonito, alto ou gordo. Pessoas enxergam o interior umas das outras com a mesma facilidade com que enxergam a roupa que estão usando.
Não sei bem o que isso quer dizer, mas tenho ficado um tanto chocada, confesso. Mais ainda quando é a própria pessoa falando dela mesma, se diagnosticando e se conferindo essas espécies de “desculpas” para agirem como agem ou para encerrar qualquer questão: sou autista, o que se há de fazer? Deficit de atenção então virou a coisa mais corriqueira do mundo e serve para crianças e adultos com a maior naturalidade, e tome ritalina.
Essas as que me lembro assim mais imediatamente por mais citadas, mas o número de transtornos, compulsões etc. não tem fim.
Se a gente sabe que “de perto ninguém é normal” e que o conceito de “normalidade” já foi há muito extinto do rol das possibilidades humanas, por que é preciso dar nome e sobrenome a todos as diferenças que encontramos?
Quando ouço que alguém é autista, a imagem que se forma na minha cabeça é a da clássica criança se balançando, inteiramente alheia ao mundo e sem acesso possível, irritada e agressiva por qualquer rompimento com as rotinas e padrões que lhe são familiares, com grande dificuldade de entendimento de metáforas e sem a menor possibilidade de criar vínculos.
Sei também, que esta é a forma mais severa da doença e que hoje já se sabe que a maioria delas abrange todo um espectro, isto é, vão desde formas muito brandas quase imperceptíveis até as muito severas, sem que, contudo, deixem de ser a doença.
Em que pese o fato de, mesmo em sua forma mais suave, a doença poder atrapalhar muito a vida de uma pessoa e fazê-la lutar e sofrer mais do que seria preciso, não consigo ver nenhuma vantagem na banalização crescente da doença mental. Quem tem uma pessoa querida com uma grave doença mental sabe o quanto é doloroso e sofrido conviver e aceitar.
Lembro-me de um livro que li há algum tempo, chamado Síndromes Silenciosas, de John Ratey e Catherine Jonhson, em que os autores relatam inúmeros casos de formas brandas de diversas doenças que, por passarem despercebidas, levam as pessoas a viver muito mal e sem tratamento, já que não diagnosticadas. A pessoa fica sendo o “esquisitão”, acha que aquilo é sua “personalidade” e vai vivendo sem saber que poderia ser muito mais feliz e desenvolver muito mais seus reais potenciais caso fosse tratada.
Assim, um homem muito inteligente, que só se dedica ao trabalho, que é incapaz de estabelecer laços afetivos e é muito apegado às suas rotinas, é sim, uma forma branda de autismo que o faz perder muitas coisas boas da vida.
Uma dona de casa pessimista e mal humorada, não sabe, mas está deprimida de uma forma suave e carrega um fardo maior do que quem não está deprimido.
Aí entra o outro lado da faca. Ter a informação, saber que existem síndromes que se arrastam pela vida afora e que talvez só o fato de fazer exercícios já melhorasse muito, evitaria grande parte de sofrimentos desnecessários. Saber isso e não temer o diagnóstico, só faria bem.
Nas minhas pesquisas sobre o autismo, por exemplo, descobri que, em sua forma mais suave, nem se chama autismo e sim síndrome ou desordem de Asperger. Fiz essa pesquisa porque o rótulo de autista é o que mais tenho ouvido assim indistintamente. E tenho ficado tão impressionada que resolvi buscar alguma coisa para tentar compreender.
O problema é que as pessoas se referem umas às outras ou a si mesmas, como se não houvesse pesos e medidas. O peso da doença é sempre o mesmo para todos aqueles que são rotulados. Todos se acham ou médicos psiquiatras ou loucos, ou os dois ao mesmo tempo. Tornou-se quase impossível não ter uma doença mental. Tornou-se moderno e banal.
O que eu acho é que isso esconde uma total desqualificação e indiferença pelo sofrimento alheio, misturado com uma necessidade de ter bons motivos para justificar eventuais fracassos ou comportamentos inadequados, em um mundo onde ter sucesso significa ser perfeito, jovem, bonito, saber ganhar dinheiro e ter muitas coisas. E ainda, quem sabe, um reforço para a teoria de que relacionamentos não merecem mesmo ser muito aprofundados, pois no fundo todo mundo é desequilibrado e incapaz de nos proporcionar a tão almejada felicidade. Felicidade esta que ninguém sabe direito o que significa, mas que todo mundo intui  estar fora do alcance da nossa imperfeita humanidade.
Mais vale uma boa doença.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Oráculos - parte 2

Já está mais que batida a história da minha depressão e o mal estar que sinto diante da vida em muitos e muitos momentos. Não se  assustem porque não é disso que vou falar.
Os anti-depressivos têm dado conta do recado e estou me sentindo ótima.
Prometi falar dos oráculos.
Em novembro de 2009, eu estava medicada, mas atravancada com uma porção de repetições de comportamentos e atitudes na minha vida que eu sentia se fechando em termos de possibilidades. Claro que tinha consciência de que quem estava se fechando era eu. A vida é só um reflexo.  E também, é claro que não tenho a crença nem a  ilusão de que remédios resolvam neuroses, conflitos internos, comportamentos sabotadores. No  máximo nos munem  de alguma alegria de viver que nos dá forças para querer lutar por uma vida melhor, mais rica, mais em paz.
Nesse novembro, resolvi definitivamente correr atrás da “cura”de certos padrões que me atrapalhavam muito a vida.
Resolvi voltar para a psicanálise mas, pela primeira vez na vida, de uma forma muito focada. Já fiz vários períodos grandes de análise mas nunca com a determinação de resolver tais e tais assuntos. Foi assim dessa vez. Sabia do que queria me livrar.
Quem conhece o processo, sabe que tudo está embaralhado e que não é tão fácil separar assuntos, mas sigo tentando não perder o foco e acho, honestamente, que tenho melhorado naquilo que era meu propósito inicial.
O curioso, é que nesse período comecei a escrever esse blog  descompromissadamente e ele também tem me ajudado a organizar meus pensamentos e a não trapacear. O único compromisso que queria ter era o de, até onde eu tivesse consciência, falar a verdade.,
Assim pensando, indo para a terapia e escrevendo, me dei conta de que queria mais. Mais material para refletir, novas idéias para cruzar com minhas conclusões, novos horizontes.
De uma forma totalmente “casual”e “acidental”, tomei conhecimento do Avatar, um método de expansão da consciência e fortalecimento da vontade, desenvolvido por um americano, que me foi apresentado por uma amiga de infância. Caiu como  uma luva no meu “momento”. Sempre acreditei que a consciência é mais do que percebemos e que devem existir vários estágios.  Só não tinha idéia de como trabalhar isso. Fiz a primeira fase aqui no Rio e estava pronta para ir  para Orlando fazer as 2 fases restantes quando meu problema neurológico apareceu – uma semana antes de viajar.
Em outro post, outra hora, falarei sobre o Avatar, mas não é nele que quero me deter agora. Só preciso dizer que a fase 1 que cheguei a fazer, fez muita diferença.
Nessa altura, eu já estava também curiosa para consultar os astros. Já fiz mais de um mapa astral, mas não de posse do que sei hoje e nem de longe com o olhar que poderia lançar sobre eles agora, aos 54 anos.
Mas mapa astral custa caro com um bom astrólogo e qual não foi minha surpresa quando minha querida amiga Cristina (aquela que me apresentou o I Ching) me garantiu que os mapas do site Personare eram muito bons – ela que frequenta os melhores astrólogos do Rio. E é baratíssimo.
Doente, frustrada pela viagem que não de realizou, claro que me atraquei com os astros do Personare, em busca de respostas e o que mais pudesse vir. Fascinante! Me reconheci em cada linha e ainda hoje o estudo para entender as entrelinhas, saber o que tenho que fazer para melhorar e me conhecer mais. É uma ferramenta poderosa. Fiz também a revolução solar para esse ano e fiquei estarrecida com a clareza com que apareciam todos os projetos de vida que eu já tinha pensado antes. Conclusão: os astros me dizem que as possibilidades existem, basta saber aproveitá-las e ainda dá dicas de como agir para aproveitar as oportunidades e evitar os riscos.
Não sei se já falei aqui que não tenho o menor interesse em saber nada sobre o futuro. Rejeito tudo que, ainda que de leve, tenha a pretensão de fazer previsões do  tipo: esse ano você vai casar, ganhar muito dinheiro etc. Gosto daquilo que me aponta mais sobre quem sou, o que não estou vendo e quais são os pontos mais favoráveis para o período. A astrologia do Personare é exatamente isso, tendo ainda a vantagem de ter uma linguagem super gostosa e compreensível para todos.
Claro que quanto mais bagagem você tem sobre como você é, quanto mais você se conhece, mais você poderá aproveitar o seu mapa, juntando com coisas que já conhece, assuntos sobre os quais já refletiu e assim, poder obter o ganho máximo.
Uma vez iniciado o processo, ele não tem fim. O site oferece um serviço gratuito de  aconselhamento para o dia através de um jogo de tarot. Tinha I Ching mas não tem mais, uma pena.
Como já tinha a visão Junguiana sobre os oráculos que comentei na parte 1, comecei a me concentrar muito no meu dia – todos os dias pela manhã, e a fazer meu jogo diário.
É impressionante!!! Estou temporariamente ( eu espero) com uma limitação, há 3 semanas jogo todos os dias e NUNCA houve um aconselhamento que não tivesse tudo a ver com meu momento. As palavras que aparecem são de uma precisão de perder o fôlego: paciência, resignação, estagnação, perda, quietude...não teria fim essa lista.E cada carta “sorteada”como conselheira, vem com uma interpretação, fala não só do momento mas de você também e ajuda a refletir e entender tudo melhor.

Repito que é o acúmulo de conhecimento que faz a coisa toda se tornar mais rica e conseguir ampliar cada vez mais nossa consciência sobre nós mesmos, o mundo, os fatos que nos acontecem, enfim, sobre a vida.
E também é preciso muita honestidade com você mesmo, a disposição ilimitada para a verdade – muitas vezes doída, determinação para não trapacear (só se pode consultar as cartas uma vez), e, acima de tudo, estar fascinado pelo processo, com disposição para largar tudo que não serve mais (se é que um dia serviu), com vontade de se desfazer de você se for preciso, eliminar apegos, vaidades, se colocar do avesso, de cabeça para baixo, experimentar...finalmente, renascer.
O que quero dizer? Que oráculos são um assunto muito sério se você quiser e muito divertido se for essa a sua intenção.
Em qualquer caso, vale a pena.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Oráculos - parte 1

Vou me atrever a escrever um texto mais longo.
Primeiro, porque entendi que nada vai acontecer se eu não tentar melhorar minhas habilidades com o cérebro que Deus me deu (ele sempre descobre novos caminhos e isso é fascinante).
Segundo, porque estou sem energia em casa e acabo de descobrir que isso é mais paralisante que uma simples mão direita que não se mexe. Nada de TV, nada de internet, telefone fixo, ar refrigerado... enfim. Idade da pedra total.
Ocorreu-me, então, falar um pouco sobre oráculos já que eles têm feito parte da minha vida nas últimas semanas – isso enquanto a bateria do computador agüentar, claro.
Na década de 80, quando o pensamento oriental “invadiu” a praia da forma de ver ocidental e todo seu rigor científico, sobretudo pelo novo posicionamento dos físicos diante da física quântica, fui apresentada, por uma querida amiga que sempre gostou dos mistérios escondidos nas antigas civilizações, seus filósofos, profetas, estudiosos dos astros e tudo o mais que fugisse ao nosso pensamento - senão tacanha, pelo menos muito limitado, de causa e efeito, ao maravilhoso livro das mutações – o I Ching.
Deixe estar que eu já estava muito atrasada. Richard Wilhelm, grande estudioso dos originais em chinês do I Ching, editou a primeira tradução em  alemão em 1956 (antes de eu nascer) e já tinha pedido a Jung que escrevesse o prefácio.
Richard estava convencido de que era preciso aproximar a sabedoria chinesa do ocidente e, muito amigo que era de Jung (queria ter sido uma mosca para presenciar as discussões dos dois que devem ter sido riquíssimas), não poderia ter escolhido melhor cabeça ocidental para prefaciar sua obra de anos de estudo. O prefácio de Jung é um primor e foi escrito em... 1949!
Nele, Jung nos conta que já vinha usando o I Ching como forma de exploração do inconsciente (como ele não sabia chinês, precisava muito dos estudos de Richard), baseado no fato que vou tentar resumir para quem não está familiarizado:
O que ele diz, é que todo momento da nossa vida é único e tudo que acontece nesse momento está em sincronia (ele foi o primeiro a falar sincronicidade, diga-se de passagem). De certa forma ele se opõe ao pensamento ocidental científico baseado nas provas de causa e efeito, pelo simples fato de que, na maioria das vezes, precisamos, para provar algo, de laboratórios perfeitos, livres de interferências que possam “falsear” o experimento planejado. E a natureza simplesmente não é assim! Tudo está acontecendo o tempo todo e não temos controle sobre todas as variáveis. Coisa que a física quântica veio comprovar, mostrando que o mundo e os eventos da natureza são, no máximo, probabilísticos.
Para resumir, Jung propõe que um jogo de moedas, varetas, cartas etc., está ligado ao momento tanto quanto qualquer outro evento nesse mesmo momento. E, desde que alguém (estudiosos, sábios, observadores da natureza humana ou não), tenha estabelecido os padrões de comportamento dessa mesma natureza – 64 hexagramas do I Ching, as cartas do Tarô etc., o resultado do seu jogo revelará coisas importantes sobre o momento que você esta vivendo. Coisas que, possivelmente, você já saiba, mas que, muitas vezes estão inacessíveis no seu inconsciente. Vai daí, que a resposta é sua e cabe a você interpretá-la com sabedoria e sabendo fazer as relações com o momento (que só você conhece inteiramente) e com coragem, já que muitas vezes a resposta não é aparentemente a que você gostaria de obter.
Claro que conhecer um pouco do I- Ching fez a alegria e diversão de uma mulher de vinte e poucos anos, cheia de questões, curiosa e muito, muito cética e ocidental.
Me diverti muito. Nossas perguntas (minhas e as da minha amiga) giravam em torno de namorados ou pretendentes - devo telefonar? Ele gosta de mim? Devo investir nessa relação? E por aí a fora.
E se a resposta parecia meio duvidosa (é difícil entender as referências chinesas se você não estudou nada), jogávamos de novo até sair algo a favor do que queríamos. E ríamos muito com as respostas. Quantas e quantas noites, ficar em casa consultando o I-Ching com a amiga era muito mais divertido que qualquer programa, até mesmo encontrar o “homem” das nossas perguntas – raramente os homens conseguem ser tão divertidos e ter o pensamento tão afinado com o nosso.
Isso foi uma fase, longa, mas passou e, na verdade nunca foi levada a sério. De verdade eu continuava a achar que as respostas para o autoconhecimento estavam na psicanálise – Freud e Cia, e que tudo o mais era feito para nos distrair ou ganhar dinheiro fácil.
Tola, muito tola.
Precisou passar quase 30 anos para que eu finalmente compreendesse que o autoconhecimento está em toda parte, sobretudo nas nossas reflexões. E que qualquer método que nos leve e refletir, tem valor e agrega conhecimento. Sejam os astros, os oráculos, a psicanálise, as terapias ditas alternativas, nossas orações, a leitura de textos sagrados... Tudo, se bem aproveitado, revela coisas importantes sobre nós mesmos e, se você está inteiramente envolvido no processo, vai percebendo as conexões, “coincidências”, padrões para, finalmente, realizar o objetivo de todo esse esforço: melhorar: como ser humano, amenizar seus sofrimentos, tornar a vida mais rica de significado.
Isso já está enorme e nem cheguei onde queria. Na parte 2 contarei como os oráculos entraram na minha vida de forma séria e por que, agora, meu universo interior entrou em uma trajetória de expansão impressionante.

sábado, 12 de março de 2011

Curtinhas 4 - Enviado por Cristina Motta

  Amei!
  Me deu um conforto enorme!
  Obrigada Cris
 
 
Cristina Motta 12 de março às 15:17 
Pra você! baci
Diálogo de surdos, não: amistoso no frio.
Atravanco na contramão. Suspiros no
contrafluxo. Te apresent
o a mulher mais discreta
do mundo: essa que não tem nenhum segredo...

Ana Cristina Cesar
(1952-1983)

sexta-feira, 11 de março de 2011

Curtinhas 3

Li uma frase há um tempo da Coco Chanel que dizia: "quem não gosta de estar na própria companhia, em geral tem razão"
Eu adorei porque normalmente isso é verdade. Se nem a pessoa se aguenta, quem mais poderá aguentar?
E fico pensando: como sou abençoada por adorar a companhia de um monte de gente que gosto e ainda ficar tão bem sozinha!
Tenho sempre o que fazer, o que pensar, o que planejar, o que discutir comigo mesma. Minhas conversas internas são intermináveis. Meu prazer de ler, de ver os programas que curto, de ouvir música, de inventar o que estudar, não tem fim.
Com ou sem a mão direita. 
Afinal, ela não pensa.

domingo, 6 de março de 2011

O mundo gira e a Lusitana roda

É, no mínimo interessante observar a dinâmica da vida, principalmente quando você é o observador e o protagonista da história.
Acontece algo muito grave com você e o mundo parece girar ao seu redor. Todos querem saber, todos têm uma opinião, todos se mobilizam querendo ajudar. Ligam várias vezes ao dia, mandam e-mails, MSN, mensagens no Face.
Guardadas, lógico, as devidas proporções, me remeto aos atentados de 11/09 ou à eclosão de qualquer guerra: primeira página dos jornais por três ou quatro dias, segunda página, depois só lá dentro do jornal e, por fim, notícias esporádicas até ninguém mais falar do assunto.
Tem que ser assim por força. As notícias vão se renovando na vida de todo mundo que está na roda-viva normal dessa nossa existência corrida. O trabalho, as preocupações, as obrigações... Você deixa de ser novidade e todo mundo assume, finalmente, que não pode fazer nada. Se, todos os dias, as pessoas ligam e nada muda, acostumar-se com a situação é a única solução possível, até para você mesmo.
Todos os dias, eu acordava com a sensação (ou esperança) de que tudo não passava de um sonho, e, ato contínuo ao acordar, tentava mexer minha mão. Em vão.
Hoje já não fiz isso. Acordei e já sabia que nada havia mudado.
Quem sabe o que foi feito do Fábio Barreto depois do acidente que ocupou as primeiras paginas dos jornais e as manchetes da TV? Nunca mais se ouviu falar.
Eu sei que ele não melhorou quase nada porque conheço pessoas da família mas agora isso é um assunto totalmente privado. Foi público porque ele é uma pessoa pública.
Pensando bem, e eu? Porque tornei pública e minha vida privada já que sou completamente anônima?
Para gerar torcida a favor? Por carência? Para ser mais paparicada?
Tudo isso pode ser, mas não sei se fiz certo. Hoje, começo a perceber que ter um doença que pode deixar seqüelas aparentes e me tornar uma pessoa com “necessidades especais” é um assunto muito delicado que contém um potencial de estigmatização muito grande – maior até do que se declarar triste e deprimida, cujas seqüelas ficam na alma e ninguém pode ver.
Bom, tudo isso são hipóteses. Não sei se não vou ficar boa e nem tenho o diagnóstico fechado. Hoje, só posso dizer que vai demorar e que, essa notícia já ficou velha.
O telefone toca menos, os e-mails também diminuíram e a minha saúde volta a ocupar o lugar de onde talvez nunca devesse ter saído: da esfera do privado. Um assunto que diz respeito a mim, à minha família e aos amigos mais íntimos.
Aqui no Blog, também não voltarei a esse assunto requentado.
Que fique claro que todos os que quiseremm notícias e saber o desfecho, serão muito bem-vindos! Só não vou mais impor o assunto a ninguém!


quinta-feira, 3 de março de 2011

Quatro atos de uma novela inconveniente e suas lições

Vou tentar, aos poucos, escrever o que tenho passado na mão de quem presta serviços de “saúde” para nós reles mortais que estamos doentes e fragilizados. Quem está são parece que está acima de nós e nunca ficará doente.
Primeiro, mas não o mais importante, para não  infartar. Preciso desabafar.
Segundo, porque tenho aprendido algumas coisas que podem ajudar qualquer um no futuro.
Para isso, preciso voltar um pouco no tempo.

Ato 1

Tudo começou com uma dor suportável mas irritante que ia do ombro até o cotovelo. Daí até a mão  era uma certa queimação. Como nunca dou a devida importância aos sinais do meu corpo e estava resolvendo a minha viagem – passagem, passaporte etc, nem me passava pela cabeça parar para fazer consultas e exames. Na volta talvez. Fiquei então tomando antiinflamatório por minha conta e risco.
Nada melhorava e, de repente, de um domingo para segunda acordei com uma dor insuportável mesmo e a mão direita semi-paralisada.
Aí não tinha jeito: precisava procurar ajuda.
Não conseguindo consultas agendadas para o mesmo dia, fui para o CREB na Voluntários da Pátria, em busca de socorro.

Lição número 1: Jamais se recuse a escutar seu corpo. Se você finge que não escuta enquanto ele está falando baixo, é óbvio que ele vai ter que berrar!

Ato 2

O médico que me atendeu pediu ressonância magnética da coluna cervical (certíssimo já que já operei o local) e eletroneuromiografia – também certíssimo para medir o quanto de força na mão eu já havia perdido. E me receitou os primeiros opiáceos para controlar a dor.
Estaria tudo muito bem, não fosse o fato de ele, sem saber o que eu tinha, irresponsavelmente prescrever um pacote básico de fisioterapia “enquanto isso”.
Fiz 4 dias seguidos daquilo tudo enquanto esperava o resultado da ressonância e....piorei  MUITO!!!

Lição número 2: fisioterapia não é brincadeira. Pode te deixar muito mal,  mesmo parecendo inocente. Não deixe que te toquem enquanto não tiver diagnóstico e mesmo assim só gente  de muita confiança. Você jamais conseguirá provar que a fisio agravou seu quadro.

Ato 3

Fiz a ressonância magnética na terça feira, no laboratório onde consegui marcar primeiro: o Lâmina – Unidade Arpoador. Tudo muito lindo, confortável, atendimento carinhoso e pontual. Tudo de bom, pensei.
O resultado me foi entregue em casa, na sexta no final da tarde com  um laudo conclusivo e assustador. Eu tinha tudo e mais um pouco na cervical, inclusive edemas e etc.
Bom, já contei que eu só piorava e diante daquele laudo entrei em pânico.
Começava um longo fim de semana.
Sábado de manhã comecei a ligar para médicos que eu conhecia ou indicados. Falei primeiro com um ortopedista maravilhoso, especializado em medicina chinesa. Achei que era a melhor opção porque não seria tentado a falar em cirurgia como única saída. Todo mundo vê o problema através da lente do que sabe fazer. E a última coisa que eu queria pensar era em cirurgia.
Ledo e doloroso engano: ao ouvir o laudo pelo telefone, ele disse: o seu caso é cirúrgico e urgente. Você não tem um dia a perder sob pena de nunca mais recuperar os movimentos da mão.
O que senti? Além do desalento com o possível desfecho, uma tristeza por ele nem ter  falado em me ver. Que médico conclui alguma coisa e afirma, com base em laudo? Sem ver a imagem e nem a paciente? Pra mim ficou claro que ele não iria estragar o sábado dele (muito embora eu estivesse diante de alto risco).
Aí liguei logo para o cel do Paulo Niemeyer Filho, que me operou há 10 anos. Caixa postal. Deixei recado pedindo para me ligar mas estava tão descrente que nem esperei muito.
Liguei para o meu clínico da vida toda. Estava pedalando na Lagoa e parou para ouvir o laudo. Mesma resposta: cirurgia imediata. Quando chegasse em casa me passaria o tel de um ótimo cirurgião.
E o que acontece? Dez minutos depois retorna o Paulo. Ouve o laudo e diz: estou em São Paulo. Anteciparei minha volta para de manhã e você me encontra na São Vicente às 14 horas. Preciso te ver. DOMINGO às 14 hrs. Ninguém pode. Ele pode. Nada diz ou afirma. Preciso te ver. E ele estaria embarcando para a Índia na terça. Se fosse cirúrgico, teríamos só dois dias.
Domingo nos encontramos e ele , vendo a imagem, disse que estava péssima, que nada podia se ver ali e que eu teria que fazer outra. Mas, pelo exame clínico ele podia quase apostar que não era coluna e sim algo periférico. Marcou comigo segunda de manhã. Ele queria supervisionar a ressonância.
Resultado: viu na própria segunda que não havia nada a ser operado e me encaminhou para um neurologista de sua confiança, não sem antes escrever uma longa  carta contando tudo e me apresentando ao tal novo médico.

Lição número 3 – Nunca use o laboratório Lâmina. A quantidade de erros lá é gigantesca. Sobretudo em exames de imagem.  Nesses casos estamos reduzidos a: Multi  Imagem na Sadock de Sá, CPDI e Felipe Mattoso. O laudo  que eles me deram foi absolutamente criminoso já que a própria imagem era ilegível.

Lição número 4 -   Só faça ressonância em máquina aberta se você de fato não suportar a  fechada. A qualidade da imagem da aberta é muito  pior e você provavelmente terá que fazer outra.


Lição número 5 – Não ache que o melhor médico é menos disponível. Pelo contrário, ele é o melhor exatamente por isso. A reputação de um profissional que trabalha com gente é feita de conhecimento técnico+experiência+capacidade de entrega. Quem vê mais casos e aprende mais? Quem não perde um ou quem tem preguiça? Quem é mais procurado? Quem tem disponibilidade ou quem não tem? Além disso, o cara quando é muito bom, rico e famoso, já passou por todas as necessidades da pirâmide de Maslow e só lhe resta a doação como ser humano para ser feliz. A menos que seja um caso de patologia egótica. Aí é bom nem chegar perto, porque a vaidade faz as pessoas só fazerem merda. Então, nunca ache que um médico é bom demais ou famoso demais para você. São esses que vão te atender melhor e tentar sempre facilitar sua vida.

Ato 4

Neurologista novo. Maravilhoso. Um mega pesquisador, estudioso, simpático. Outra grande figura humana. Está em processo de diagnosticar a doença a minha neuropatia escandinava que já contei no outro dia. O problema lá: as secretárias.
Iniciativa zero, empatia zero, capacidade de antecipar problemas zero. E muito pouca educação eu diria.
Agora a saga tem sido com a Sul América. Infinitas exigências para aprovar cada exame, sobretudo os que você já fez e teve que repetir. Será que se os exames consistentemente ficam ruins (2 no meu caso) e têm que  ser repetidos não é porque eles escolhem mal a rede conveniada? E nós, doentes, é que pagamos o pato?
Uma empresa que lida com gente doente e sofrendo, não tem o direito de se referir ao contrato para lhe convencer de que está agindo direito. Hoje me estressei  profundamente o que só fez agravar minha dor.
Esse ato não acabou mas já deu lições:

Lição número 6 – Se você puder escolher seu plano de saúde ou o que vai disponibilizar para seus funcionários, considere não considerar a Sul América. Burocracia máxima, atendimento pessoal péssimo, frio, voltado escancaradamente para o resultado da empresa. Nem tenta disfarçar.

Lição número 7 – Só tome morfina em último caso. A sensação é péssima!!!!

Amanhã, tomografia no CPDI. Depois eu conto.
Levei o dia todo para escrever esse texto. Ai que cansaço! Pelo menos me distraí e esqueci a fúria.  Bom, pra isso a morfina serve.
Minhas únicas diversões têm sido conversar com quem vem aqui ou por telefone – que toca o dia inteiro graças a Deus, e ver TV. Nem posso ler porque não consigo segurar o livro. A maozinha direita é de uma tetraplégica, sem exagero.
Exercício de paciência fora de hora esse!

Curtinhas 1 - Cora Rónai e eu

O que nós duas temos em comum fora o fato de eu admirá-la muito?
A paixão pelo mesmo  relógio. Eu o vi pela primeira vez no braço da personagem do Peter Coyotte no filme Lua de Fel. Uma cena de segundos e caí de paixão pelo "reverso". Meu generosíssimo ex-marido me presenteou com o dito e até hoje não me canso de ficar feliz por tê-lo. Isso faz mais de 10 anos.
Aí vai um trecho da coluna da Cora de hoje, falando do nosso objeto de desejo que conseguimos conquistar.
É bom dizer que só muito raramente me apaixono duradouramente por um objeto, daí meu encantamento com a descoberta.
Se procurarmos bem, os gostos e paixões também nos aproximam muito das pessoas!

Outras histórias de Saint Martin


Um dia passei por Marigot na volta de uma saída de mergulho, e vi um cartaz irresistível numa das joalherias do cais: “30% de desconto em todos os relógios”. Minha intenção era ir direto para o hotel, mas 30% de desconto nos relógios era um assunto sério. Não tenho mania de relógio, não coleciono relógio, mas sempre fui apaixonada por um relógio em particular chamado Reverso, fabricado pela Jaeger-le-Coultre. Eu estava de havaianas, com aquele cabelo espetado de quem volta do mar e uma camiseta XXXXL da Autodesk – um look, em suma, que não se usa nem para trocar a areia dos gatos, quanto mais comprar relógio em Marigot. Mas vá que a liquidação acabasse antes que eu voltasse à cidade, ou que se acabassem os relógios?


Parei o carrinho miúdo e amassado na primeira vaga e fui à joalheria. Por acaso, havia um Reverso exatamente como eu queria já no balcão que dava para a rua. Fiz sinal para uma das vendedoras. Ela me olhou de alto a baixo com indisfarçável desdém, fez sinal com a mão como quem diz “Espera aí” e continuou no papo com a colega. Esperei. Depois de um tempo fiz sinal de novo, e ela de novo me fez sinal para esperar. Nisso chegou à loja um casal americano de meia-idade, e as duas prontamente deixaram de papo e se puseram ao seu dispor. Ora, assim também não!
Será que uma de vocês podia me atender? – reclamei. -- Estou esperando há séculos.


A vendedora que me mandava esperar veio até o balcão, cheia má vontade.


-- O que é?


-- Eu quero aquele relógio.


-- É muito caro.


-- E eu lá perguntei o preço? Quero. Aquele. Relógio. Há alguma coisa no meu francês que você não esteja compreendendo?



A moça pegou o relógio me olhando de banda, e foi até o caixa. Meu coração estava aos pulos. Eu não tinha idéia do preço da coisa. 

-- Quero ver.


O relógio me foi entregue num clima de completa desconfiança. Era lindo, e exatamente como eu queria, em aço inoxidável, não muito grande, a perfeição com ponteiros. Entreguei-o de volta mas, quando ela começou a embrulhá-lo numa embalagem genérica, chiei de verdade e mandei vir a gerente.


-- Não estou sendo bem tratada nessa loja. Cadê a caixa original do relógio?


A gerente apareceu com a caixa, perguntou o que havia acontecido, ouviu a novela inteira, pediu desculpas e ofereceu um café. Aceitei com o ar altivo de quem compra relógios importantes todo santo dia; lá dentro, uma taquicardia louca. Não saber o preço já era o de menos. Pior seria se o meu cartão fosse recusado depois daquele número todo.


Pois não é que o cartão foi lindamente aceito?! Naquele momento, me senti vestida de Chanel da cabeça aos pés. A gerente e a vendedora se desmancharam em desculpas enquanto eu assinava a nota e descobria, afinal, o preço do meu tesouro: cerca da metade do que teria custado na Tourneau, em Nova York, onde eu sempre o namorava.


-- Aceito as desculpas de vocês, mas podem anotar as minhas palavras: nunca mais compro relógio nenhum com vocês.

 
Cumpri a promessa. É verdade que nunca mais comprei relógio algum, mas também ninguém precisa saber disso.




(O Globo, Segundo Caderno, 3.3.2011)

terça-feira, 1 de março de 2011

Que saudade de escrever!

Não consigo.
Tenho tanto pra falar! Tenho pensado e refletido tanto!
Não sei se ainda poderei um dia!
O que tenho?
hereditary neuropathy with liability to pressure  palsies and hereditary neuralgic amyotrophy
Uma doença rara no mundo e inexistente no Brasil. Existe na escandinávia. rararara. Tudo a ver comigo!!!!!!!
Como assim? Minha família tem e eu nao sabia?
Não, eu sou a primeira. É raríssimo achar vivo o primeiro de uma família para qualquer doença hereditária: sou a probanda.
Mais coisas inexplicáveis?
Estou tomando o mesmo remédio que o House para a dor: metadona
Não tenho forças para escrever o que estou pensando...
Mas tenho que escolher se acho que tudo isso faz todo sentido ou se o absurdo não tem mesmo nenhum limite.