Eles vão saindo de cena sem se despedir
nos deixam de cara só com a notícia,
com o estupor,
com a raiva e o rancor por ter que ser assim
sem imaginar que nossas vidas empobrecem, sentem pena
e se deparam com o fim.
Perdemos nossos ídolos e o mundo se apequena não porque
eles foram
mas porque nós ficamos: náufragos em uma ilha condenada a ser desabitada
Compulsórias chegada e partida.
Entre uma e outra, nossas construções: frágeis ou admiráveis
Morre John Lennon e morro um pouco eu porque sou jovem
e ele ainda me traduziria
Morrem Elis, Gonzaguinha, Raul, Tim, Cazuza e morro
muito eu
porque nossas verdades são muito as mesmas e ao se calarem
me calam a mim, que contava com eles para um falar
corajoso, comovente e competente.
Morrem Michael, Donna, Whitney, Robin e pronto: meus
melhores anos ressuscitam
apenas para gritar que a irremediável hora da minha
própria morte está perto
Minha juventude, minha alegria, minha inocência, minha pouca crença no fim
abrem finalmente espaço para o estranhamento, as
perguntas sem resposta,
o gosto amargo
sempre disfarçado de riso e esquecimento,
de frases feitas e prontas para fazer suportar melhor o insuportável.
Estou de frente para o sol.
Por quanto tempo se pode encarar o sol sem cegar?
Minha morte me cega.
Preciso dos óculos escuros da morte alheia, da música
alheia
Preciso curtir a obra de quem foi capaz de deixá-la
para nunca desaparecer de fato.
E quando morrerem os que só me deixarão sua falta?
Uma falta sem obra a que recorrer na saudade?
Que farei diante do vazio?
Quem dará conta da tristeza? Quem acalmará minha
estranheza?
Os Bee Gees nunca morrerão.
Quem morrerá serei eu