sábado, 27 de novembro de 2010

Amizades

Está me ocorrendo agora que, em pelo menos uma coisa eu fui muito competente nessa vida: em fazer amigos.
Mas uma competência meio do “bobo” da Clarice Lispector. Uma competência que não planejei, treinei nem fiz o menor esforço. Ao contrário, sou péssima em “cultivar” amizades. Pouco telefono para as pessoas mesmo que muito queridas, não mando e-mails, não me lembro dos aniversários, não desejo feliz natal.
E no entanto eles existem e posso me vangloriar de ter mais amigos de verdade, mais amigos antigos e verdadeiros, mais gente que gosta muito de mim do que a maioria das pessoas que conheço. Não vai aí nenhuma pretensão, mas muita vaidade!
Acabo de chegar de um encontro com 2 queridíssimas amigas de mais ou menos 43 anos atrás. Uma conheci aos 10 anos, a outra aos 11 anos.
A que conheci aos 10, hoje mora na Alemanha e toda vez que vem ao Brasil (2 vezes por ano em geral) nos encontramos.
E é como se o tempo nunca tivesse passado. As conversas seguem misturando passado e presente de tal forma que mesmo um assunto sério do presente se transforma em gargalhadas porque temos memórias e referências remotas que imediatamente associamos com o que se passa agora e fica tão fácil nos entendermos, nos conhecemos tanto, nos queremos tão bem, continuamos apaixonadas umas pelas outras. O tempo simplesmente não existe nessas relações de amor profundo e de sempre.
E não são só essas duas. Tenho inúmeras e inúmeros amigos de longa data com quem tenho a mesma intimidade e amor.
Posso não vê-los frequentemente, mas o suficiente para nunca nos esquecermos e para termos essa mesma sensação de que o tempo nunca passou.
Revendo agora minha lista de Grandes Amigos, me dou conta de que ficaram muitos de cada lugar por onde passei na vida. Mais, naturalmente, de onde passei mais tempo.
Colégio, faculdades, mestrado, um punhado de cada trabalho. Não são poucos.
Me orgulho disso. Penso que, mesmo sem cultivar conscientemente essas relações,  de alguma forma me fiz gostar e soube gostar tanto deles que perceberam e nem ligaram para o meu jeito meio estranho de ser. Ou então eu soube escolher muito bem de quem gostar mesmo sem saber que cada gostar no fundo é uma escolha.
Seja como for, estou muito feliz por estar pensando e verbalizando esse sentimento de competência que me tomou.
Porque finalmente posso dizer: nisso eu fui muito boa!
Coloco o verbo no passado porque bem sei que hoje já não tenho mais tempo de construir histórias como essas antigas que coleciono. Sei também que as amizades feitas hoje (não que eu não queira mas é uma imposição da vida) jamais poderão ser "testadas" quanto à sua resistência e profundidade. Continuo adorando fazer amigos com a mesma espontaneidade de sempre. Me "apaixono" por algumas pessoas e imediatamente se tornam " amigos de infância". Não me interessa quem são, o que têm, onde moram....simplesmente começo a gostar. Mas sei que o mundo não é assim: hoje, a maioria das pessoas não faz amigos e sim networking. Conhece-se alguém e imadiatamente se faz a relação de quem essa  pessoa conhece, onde uma possível amizade pode levar, quanto tempo vale a pena gastar.
É prático, é moderno, é funcional e é infinitamente vazio. 

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Complexo do Alemão - as pessoas não merecem isso

Pouca gente sabe mas estive envolvida em um trabalho voluntário no Complexo do Alemão.
Não comentei com a maioria das pessoas que me cercam por achar que essa era uma atividade que só a mim dizia respeito e que mexia não só com minha vontade de compartilhar conhecimento com os menos favorecidos, mas dar minha contribuição para todo processo de inclusão social que, é senso comum, precisa urgentemente acontecer. É muito triste que  tenhamos que usar essa expressão "inclusão". Jamais poderiam ter sido excluídos.
O momento foi muito especial porque era um projeto sempre presente na minha cabeça mas jamais realizado por inúmeros motivos  e “desculpas” que a gente sempre vai arranjando para não interferir naquilo que achamos deplorável mas que, de verdade, achamos que não nos diz respeito.
Finalmente achei que me dizia respeito sim, e abri espaço no meu coração e na minha cabeça para abraçar essa causa.
Semana passada estava lá, visitando as estações dos teleféricos, participando da festa dos principais empreendedores que foram eleitos por nós, circulando pelos principais pontos comerciais do Complexo.
Hoje estou precisando falar sobre isso porque conheci tanta gente, fiz tantas amizades, tenho certeza (através de depoimentos deles) que fiz diferença na vida de alguns, e desenvolvi um enorme carinho pelas pessoas daquelas favelas que querem viver dignamente, que querem progredir e só precisam que alguém reconheça e valorize seus potenciais.
Agora, acompanhando a televisão, só pensava neles e no que estariam sentindo, se estavam em segurança e como estariam vivendo tamanha barbárie.
Como fiquei com muitos cartões e telefones, liguei para muitos para saber. Não podia ficar só imaginando.
O que me surpreendeu e me fez quase chorar foi o quanto agradeceram por eu ter ligado. Como me disseram sobre o conforto que sentiam por alguém se preocupar.
Pode-se imaginar o nível de  descaso e de falta de pessoas que se preocupem com elas?
Porque um telefonema meu é motivo de tanta emoção? Porque tratamos tanta gente legal como se não existissem?
Abomino tudo isso. Abomino a hipocrisia. É lindo atuar para a TV em rede internacional. É lindo gastar milhões construindo teleféricos com altas festas de inauguração. É revoltante escutar que precisamos resolver isso antes da Copa e das Olimpíadas. E se não houvessem esses eventos? Ah! me poupem de tamanha politicagm e fogueiras de vaidades.E o dia a dia? E as crianças? E os talentos perdidos? E o preconceito generalizado com as pessoas das favelas?
Eu estou de luto. 
Mas tenho muita fé de que de espetáculo em espetáculo essas pessoas  acabem sendo vistas como são: gente normal, talentosa, inteligente, empreendedora, digna e iguais a nós, privilegiados da Zona Sul.
Tenho fé que façam valer suas posições de seres atuantes e não vítimas que precisam de esmolas para viver.
É mais prejudicial ter as drogas proibidas com a polícia compactuando com os marginais para ganhar dinheiro fácil e o discurso babaca de que se o consumo parasse não haveria tráfico ou encarar de vez a situação: haverá consumo sempre e é hora de legalizar isso tudo?
Tudo que sei é  que aquelas pessoas não merecem isso.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Vem chegando o verão

Os homens podem  controlar o horário de verão mas não podem controlar o verão. O clima que paira no ar, o canto altíssimo das cigarras, a praia cheia às 19:00, a lagoa pulsando de vida, pessoas passeando, as ruas cheias, a vontade de sair de casa, de participar da festa, estas coisas acontecem de uma hora para outra. Não têm data marcada. De uma hora para outra o verão se anuncia e acontece. Senti isso hoje pela primeira vez esse ano.
E como é bom o verão!
Na década de 80, vivi verões inesquecíveis. Tudo era mágico. Tudo era “culpa” do verão. Qualquer exagero, qualquer excesso, qualquer loucura....ah, é verão....Tinha um amigo que costumava dizer “o verão é foda” e esse virou nosso lema por muitos e muitos anos.
Não havia nada que não fosse completamente sensual: os corpos queimados,  a pouquíssima roupa, todos de cabelos molhados sempre, pés de fora, pernas de fora. Dias inteiros  na praia, partida para Búzios absolutamente toda sexta à noite, muita cerveja, muita risada, muita festa.
Na Azeda, nosso fornecedor de caipirinhas de maracujá com carocinhos, o Seu João ( eu costumava dizer que morder o caroço do maracujá dava tesão, o que é óbvio já que é o “fruit de la passion") já nos esperava todo sábado.
E o que começava por volta de meio dia, se estendia às vezes até de madrugada (salvo as baixas que iam ficando pelo caminho) todos ainda de biquíni, aproveitando qualquer música para dançar e expressar aquela leveza, alegria e falta de compromisso daqueles anos.
Que delícia! que saudade! agradeço por ter vivido todos esses anos e verões com tanta intensidade e alegria, junto com amigos tão queridos, tão íntimos,tão próximos e tão engraçados. Acho que o que ri naqueles verões talvez pudesse ter valido para a vida inteira não fosse o fato de eu continuar a rir até hoje.
Hoje ainda amo o verão. Claro que o calor exagerado não é confortável; claro que o ar-refrigerado é a segunda maior invenção do homem – depois da anestesia; claro que já não temos a paz e a tranquilidade de andar pelas estradas e ruas de madrugada; claro que a vida não é mais a mesma, que vivemos a paranóia da camada de ozônio e pegar sol sem filtro solar nem pensar, nem as loucuras são as mesmas,  nem as expectativas. Claro que mudamos e estranho seria se não tivéssemos mudado.
Mas o verão...esse é o  mesmo.
Hoje adoro o verão para acordar bem cedinho e ir à praia quando o sol acabou de nascer. A areia ainda meio fria....leio o jornal, dou muitos mergulhos daqueles que lavam, enxaguam e passam o corpo e a alma. Ganho o dia.
Posso ir trabalhar ou qualquer outra coisa. No final da tarde, caminhar calmamente pela lagoa, totalmente inebriada com a beleza, com as fisionomias alegres, tomar uma água de coco, quem sabe uma cerveja, e ver a vida passar nem que seja por meia hora.
No verão sou turista no Rio. Meu olhar muda, minha vida muda. Tenho a mesmíssima rotina de sempre, mas tenho as férias na alma e posso olhar cada detalhe como se fosse a primeira  vez!
Mudei eu, mudou o mundo, mas o verão...ah! esse não mudará nunca!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Explicações cobradas, explicações dadas


Acabo de ser questionada por uma amiga, que história é essa de postar que desejo um amor se há menos de um mês atrás, no post “Escolhas” fui muito clara ao afirmar que tinha escolhido ser sozinha e que isso me dava muito prazer.
Vou tentar explicar.
Estar sozinha realmente me dá prazer. Graças a Deus, tenho um monte de coisas que gosto de fazer para as quais não preciso de companhia, meu mundo interior é rico o suficiente, meus pensamentos e curiosidades sempre me acompanham, de forma que, em geral, estou bem.
Mas (sempre o mas) tenho meus espaços vazios. Sei que todo ser humano tem esses vazios e que jamais serão preenchidos por ninguém (essa cura é, por definição, impossível).
No entanto, no decorrer da terapia, tenho me dado conta de que grande parte da minha “certeza” de querer ser sozinha vem da enorme dificuldade que tenho de estabelecer verdadeiras “associações” com as pessoas.
Associar-se pressupõe fazer concessões, dividir, estar aberta (e, pasmem! Sou um ser impenetrável para muitos – essa sempre foi a queixa dos meus maridos), deixar-se conhecer, derrubar muros, entregar-se, desnudar-se, colocar-se, ser clara, dizer o que está bom e o que não está....trocar o tempo todo.
Não estou falando só de relações afetivas. Minha dificuldade de associações verdadeiras vai além. Passa pelo trabalho, pela família...A única área em que me sinto mais à vontade e em que sou mais capaz de entrega é a amizade.
Então, investigando esse terreno dos vazios e das associações, deixei escapar uma quase escorregada que ia dando com meu ex-marido (nada importante mas foi tão bandeira que não dava para não investigar).
E concluímos que não era o ex que eu queria ou precisava, mas sim de alguém. O ex era apenas a figura mais, digamos, à mão.
E, pensando nisso, resolvi quebrar ou tentar “desacreditar” e desconstruir esse dogma que criei para mim, qual seja, o bom é estar sozinha.
Como primeiríssimo passo, me ocorreu que tinha que mudar meu discurso. Se continuasse presa aos mesmos pensamentos evidentemente nada aconteceria.
E foi por isso que chamei o post anterior de Confissões Corajosas, porque precisei de muita coragem para me contradizer totalmente e assumir que lá no fundo, preciso me associar com todo meu empenho e vontade, sob pena de eternizar essa pessoa que sou hoje e da qual nem gosto mais tanto assim.
Deu pra entender? 

Confissões corajosas

Para os meus talvez 3 ou 4 leitores mais assíduos, não é segredo que esse blog é uma ferramenta que uso para ajudar a organizar meus pensamentos e entender até onde o que penso bate com o que sinto e, mais importante, se o que pratico tem a ver com o que penso e sinto.
Claro que às vezes quero só compartilhar uma coisa que achei bacana e adoraria, com minhas reflexões ou impressões poder inspirar pessoas a também refletirem sobre suas próprias vidas. Mas isso são efeitos secundários que nem dependem de mim.
Uma vez por semana vou à analista e faço minhas livres associações para trabalharmos focadamente nas minhas “curas” possíveis.
Esse espaço aqui serve como complemento ao espaço terapêutico. Claro que as associações não são tão livres, há alguma censura já que é público, mas me ajuda a não deixar embolar tudo na cabeça e a mudar de assunto já que uma vez escrito, o assunto já não me “aluga”mais. Passo pra outro. Nem dá pra dizer como isso é importante!
Bom, dito isso, estou agora refletindo  corajosamente e sem subterfúgios sobre o que quero afinal para a minha vida!
Sei que querer é diferente de sonhar. Sei isso porque se tivesse sonhos ou desejos muito intensos eu já saberia, não teria que fazer força para tocá-los e imaginá-los. Fariam parte de mim e os perseguiria sem medir esforços.
Acontece que tudo que é muito difícil ou trabalhoso logo me faz perder o interesse.
Se sou minimamente inteligente sou aquela inteligente muito preguiçosa.
Esse espaço, num único post, não vai dar para falar de tudo que quero ou penso que quero em todos  aspectos. Tornariam-no insuportável, mas a coisa que primeiro me vem à cabeça como um desejo genuíno seria  encontrar alguém que eu julgasse definitivo e me apaziguasse o coração. Daí, toda minha energia estaria liberada para focar nos meus projetos e na manutenção dessa relação sem ter que ter ansiedade, ciúmes e outros sentimentos que nos desconcentram e drenam nossa energia.
Parafraseando não sei quem “queria a sorte de um amor tranqüilo e profundo, com sabor de fruta mordida”....só não queria precisar de nenhum remédio para melancolia ou para dar alegria”. Ao contrário acho que do Cazuza, eu acredito que um amor pode trazer alegria e não só tédio. Se bem cuidado e curtido, acho que um amor pode ser a paz e a alegria que todos procuramos.
Desconfio que estou viajando numa utopia que nem eu mesma sabia que podia acreditar.
Acho que estou mais romântica que os românticos e isso parece muito sonhador. (mas quem disse que é proibido sonhar de vez em quando?)
Então, juntando o que já me ocorreu em outros posts, acho que posso colocar a coisa na seguinte sequência: forte atração que leva à paixão/ lua de mel/ sonho total ( que na minha idade é mais moderada) depois descobertas e aprendizados juntos  (aprender a viver juntos), formação da intimidade e do respeito (não querer que o outro seja diferente), fazer da convivência algo muito afetivo e cheio de amor e finalmente ficar em paz!
Ah! e algo muito importante que ouvi a Dra Cuddy dizer para o Dr House outro dia quando eles estavam no impasse de não saber se tinham algo em comum a não ser o sexo. Ela disse: “não preciso ter nada em comum com você. O que temos é incomum e  isso basta. O comum é só comum. Quantas coisas comuns já vivemos na vida e não nos bastaram?”
Fecho com ela. É o incomum que é excitante e oferece possibilidades novas até o fim da vida!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Das vantagens de ser bobo - Clarice Lispector

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!  
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O  bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo


Enviado por um queridíssimo amigo que me conhece muito bem e há muito tempo. Como é bom quando as pessoas importantes na nossa vida, mesmo que não nos vejamos tanto quanto gostaríamos, entendem exatamente o que você é, sente e precisa.
Obrigada Paulo Roberto Salgado.
Amo você!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Belo Horizonte

Ah o que BH me faz sentir!. Não a cidade talvez, mas o que ela faz aflorar na minha alma, na minha pele, no meu coração.
É sempre a mesma coisa: meu afeto está aqui, minha memória mais doce, meus momentos mais felizes, minhas maiores vivências de amor infinito.
Aqui eu fui amada e amei muito. Aqui fui criança feliz. Aqui me festejavam, me botavam no colo, me faziam sentir o aconchego que nunca mais senti e talvez seja essa sensação que busco até hoje.
Aqui os jardins eram verdes, o flamboyant no quintal nos inspirava, vívíiamos entre inventar e sonhar.
Aqui tive avô, avó, tios e tias, primos e primas e ansiava por estar aqui durante o ano inteiro. As férias eram uma verdadeira festa. Passar a noite que  antecedia a partida do Rio para BH era praticamente impossível tamanha a ansiedade.
Entrarmos 5 no fusquinha do meu pai para encarar 3 dias de estrada (quando  ainda morávamos na Bahia) e 1 dia quando já morávamos no Rio, com toda sorte de “lanches”para a viagem, tinha o sabor de embarcar na primeira classe de qualquer avião e viajar para o reino da felicidade.
Chegar e estarem todos na porta, pães de queijo quentinhos esperando, broas de milho, balas de coco puxadas e repuxadas pela vó...quanta força ela tinha! Comer balas de coco quentes, grudando nos dentes era como comer todo o carinho com que  ela as fazia com seus braços cheios de amor e energia. E nos olhava emocionada comendo e rindo e  querendo sempre mais.
Belo Horizonte tem um cheiro....tem uma ar que por mais quente pra mim é fresco...tem um gosto de riso, de bonecas novas, de descobertas junto com as primas, de primeiros amores, de primeiras conversas de meninas virando mulheres.
Das gargalhadas debochando dos mais velhos, dos castigos amorosos pelas insubordinações “das meninas impossíveis”.
Não tínhamos a mínima ideia do que a vida seria.  Acreditávamos em Papai Noel, paramos de acreditar. Os Natais, ah os Natais inesquecíveis. Adultos à mesa farta, crianças correndo, gritando, presentes, beijos, muitos beijos...elogios, muitos elogios! "Como ela cresceu! Como é inteligente! Como está linda!" E tudo parecia dizer: "como a amamos"!
Acreditávamos que a vida seria sempre assim, que quem amávamos jamais morreria, que estávamos todos ali, imutáveis, firmes como rochas e assim seria a vida toda...
Fomos descobrindo as primeiras desilusões, as primeiras perdas das pessoas amadas, a ingenuidade foi acabando e nos deparamos com a verdade: a vida não era o que aquele viver feliz nos prometia.
A vida podia ser cruel, muito cruel...
Felizmente tivemos aqueles momentos todos para amparar nossos corações quando eles finalmente foram se partindo. Tínhamos a firmeza interna e a  confiança que só os passeios de barquinho, jumentos e farras no Parque Municipal puderam nos dar.
Nossas vidas sabem a pães de queijo e balas de coco e isso nos faz agüentar todos os trancos e ter até hoje, com os que sobraram, os encontros mais gostosos, mais sinceros, mais íntimos, mais infinitamente amorosos que se pode imaginar.
Aqui volto a ser feliz, a ser eu mesma. Volto a confiar. Volto a amar cada pessoa, cada rua, cada lembrança, cada risada.
E, talvez comece e ter certeza de que BH é o meu lugar.




terça-feira, 9 de novembro de 2010

Vejam se essa música do Caetano não é totalmente freudiana?

Nosso Estranho Amor

Caetano Veloso

Não quero sugar todo seu leite
Nem quero você enfeite do meu ser
Apenas te peço que respeite
O meu louco querer

Não importa com quem você se deite
Que você se deleite seja com quem for
Apenas te peço que aceite
O meu estranho amor

Ah! Mainha deixa o ciúme chegar
Deixa o ciúme passar e sigamos juntos
Ah! Neguinha deixa eu gostar de você
Prá lá do meu coração não me diga
Nunca não

Teu corpo combina com meu jeito
Nós dois fomos feitos muito pra nós dois
Não valem dramáticos efeitos
Mas o que está depois

Não vamos fuçar nossos defeitos
Cravar sobre o peito as unhas do rancor
Lutemos mas só pelo direito
Ao nosso estranho amor

domingo, 7 de novembro de 2010

Atração

Por quem nos sentimos atraídos?
Ironia das ironias, por nós mesmos!!
Explico: segundo a teoria psicanalítica, e vou falar aqui muito a “grosso modo”,  até os 5 anos mais ou menos, não temos nenhuma consciência do sexo ao qual pertencemos. Por isso, somos livres para nos identificar e imaginar que somos de verdade qualquer pessoa de que gostemos de qualquer sexo. Sendo menina, e sentindo falta do pai por exemplo, posso “alucinar” que sou ele para suprir a falta sem nenhum problema. Um menino, pode se identificar com a professora e “alucinar” que é ela a qualquer momento.
Por volta dos 5 anos acontece o terrível rompimento. Passamos a ter consciência do nosso sexo e temos obrigatoriamente que reprimir todas as identificações com o sexo oposto. A menina  não pode mais imaginar ser o professor (ela não é homem) e o menino não pode mais “alucinar” que é a própria mãe. Um pedaço nosso se perde para sempre.
Daí a constante sensação de falta e de não sermos seres completos. Amputamos uma parte nossa que foi parar no inconsciente e que, portanto, não está mais acessível.
Muito mais tarde, quando já podemos exercer nosso papéis sexuais de mulheres e homens, nos sentimos extremamente atraídos e nos apaixonamos por aqueles que têm alguma ligação com nossas identificações que foram reprimidas. Mas elas eram parte de nós e portanto, essa pessoa adulta que hoje nos atrai, nos atrai justamente por isso: por que nos reconhecemos nela e de certa forma ela é a gente.
Freud dizia (sempre ele, o gênio) : “Nada existe de mais egoísta e  mal humorado que o ser humano; aquele que só fica alegre quando quem veio visitá-lo é ele mesmo”. Não é perfeito?
 E mais : “A paixão suspende as repressões e instala as perversões”  diz Freud,  diante do fato de que nada nos separa do corpo amado, não há nenhuma repugnância nem mesmo diante do que normalmente (com outra pessoa qualquer) acharíamos nojento.
Algumas dessas paixões por si próprios dão em nada pelo simples fato de que quando necessariamente a intensidade do sexo diminui ( o que é inexorável com o passar do tempo pois nenhuma paixão dura para sempre) as diferenças entre os dois acaba e voltam a ser o que eram: a mesma pessoa. Viram irmãos gêmeos e já não podem mais se amar e fazer sexo.
O grande segredo do homem dividido é que, para ser um são precisos dois, daí os apaixonados usarem freneticamente o outro para se encontrarem inteiros.
Dizem os psicanalistas que  não tem que ser assim. O que se precisa é tomar cuidado para manter as diferenças acesas, para que a sexualidade não desapareça. Não devemos nunca nos "fundir" com o amado.
Para isso, é preciso que as duas pessoas tenham outras fontes de alimentação além do ser amado. Amem outras coisas e pessoas, sobretudo a si mesmos.
Há esperanças para o amor mesmo depois desse encontro tão eufórico conosco mesmos....
Aprendamos com isso!

Obs.: esse resumo foi feito a partir de um livro do Alberto Goldin chamado Amores Freudianos. É um livro velhinho que tinha aqui e foi dele que me lembrei quando comecei a pensar sobre atração. Sabia que já tinha lido algo que, para mim, explicava muito bem.

sábado, 6 de novembro de 2010

Amores, paixões e cotidianos

Fiquei ontem até de madrugada conversando com um amigo sobre a possibilidade e/ou conveniência de vivermos uma paixão depois dos 50 anos. Não ele e eu, bem entendido, estávamos só teorizando sobre a vida.
Claro que é uma conversa difícil e sem conclusão possível, sobretudo porque são muito poucas as palavras do nosso vocabulário para falar de uma gama interminável, sutil e sofisticada de emoções e sentimentos.
Falhamos já na comunicação. Nosso repertório para esse assunto se resume a amor e paixão e como isso é pobre!
Bom, mas ele dizia que nem dá mais para vivermos paixões pois isso requer um bocado de ingenuidade e, mais importante, paixão é sinônimo de sofrimento e depois dos 50 não queremos mais isso.
Mas as paixões não necessariamente precisam ser como a do Werther de Goethe ou as descritas por Proust. Podem ser mais felizes! Isso sou eu que penso.
O fato é que  não sei se essa associação dele tão imediata de paixão com sofrimento tem a ver com alguma experiência passada. Na prática está completamente fechado para esse tipo de sentimento que nos faz perder o chão, a respiração, passar os dias e noites pensando numa coisa só, que nos faz mover montanhas para estar com o objeto da paixão, que nos faz perder a noção de medida e nos deixa totalmente exauridos!
Então me caiu a ficha de por que toda vez que ele me conta de uma namorada nova e eu pergunto se ele está apaixonado ele diz: "Não!". E eu sempre ficava pensando: "como se pode começar um namoro sem estar apaixonado?".  É que pra ele isso não existe como possibilidade, o que não quer dizer que não esteja amando ou pelo menos gostando muito: eu espero.
Eu, por meu lado, dizia que ainda tinha esperança de viver isso, que a história das minhas paixões só tinha deixado boas lembranças, que todas as loucuras que fiz na vida por paixão valeram cada segundo (isso eu não disse mas estou pensando agora). Claro que algum sofrimento faz parte mas esse preço é bem baixo diante da intensidade,  da alegria e  da energia que a paixão nos dá.  Todas (ou quase todas ) as minhas paixões foram vividas durante o tempo certo para eu não morrer de exaustão e não botar toda a minha vida a perder. E se transmutaram em romances mais calmos e, consequentemente  casamentos. Casamentos acabam por vezes.  Ninguém sabe onde e quando eles começam a acabar mas um belo dia acabam. Faz parte.  Superada a dor em geral estamos prontos para começarmos tudo de novo. Com algumas variações e aperfeiçoamentos talvez (embora tendamos muito a repetir padrões mas isso é outra história).
Só o que a gente não espera, é que uma hora passamos dos 50 e muita coisa já dá preguiça, já não temos mais a mesma energia ( me lembro que me apaixonei por um cara que morava em  Búzios e saía do trabalho às 18:00 para ir dormir com  ele e estar de volta às 9:00 do dia seguinte! E se eu ficava triste ou chorava no telefone, ele se despencava, me botava para dormir e ia embora). Tirávamos de letra e fazíamos isso  muito seguidamente.....Hoje pensaria mil vezes e, claro, não faria. Como de resto não faria um monte de outras coisas. Mas não por falta de paixão  e sim de forças!
Assim, a paixão entre pessoas maduras de fato perde em intensidade, charme, surpresas e o meu amigo traduz isso dizendo que na maturidade é preciso viver “amores maduros” (são os tais amores que ele vive com as namoradas que eu só nessa conversa entendi).
Mas, fico me perguntando, será que só porque somos maduros os amores já podem nascer maduros? Começam maduros assim de uma hora para outra? Chegam à maturidade sem passar por nenhuma das fases que levam ao amadurecimento? Ser flor, virar fruto verde e por fim fruto maduro escapando de todas as pragas possíveis, dos passarinhos que os comem antes de podermos desfrutar desse fruto (com trocadilho por favor).?  Desconfio. O amor-flor é necessariamente diferente do amor-fruto verde que por sua vez é diferente do amor-fruto maduro.
Aí ele definiu a coisa de uma forma que a mim pareceu fria e calculada: os amores maduros se prestam a um “cotidiano funcional”. Nunca ouvi nada mais sem sabor - o fruto cheio de agro tóxicos e fertilizantes, amadurecido à força, que não sabe a nada.
Que graça pode ter um romance traduzido em "cotidiano funcional"? Um serve ao outro para facilitar o cotidiano, fazê-lo funcionar de forma menos insípida? Dependendo das "funcionalidades importantes" que compõem o cotidiano de cada um  - companhia para atividades, sexo certamente, conversas etc o parceiro deverá preenchê-las e assim se configurará um amor maduro. Neste caso, bastaria fazer uma lista de coisas a serem cumpridas pelos dois e voilà! nasceu um amor maduro! 
Nada se disse sobre o profundo entendimento mútuo quando calar expressa muito mais que falar, sobre a alegria permanente só pelo fato do outro existir e fazer parte da nossa vida, sobre a intimidade gostosa que só se conquista com o tempo e a convivência, sobre projetos e planos para o futuro e todas aquelas coisas que a gente costuma chamar de amor (talvez ele sinta  e tenha tudo isso em seus amores, só não tenha dito, não posso julgar).
Mas dito mesmo, a única coisa que me agradou muito foi que nesses amores um pode contar sempre com o outro. Isso é o máximo mas também há os amigos, a família, se for o caso de não temos um "amor maduro".
Gostei da expressão “amor maduro” mas discordo da mecânica da coisa da forma como a entendi, ou seja, praticamente qualquer um pode servir para um "cotidiano funcional".
E ele não deixa transparecer nem por um momento se está feliz, pleno e realizado com suas  escolhas. É uma incógnita. Não consigo saber se essa abordagem é capaz de trazer muitas satisfações, se é um caminho a tentar "imitar".
Talvez tenha sacado que a vida é só isso mesmo e querer mais é necessariamente se decepcionar. 
Isso é uma sabedoria: conformar-se com o pouco que é a vida nossa de cada dia; saber que plenitude e felicidade são meros conceitos sem a menor relação com a realidade.
Nesse caso, penso que o que daria sabor seria a busca, embora com a certeza de nunca encontrar.
Mas cada um sabe como pode e é capaz de viver. Como ele é incapaz de viver sozinho, "cotidianos funcionais" já estão valendo. Acho que para mim não serviria porque gosto da solidão e a vida sozinha (sem um parceiro) me dá muito prazer.Não há muitas "funções" que eu precise ou queira que alguém exerça.Talvez carinho e sexo mas até para isso preciso de outras coisas. Há sim "trocas" mais profundas que eu gostaria que acontecessem ainda na minha vida.
Não estou contando isso à toa. É que pensando e pensando concluí que não precisa começar por paixão (como ele mesmo disse). Concordei mas fiquei encafifada tendo certeza de que precisa haver alguma emoção, só não conseguia saber o nome
E a emoção que encontrei, mais próxima do que seria um bom começo é a atração! O resto, que venha se tiver de vir ou não venha!

Claro que esse assunto dá muitas e muitas teses e um dia contarei a história de uma paixão que tive, essa sim, plena de sofrimento mas que de tanto sofrer virou uma historia do folclore da nossa turma daquela época. Até aquela valeu a pena!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

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Jean-Jacques Sempé

Tive meu primeiro contato com a obra de Sempé exatamente em 1989.
Sei isso por conta de que algumas cenas, sem mais nem menos, fixam-se em nossas memórias sem motivo aparentemente especial.
Lembro-me perfeitamente da casa do amigo em que vi o livro, do namorado que estava comigo, e de como, atraída que sou por estantes onde elas estiverem, fui bisbilhotar a da casa  do amigo do namorado. Encantamento à primeira olhada. Passei horas folheando e me deliciando com aqueles desenhos meio tristes, meio mágicos, muito engraçados. De uma graça melancólica e que não provocam exatamente gargalhadas, mas longos sorrisos.
Próxima providência: ir  à livraria no dia seguinte e comprar para mim o que houvesse dele. Achei uma coleçãozinha de 6 livrinhos finos que me deleitam até hoje.
Sim, pelo menos uma vez por ano, vejo tudo de novo, com a mesma ternura em relação aos personagens, com a mesma admiração pelo humor afiado e ao mesmo tempo complacente desse cartunista cujos heróis são homens comuns não raro deslocados de seu tempo e lugar (Paris na segunda metade do sec.XX), e a inspirada ironia com que trata a empáfia, a pretensão e a profunda distância entre a propaganda e os meios de comunicação e o homem comum, confuso do seu papel de protagonista ou vítima de uma época de mudanças cruciais na vida parisiense, sobretudo diante da “invasão de hábitos americanos”.
O desenho é lindo, fino, sem excessos, mas dando a exata medida do caos interno do “ser” parisiense de então. Mas com muita delicadeza e empatia.
E daí? perguntarão alguns. E daí que, não sei por que, me dei por satisfeita com meus livrinhos e nunca mais fui à cata de novas obras de Sempé.
Domingo, abro a revista Serafina da Folha de São Paulo e me deparo com uma matéria dedicada a ele. UAU! Ele  é um dos monstros sagrados da New Yorker, já fez parceria de sucesso estrondoso com Goscinny ( o roteirista de Asterix que também amo) – Juntos fizeram o Pequeno Nicolau ( Sempé com o desenho, Goscinny com o texto) e agora está lançando no Brasil um novo livro, “Raul Taburin” (Cosac Naify).
Ah! em 2009 saiu aqui também “Marcelino Pedregulho”. Nem soube de nenhum deles. Ser alienado!
O problema, o único problema, são as traduções. Quem não consegue ler francês (acho que a maioria das pessoas) perde da missa a metade. Eu considero a língua francesa muito apropriada para o humor (Asterix em francês é de rolar de rir.!!!!).
Nos livrinhos de Sempé  que tenho, há poucas palavras. Os desenhos dizem muito mais. Se for o caso dos novos, menos mal. Se não for, teremos que rezar para que as traduções sejam minimamente razoáveis (as do Asterix na maioria das vezes são honestas e aceitáveis). Mas Marcelino Pedregulho! Cá entre nós, não me parece um bom começo.
Publico acima, por absoluta incompetência, como degustação,  um dos cartoons mais geniais que vi nos meus livrinhos. Achei na Internet. Reparem a cara dos telespectadores diante da pergunta. É de rolar de rir. Por sorte achei em Francês e Português
Queridos, não percam. Sempé é um gênio e não dá para deixar passar.
Divirtam-se!