Foi a pergunta que me fez um amigo no penúltimo post chamado ‘Liberdade e fim de férias’. E eu fiquei pensando: é, e daí?
E eu estava de tal forma encantada com tudo que tinha se passado, com a alegria que havia me tomado, que nem tinha me colocado essa questão. Parecia-me meio óbvio que fim de férias é retomar a vida, o trabalho, as atividades normais só que alegre e não triste, deprimida ou angustiada.
Mas na realidade não é só isso. E foi o que respondi para ele.
Fim de férias é claro que significa voltar tudo ao normal, mas, nesse caso, muito diferente. Significa se acostumar com a “nova pessoa”, sair do piloto automático, prestar atenção a cada passo, dar significado a cada palavra ou gesto, continuar percorrendo o novo caminho. Sinto-me uma “Bandeirante” explorando as terras de um país desconhecido. Desbravando serras, planícies e chapadas. Tendo que cortar a faca cada novo obstáculo e descobrindo ora belezas estonteantes, ora despenhadeiros imensos e animais muito perigosos.
O que acontece é assim mais ou menos como quando a gente para de fumar (pasmem, já fiquei muitos meses sem fumar). Você já não está fumando há dias, está tudo bem e uma hora você acaba de almoçar e pensa sem querer: "agora vou tomar um café e fumar um cigarrinho antes de voltar a trabalhar". E sua cabeça reage: opa! Nada disso, não estou fumando... e você tem que esquecer aquele pensamento. Talvez aqueles que nunca fumaram não entendam isso, mas é assim que acontece. Nosso piloto automático custa a reconhecer um novo padrão de comportamento e parar de pensar no velho. Não é nenhum desespero esquecer a idéia já arraigada, você parou de fumar porque quis e nem está sentindo falta... mas o reflexo condicionado não sabe disso.
E foi assim que minha semana começou com uma reunião em um cliente cujo trabalho não anda de jeito nenhum. Mas na segunda eu ainda estava tomada pela minha “viagem” das duas semanas e fui para a reunião cheia de alegria e pensamentos positivos. Correu tudo bem.
No auge da minha angústia, tinha me comprometido a ir fazer uma palestra sobre Atendimento num certo Clube do Conhecimento, seguida de debate. Claro que tinha esquecido dela e era na terça.
Saindo da reunião na segunda, me ligaram perguntando: tudo certo para amanhã? O que fez meu reflexo antigo? Me fez pensar imediatamente: droga, para que fui me meter nisso? Não preparei nada agora vou ter que pensar numa coisa que não quero... e já ia dando asas a esse “sofrimento” quando me toquei: porque isso? Adoro falar sobre atendimento, vou conhecer um monte de gente nova, trocar muitas coisas legais. E girei o caleidoscópio imediatamente.
Resultado dessa história comprida que é só para ilustrar: foi ótimo. Fiz um roteirinho e falei de improviso. Falei com todo meu coração e com vontade de que as pessoas alí presentes mudassem alguma coisa em suas cabeças e seus corações. Dito e feito: adoraram.
Ainda mais: eu não sabia, mas a coisa era transmitida ao vivo para uma TV e uma rádio na internet. Várias pessoas me ligaram, fui convidada para dar uma entrevista numa outra rádio (num programa que só entrevista mulheres “poderosas” rsrs), o público me beijou, me abraçou, tiraram fotos comigo... enfim, um super astral que só me deu mais alegria, bons frutos (divulguei muito meu trabalho) e, de brinde, ainda conheci pessoas maravilhosas.
Ainda mais: eu não sabia, mas a coisa era transmitida ao vivo para uma TV e uma rádio na internet. Várias pessoas me ligaram, fui convidada para dar uma entrevista numa outra rádio (num programa que só entrevista mulheres “poderosas” rsrs), o público me beijou, me abraçou, tiraram fotos comigo... enfim, um super astral que só me deu mais alegria, bons frutos (divulguei muito meu trabalho) e, de brinde, ainda conheci pessoas maravilhosas.
Não tem erro: ocupar o seu lugar plenamente aqui e agora só traz coisas boas e realimenta o processo.
É isso a vigilância. A gente já aprendeu outra forma de sentir, pensar e agir, mas o velho teima em aparecer e reconhecer imediatamente é o exercício permanente.
Outro exemplo? Falei nas minhas queixas que não ia mais à praia porque não gosto mais do meu corpo. Para falar a verdade eu nem me olhava mais. Mesmo. Qualquer espelho era fonte de angústia.
No fim das férias estava totalmente apaziguada com o corpo, o rosto, as rugas e toda minha imagem. Respeitando-a, apreciando-a. E como ainda por cima tinha me livrado da necessidade de ter reconhecimentos, e de achar que valho quanto “acham” que valho, passei a ir à praia. Sem nenhum esforço. Sem pensar. Foi natural como se nunca tivesse havido o outro momento. E porque estou em paz com o corpo e a cabeça, retomei meus exercícios e estou menos ansiosa, portanto comendo menos e o corpo, sendo gostado, chegará onde quero. Com amor e não com raiva.
No fim das férias estava totalmente apaziguada com o corpo, o rosto, as rugas e toda minha imagem. Respeitando-a, apreciando-a. E como ainda por cima tinha me livrado da necessidade de ter reconhecimentos, e de achar que valho quanto “acham” que valho, passei a ir à praia. Sem nenhum esforço. Sem pensar. Foi natural como se nunca tivesse havido o outro momento. E porque estou em paz com o corpo e a cabeça, retomei meus exercícios e estou menos ansiosa, portanto comendo menos e o corpo, sendo gostado, chegará onde quero. Com amor e não com raiva.
Eu nunca tinha entendido direito quando as pessoas diziam: “quanto mais você tenta fugir de alguma coisa, mais ela te persegue”. Hoje entendo perfeitamente. Entender-se com o sentimento que atormenta é a melhor forma de livrar-se dele.
E poderia dar mil outros exemplos pequenos e grandes do que vem depois do fim das férias.
Tenho saído mais com minha filha e tirado disso um prazer muito maior que antes – claro, a angústia e a tristeza desviavam todo meu foco de qualquer coisa. Tenho me encontrado muito mais com as amigas e não para falar de dor. Outro dia éramos quatro e passamos umas cinco horas falando só sobre literatura. Cada uma falou de seus livros preferidos da vida toda, trocamos idéias, impressões, discutimos quando não concordávamos, trocamos indicações de livros...uma noite e tanto. Gostosa, enriquecedora e o sofrimento nem passou perto.
Assim Luiz, fim de férias é só o início de uma longa jornada que, espero, dure a vida toda. Esse processo me parece que é como uma cebola. Você vai melhorando e cuidando dessa melhora de camada em camada.
Não somos só esse pouquinho que conhecemos e ao qual nos acostumamos e nos apegamos. Diga-se de passagem, nos apegamos porque não conhecemos outra forma de ser e não porque gostamos tanto assim dela. Temos inúmeras camadas de consciência e a cada vez que expandimos um pouquinho um novo mundo se abre.
Quero muito continuar expandindo a minha e vivendo exatamente as mesmas coisas: trabalho, filha, casa, amigos, amores se houver, blog e todos os prazeres de sempre. Mas com alegria, entrega, amor. Enfim, plena.
Quero muito continuar expandindo a minha e vivendo exatamente as mesmas coisas: trabalho, filha, casa, amigos, amores se houver, blog e todos os prazeres de sempre. Mas com alegria, entrega, amor. Enfim, plena.
Claro que terei ainda muitos sofrimentos pela vida. Mas que sejam concretos e reais e saberei como lidar com eles. Os que se foram, são fantasmas da casa mal-assombrada que eu mesma construí e estou aprendendo não a demolir, mas a tornar cada fantasma um amigo que vai sair por bem e tranqüilo e não porque tentei implodir a casa.
Fantasmas não têm medo de dinamite.
Fantasmas não têm medo de dinamite.