quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Pegando carona no [des]compromisso...

Sou do tempo, (nem tão longínquo assim) onde os estudantes, todas as semanas, levavam uma "composição" para as salas de aula. 'As vezes, o tema era escolhido pelo professor ou livre para estimular nossa criatividade. Essas redações, eram lidas para os colegas, depois de feito sorteios e assim seríamos avaliados diante da turma. Punidos, se não estivéssemos em dia com a tarefa estipulada para casa. Isso nos obrigava a pensar, refletir, estudar, até nos expor. Nem sempre era fácil, nos descabelávamos, a mãe ajudava (ah, como eu gostaria de escrever como a mãe, bonito) _ tudo fazia parte do aprender. Por outro lado, era necessário ler, interpretar e nesse exercício gradativo, íamos nos despertando para compreender o mundo...
Saíamos de férias, viajávamos, conhecíamos outras pessoas e a distância, nos fazia, na volta, escrever cartas. Ao mesmo tempo, ter o imenso prazer de esperar pelas respostas, contar segredos, até falar de amor.
Hoje, o grande buraco da educação, a meu ver, é a falta de incentivo em relação 'a leitura, a grande maioria dos jovens, não gosta de ler, escreve mal e consequentemente, tem pouquíssima bagagem. Deveria ser a escola, um lugar permissivo, onde as relações fossem cada vez mais profundas, o corpo mergulhado na escrita e os pés firmes na literatura!

domingo, 12 de setembro de 2010

Perversões

Já nos acostumamos a achar perversa a ditadura da magreza, do culto ao corpo, da beleza segundo os padrões da moda.
Já entendemos que a busca desenfreada por esse ideal no mínimo nos frustra e no máximo nos mata. Entre uma e outra todas as variações são possíveis.
Nesse campo, há movimentos pequenos mas louváveis de griffes que andam usando modelos mais “cheinhas” para seus desfiles, jornalistas que fazem matérias sérias sobre o assunto, psicólogos que denunciam o quanto adultos e adolescentes andam sendo devastados nessa perseguição implacável do modelo.
Agora, existe uma perversão que é, no meu entender, pior que essa e orquestrada por uma indústria que, se não é tão poderosa quanto a da beleza, está tentando chegar lá.
Refiro-me aos livros de auto-ajuda.

É totalmente massacrante entrar numa livraria hoje em dia. O prazer de folhear livros casualmente, ler orelhas e contra-capas, mergulhar naquela atmosfera de palavras e ideias, deu lugar ao mais completo horror.
Nas principais prateleiras, as da entrada, estão todos aqueles títulos que dizem como tudo é fácil e tem remédio. Basta querer e ler as instruções.
Você pode ser rico, bonito, organizado, ter sucesso, conquistar parceiros, amigos, companheiros, influenciar pessoas, ser feliz, não fazer tempestade em copo d’água, ter uma saúde de ferro, saber não se estressar, ser ótima companhia, ser chic, e... maravilha das maravilhas que até pode eliminar todos os outros.....atrair só o que é bom!

A coisa toda é tão perversa que, a princípio, quem compra anda com a auto-estima em baixa e está com sede de algo que lhe prometa uma vida melhor. Depois que nada acontece, o iludido leitor nem se dá conta mas fica um pouco pior porque lhe deram a fórmula e ele não conseguiu progressos. Inconscientemente se sente ainda mais indigno do propalado sucesso e então precisa de outro título...quem sabe dessa vez!

O que dizer então se você nem quer? Nem compra? Ah! Homem de pouca fé! Então você não merece mesmo...jamais atingirá o mundo dos bem sucedidos! Você que nem tentou!

O tal do Segredo (que não li naturalmente) para mim é o ápice. Se não consigo atrair tudo de bom no mundo devo ser mesmo um ser execrável que nem merece estar vivo. 
Tudo em que acredito atrai coisas ruins? Simples... basta mudar as crenças!
Se fico doente, eu que atraí..quem manda ser uma pessoa pra baixo que só atrai coisas ruins?
Se me envolvo em um amor mal sucedido bem feito! Foi você que atraiu.
Se meu projeto enfrenta problemas, também...você só atrai nuvem negra!
Ou seja, essa é uma forma absurda e perversa de dizer que quem tem problemas é incompetente, baixo-astral, fracassado e uma pessoa a ser evitada a qualquer custo. Vá que ela atraia coisas ruins para quem está em volta também?

E seguem escritores (que nem são eles mesmos, há uma exército de ghost writers por trás) e editoras ganhando muito dinheiro à custa da inocência e infelicidade alheias, alimentando essa infelicidade que por sua vez aumentará seus lucros.
Isso tudo tem um nome e para mim é má-fé. 

Gastar nosso suado dinheirinho com esses livros é o mesmo que gastá-lo com shakes caríssimos para emagrecer, chás milagrosos, cremes mirabolantes, tratamentos em máquinas super poderosas, anfetaminas, sibutraminas e que tais.

Ai de nós seres humanos que adoramos nos iludir. Deixamos que nos matem e ainda juramos, sorrindo, que não está doendo nada!
Porque nós somos alegres e alto astral!



Sem querer sublimei

Para a psicanálise, sublimação é, “a grosso modo”, um processo inconsciente pelo qual a energia da libido se desvia para trabalhos mentais criativos, socialmente desejáveis.
Não sou psicanalista nem estudiosa da matéria, e ainda por cima muito ignorante, de forma que me escapa o que todos dizem compreender perfeitamente: por que Freud concluiu que na origem de todas as nossas paixões e emoções está a sexualidade.
Mas acho que isso nem vem ao caso agora.
O que vem ao caso, é que entendi finalmente, depois de muito me interrogar , que o  que se passou nos dias em que comecei a escrever foi tão somente sublimação de emoções negativas que, no tal processo inconsciente se transformaram em algo de bom e produtivo (pelo menos para mim).

Depois que tive essa certeza, comecei a revirar as “emoções negativas” para entender se eram todas tão claras quanto me pareciam. Não eram!
Na superfície estavam sim as emoções negativas causadas pela doença: desânimo, culpa por não estar fazendo o que as pessoas esperavam de mim no momento, o sentimento ruim e desconcertante da nossa vulnerabilidade que sempre bate quando a gente fica doente ou um imprevisto acontece.
No entanto – e não foi nada bom descobrir isso, havia mais.
Recentemente me senti desiludida e decepcionada com algumas pessoas que adorava e confiava.
Senti raiva mesmo e entendi que no bolo de todas as emoções negativas estavam essas também, sendo a raiva a pior de todas: a mais grotesca, destruidora e fora do repertório de sensações com as quais sou capaz de conviver.
Talvez o poder superior da raiva tenha desencadeado todo o processo.
Se assim for, viva a raiva!

O fato é que é uma bênção saber que nosso inconsciente é capaz de transformar coisas ruins e destruidoras em outras sublimes e construtivas. Não se trata de forma alguma de reprimir mas de transformar mesmo. Isso é lindo e encorajador.
A grande pena, é que segundo o mesmo velho Freud, “a sublimação não é matéria para o consciente...até porque os excessos não se curam com bons conselhos”.

Mas quem sabe ele esteja errado? Quem sabe haja um caminho através do qual a gente possa escolher e exercitar transformar nossos excessos, paixões e emoções  perniciosas em coisas sublimes, calmas, suaves, refrescantes e purificantes?

Eu já tenho minha lista e estou disposta a tentar. De que jeito não sei ainda,  mas conto assim que descobrir qualquer pista que possa levar ao sucesso dessa empreitada.

Vamos combinar que quem conseguir progressos ou já for detentor do segredo do cálice sagrado vai compartilhar também?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sem noção

Vi um anúncio de absorvente agora que dizia assim: " intimus gel, agora muito mais feminino".
Poderia se dar o caso de um absorvente antes ser  mais....masculino??!!
So help me god! rsrsr


Explico

O que quis dizer ontem, e acho que não consegui, era que parecia que tudo me dizia respeito. Apesar de todas as dores, individuais e coletivas, da pobreza a que assistíamos, das guerras, da violência, de todos os absurdos do Brasil, parecia que eu vivia em sintonia.
Ia para as ruas nos comícios, fazia campanha para quem acreditava, estava inteira naquele mundo cheio de desesperanças e delícias.
Então, a palavra certa não era orgulho, era uma sensação boa de fazer parte de algo que eu, mesmo com dificuldades, tentava entender e terminava entendendo. E tinha companhia nessa caminhada meio às cegas pelo final do século XX.
Hoje, deve ser a mesma coisa para quem está aí entre os 25 e 45 anos, um pouco mais, um pouco menos.
Essas pessoas, que estão vivendo e fazendo o mundo agora, devem sentir o mesmo conforto. Foi para mim que ficou estranho.
Eu é que perdi o bonde e escrevo para, quem sabe, conseguir uma mão que me puxe de volta mesmo com o bonde andando.

E eu...que gostava tanto de ser moderna!


Houve um tempo em que me orgulhava de ser moderna. Sem afetações. Eu só notava que estava sempre em dia com as novidades, para o bem e para o mal.
Eu “era” a Radical Chic (mas quem não era né?). Me comportava, pensava, namorava como ela. Cheguei a ganhar um livro em um amigo oculto de Natal dizendo que eu era “igualzinha a ela”.
Me vestia modernamente, frequentava lugares modernos, tinha amigos idem.
Sabia me divertir, trabalhar e ser intelectual ao mesmo tempo. Via e curtia as artes modernas, os jazz festivals, as bandas de rock, Caetano, Cazuza. Fazia festas. Ia a festas. Passava os fins de semana em uma cidade chamada Búzios que não existe mais e tomava chopp no baixo Leblon.
E tive todas as doenças “modernas”: síndrome do pânico antes de todo mundo; tomei Prozac quando ainda nem era tão famoso; fiz ressonância magnética há 20 anos atrás - custava tão caro que a empresa teve que financiar para mim (os planos de saúde nem sabiam do que se tratava, só Felipe Mattoso tinha uma máquina dessas no Samaritano).
Tive analista antes de todo mundo da minha geração.
Era livre, era despretensiosa, era infeliz, era angustiada, era alegre...era  moderna.
E agora? Já passamos do pós-moderno e eu nem sei o que foi isso. Nunca consegui entender. Reconheço uma arte aqui, uma arquitetura ali...mas...o que é esse movimento?
Nós modernos sabíamos (e entendíamos) do existencialismo, do cubismo, do fauvismo, do surrealismo... O pós-modernismo já não me disse mais nada.
Me sinto um dinossauro quando a terra já não dava mais condições de vida àquelas enormes criaturas.
Faço parte de uma geração lá do início do alfabeto e estou totalmente atônita. Não compreendo.
Não compreendo boa parte da utilidade da tecnologia, não sei para que servem os filmes em 3D, achei Avatar chatíssimo, não entendo a ditadura do entretenimento que amputa o conteúdo de tudo que precisar se for para divertir mais, nem da interação a todo custo.
Não sei por que tenho que ganhar uma televisão para assinar uma revista que goste.
Não sei por que apesar de tudo o mundo é cada vez mais desigual.
Não sei por que ainda existe a África como sempre foi.
Não vejo nada de novo de verdade.
Me sinto frustrada, culpada e totalmente catatônica.
Onde e quando foi que me desconectei ou fui desconectada?
Acho que só envelheci. E contra isso não há remédio.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sonhos


Estava pensando…de que material é feito um sonho?
Eu tenho andado intrigada achando que nunca tive um sonho de verdade! E hoje todos os meios de comunicação nos dizem: sonhe! acredite! O Banco Completo ajuda você! O Banco da Sustentabilidade acredita no seu sonho!
E os títulos de auto-ajuda então nas livrarias? Você é do tamanho dos seus sonhos!
Deus, então sou realmente invisível porque nunca tive um sonho de verdade.
Casar, ter filhos, casa...tudo foi acontecendo sem que eu tivesse sonhado com nada disso...ou então eram sonhos enterrados em algum lugar do meu inconsciente pregador de peças.
Não estou falando daqueles desejos básicos que se faz ao soprar as velas do bolo de aniversário: ter saúde, paz, trabalho, algum dinheiro, os amigos por perto e a família segura e bem.
Estou falando de sonhos.
Remoendo esse assunto me dei conta de que isso não é totalmente verdade. Eu tive um único sonho consciente e como foi bom realizá-lo!
Desde que me entendo por gente adoro a França, o idioma, a história, a literatura. Estudei Francês com afinco na Aliança Francesa, lia todos os livros sobre Paris, via mapas, acompanhava o cinema e a literatura franceses. Me apaixonei cedo por Proust, Baudelaire,Victor Hugo, Balzac e tantos outros. Enfim, acalentei um sonho. Queria pisar naquele chão mais que tudo.
Vou confessar aqui que tinha uma crença muito estranha: morreria antes de ir a Paris, e por mais irracional que fosse, acho que fui adiando.
Milhares de coisas aconteceram antes que eu finalmente encarasse a morte de frente e  tomasse um avião rumo ao Charles de Gaulle quer desembarcasse ou não. Isso só aconteceu no verão europeu de1992.
E foi uma mágica! Não só não morri como tive sensações únicas que nem sei se consigo descrever. Chorei em plena Place de La Concorde (tão minha conhecida dos livros), chorei de novo em baixo do Arco do Triunfo.
Fiquei anestesiada por alguns dias, num estado semi-onírico que me fez ver (acho que hoje com mais clareza) que a conjunção sonho/realidade é capaz de criar estados alterados de consciência tão deliciosos quanto a mais deliciosa das drogas.
É capaz de possibilitar conexões que só posso chamar de cósmicas de tanto que as coisas boas convergem para um mesmo ponto ao mesmo tempo.
É capaz de nos mostrar quanto é pequeno o viver cotidiano já que o 3D nosso de cada dia explode em um espaço/tempo n-dimensional onde os tempos sonhado e real se misturam, os lugares não têm só altura, largura e profundidade: têm peso, sentimento, sensações múltiplas, expectativas, memórias de mil tempos passados e futuros...
Sonho realizado é uma espécie de iluminação.
Depois nunca mais.
Não que a vida tenha sido ruim ou de poucas realizações. Mas sonho mesmo, nunca mais. Onde estão eles? Será que não sonho ainda para não morrer? Mas nem morri. Ou terei morrido um pouco?
Depois disso voltei lá muitas vezes e nunca mais senti a mesma coisa.
Adoraria saber como se sonha. De onde se tira o desejo intenso? Como se desfaz o “tanto faz”?

Estive pensando...prá variar

Um Blog de conversas, não pode ser um espaço onde só eu escrevo e algumas pessoas comentam. Tem que ser um lugar onde quem quiser possa também postar suas próprias reflexões, inspiradas ou não nas minhas.
Futucando aqui, vi que isso é possivel. Basta que quem quiser me avise e mande email para eu adicionar aqui também como autor.
Não é legal? Não pode ser mais divertido e inspirador?
Pensem nisso.
Beijoooo

Uma homenagem ao poeta da minha vida - Fernando Pessoa

Fernando Pessoa

Hoje que a tarde é calma e o céu tranqüilo, 
                             
                        
Hoje que a tarde é calma e o céu tranqüilo,
E a noite chega sem que eu saiba bem,
Quero considerar-me e ver aquilo
Que sou, e o que sou o que  é que tem.
 
Olho por todo o meu passado e vejo
Que fui quem foi aquilo em torno meu,
Salvo o que o vago e incógnito desejo
Se ser eu mesmo de meu ser me deu.
 
Como a páginas  já relidas, vergo
Minha atenção sobre quem fui de mim,
E nada de verdade em mim albergo
Salvo uma ânsia sem princípio ou fim.
 
Como alguém distraído na viagem,
Segui por dois caminhos par a par
Fui com o mundo, parte da paisagem;
Comigo fui, sem ver nem recordar.
 
Chegado aqui, onde hoje estou, conheço
Que sou diverso no que informe estou.
No meu próprio caminho me atravesso.
Não conheço quem fui no que hoje sou.
 
Serei eu, porque nada é impossível,
Vários trazidos de outros mundos, e
No mesmo ponto espacial sensível
Que sou eu, sendo eu por `'star aqui ?


Serei eu, porque todo o pensamento
Podendo conceber, bem pode ser,
Um dilatado e múrmuro momento,
De tempos-seres de quem sou o viver ?

A que será que se destina?


Ontem, doente, me sentindo muito mal, tive uma pulsão de vida que me fez passar horas fazendo esse Blog e achando que com isso estaria conectada com toda a vida do mundo. E fazia planos também: quando melhorar, não vou mais perder tempo. Vou me conectar de verdade às pessoas queridas, marcar encontros, almoços, conversas. Vou tocar meus projetos todos com a maior determinação, vou fazer ginástica enfim... era quase uma carta de intenções de ano novo.

E o que acontece com todas essas cartas e todas essas intenções?
Acontece que quase morrer não faz diferença nenhuma, morrer é que faz.
A gente esquece de tudo que pensou e sentiu e tudo continua exatamente igual.


Mesmo antes que a vida volte ao normal e eu volte a perder tempo e não cumpra meus planos, já estou pensando: porque o Blog? A quem pode interessar o que estou pensando ou deixando de pensar?
Que diferença faz isso no meio de milhares talvez milhões de pensamentos e opiniões muito mais bem elaborados e interessantes que os meus? Logo eu que não tenho opinião nenhuma?
A que se destina escrever sobre o que me vai à cabeça ou na alma?


Será que fui mordida pela mosca azul moderna que faz com que ninguém queira ser anônimo e aí se trata de pura vaidade?
Ter que ser público nem que seja nessa rede de bilhões é uma doença contagiosa que me pegou tanto quanto as bactérias aos meus pulmões?
Ou será um interesse genuíno de expressão como quem toca um instrumento ou pinta um quadro e eu, que não tenho esses talentos estou “aproveitando” a tecnologia fácil para tentar desenvolver alguma coisa que valha a pena?
Antigamente, os maus escritores jogavam quilos de papel fora porque tudo era lixo. Antes de ter o aval para se apresentar os músicos estudam anos e os maus pintores jogavam suas telas fora com os professores dizendo que nada daquilo era arte.


Hoje, a gente põe o lixo na rede e está tudo certo? 


Ou será solidão? Será uma forma de dizer: hei! Estou aqui! Penso logo existo?
Sei não, como de resto nada sei mesmo. É para mim e para o mundo que faço essas perguntas. 

Por enquanto me agrada a experiência. Por enquanto me faz feliz sentar aqui e escrever.
Só fico mais tranquila porque tenho um superego poderoso que usualmente tem me preservado do mais completo ridículo.
Será que ele tem também me impedido de alçar voos só pra não me esborrachar e me aparecerem as calcinhas?
Mas o que têm as calcinhas com a paisagem que se vê do céu?


terça-feira, 7 de setembro de 2010

O que é esse Chico Buarque?

Com raríssimas exceções, amamos todos e principalmente todas o Chico Buarque de Hollanda, que fez, pelo menos pra quem tem perto da minha idade boa parte da trilha sonora de nossas vidas.
São letras e músicas inesquecíveis e, senso comum, ele deveria se julgar um vencedor e dormir no berço esplêndido de um dos maiores senão o maior expoente da MPB.
Mas não, ele quis mais. Ele quis enveredar pelo mundo das letras- que ama muito,isso fica claro, com a mesma seriedade ( ou maior já que mais velho) com que tratou sua carreira de músico, cantor e compositor poeta e engajado.
Quem vem acompanhando sua literatura, vê nitidamente o quanto esse escritor (penso que já podemos chamá-lo assim) vem amadurecendo, crescendo, melhorando sua prosa e seu estilo e, claro, me ponho a pensar....
Que espécie de luta ele tem travado para crescer nesse ofício? Que foi feito da sua inspiração para compor? Como alguém resolve outra coisa e humildemente começa muito mal e não desiste e trabalha, trabalha e trabalha para atingir pelo menos algo próximo do patamar que alcançara no ofício anterior?
Quem leu “Leite Derramado”, vai concordar comigo que a prosa do Chico amadureceu muito desde Estorvo e Benjamin. Budapeste já foi a minha primeira grande surpresa!
Leite derramado é uma narrativa cheia de suspense, que não se larga do início ao fim. É uma proeza que as memórias contraditórias e esburacadas de um ancião nos encham de curiosidade e nos levem adiante.
Até certo ponto, temos a ilusão de que a história real será apresentada e desvendada.
Mas que mania é essa de querermos sempre saber como foi a história real? Será que ela interessa?
Quando por fim nos damos conta de que nada será revelado como sendo “a verdade”, já estamos conformados e achando que, de fato, não vem muito ao caso como tudo verdadeiramente se deu.
Importa a narrativa. Importa como aquele velho se lembra, importa como sua vida foi uma sucessão de ilusões e desilusões como a de qualquer outra pessoa. Como muitos sóis foram tapados com a peneira e de tanto serem tapados, se confundiram e viraram meias verdades e/ou meias mentiras como quiser o leitor.
De minha parte, muito me admira o Chico, sempre em busca do novo, do próximo desafio...e me pergunto o quanto ele deve sofrer a cada nova empreitada. E olhem que o tempo avança mas a energia parece não acabar nunca. Ao contrário, sempre renovada e surpreendente.
Acho que foi o Millôr que disse que enquanto houvesse Chico Buarque vivo, nenhum homem estaria livre se ser corno. Sábias palavras.



A Bola de Encher

A continuação que estava pronta rsrs


Parei ontem na bola de encher…
Pois é, já pensaram nisso?
Qual a capacidade máxima? Impossível medir porque quando chega lá ela estoura.
Assim é que tentamos tanto saciar alguns desejos que passamos da conta e eles “estouram”.
Sempre ouvi dizer que para manter a forma é preciso sair da mesa com vontade de comer um pouco mais. Isso é não ter a compulsão de testar a capacidade de bola.
Isso é não testar os limites. É parar antes que tudo desande.
Tem a ver com a raridade e o valor porque se de  tanto estar feliz na praia tivesse ficado torrando no sol até às  5  horas da tarde ou pudesse ir todo dia, claro está que enjoaria e o valo  diminuiria e com ele a felicidade e a alegria.
E os amores? Se não damos tempo pra sentir saudades, pra querer mais, se nos lambuzamos muito depressa? Passa. Estoura o balão.
O mais cruel é que a gente nunca sabe quando vai estourar. É de um segundo para o outro que não cabe mais e powww.
E vem o susto. Literal. Aquele do barulho mesmo do balão estourado.
Não sei não, mas me parece que quem quer preservar seus balões não os enche muito, não quer ver até onde eles aguentam. Assim, ficam com os balões, o corpinho em forma e o namorado.





Tesouros

Não, não me animei tanto assim.
O que vou postar agora já estava escrito. A sinosite e a pneumonia não me tornaram uma fertilidade ambulante. Talvez tenham me dado um tempo prá olhar coisas antiga e...refletir.
Lá vai uma refexão de meses atrás em Fortaleza. E talvez venham outras copiadas e coladas.
Reflexão por alguma razão tem que ser quentinha, saída do forno...e ai de mim, essa minha estreia já é uma teoria para lá de requentada!

Eu como boa pensadora tenho milhares de recortes e anotações de coisas sobre as quais eu queria pensar um dia. Claro que nunca dá certo. Até pensar requer disciplina...
Bem, vou falar de uma coisa que fiquei pensando insistentemente hoje, apesar de não ser nada novo. A gente se esquece às vezes das coisas que aprendeu na primeira aula de Introdução à Economia.


Estou a trabalho no norte/nordeste. Vim de uma estada horrível em Belém, cheia de percalços, situações ruins, bobagens que deviam dar certo e não deram. Aquelas coisas que a gente fica pensando: deve ser “espírito” rsrs ( a Monica vai entender)


Aí, cheguei em Fortaleza. Hotel uma delícia, atendimento campeão. Pude descansar de sábado para domingo e acordei bem cedinho com um sol que só de olhar dava alegria.
Tomei meu café da manhã e fui para a praia do Futuro caminhar e tomar banho de mar, coisa que adoro e não faço desde o Carnaval.


Fui tomada de uma enorme alegria. Mais que isso. Uma felicidade mesmo na hora que botei o pé na areia, tirei a roupa e aquele vento bateu no meu corpo e vi aquele mar maravilhoso todo só pra mim ali  na frente.
E, claro,  me pus a pensar:

“Vou à praia desde que nasci. Passei a infância na beira do mar em Salvador. Depois disso só Rio de Janeiro. Que alegria é essa como se fosse uma mineira que vê o mar pela primeira vez?”
Aí me dei conta. 

Quando morava em Salvador e a praia era meu quintal, não era essa plenitude que eu sentia.
No Rio, de férias, indo à praia todo dia, também não. É a raridade do momento – meses trabalhando, estressada e longe do mar e ainda por cima em Fortaleza ( mais raro ainda), que confere todo valor a uma coisa, uma situação ou uma sensação.
E quanto mais raro, mais felicidade.
(Quem falar que isso é a mesma coisa que perguntar o quanto eu pagaria pelo primeiro copo d’água no deserto e pelo segundo e pelo décimo???? Eu vou ficar brava)


Quem nunca se deliciou assistindo sessão da tarde num raro dia em que não foi trabalhar?
É isso! E me lembrei de como eu mesma preservo certas “raridades” na minha vida para que não percam o valor.

Por exemplo, sou incapaz de comprar para mim mesma uma lata de genuínos marrons glacés. Isso é uma raridade a ser oferecida de presente por alguém que tenha a sensibilidade de saber que não há nada melhor que marrons glacés.

Posso ter o dinheiro. Não compro. Por mais que goste.
O mesmo com os bombons de cereja da Kopenhagen ou  as minhas flores preferidas. Não quero banalizar essas coisinhas, quero que permaneçam raras.


E aí, fiquei pensando em como a gente mesmo pode tornar a vida  mais ou menos intensa e interessante.
Fica a nosso critério banalizar tudo ou ampliar cada vez mais nossa lista de tesouros. E nem estou falando em diamantes - valiosos por definição porque são raros na natureza. 

Confesso que essa reflexão sobre raridade e prazer levou assim umas 2 horas, o tempo que caminhei pela praia e mergulhei sentindo todo aquele êxtase imprevisto e raro.

Sim, porque um pensamento puxa o outro e quando me dei conta estava pensando naquela história de medir a capacidade máxima de uma bola de encher....
Essa fica pra próxima!