Vou aqui
fechar um ciclo. Eu tinha a forte impressão de que só agora, depois do Blog é
que me aconteceu fazer poesia, gostar de fazer poesia e mais: querer me
aventurar a ser poeta. Mentira. Remexendo minhas coisas, encontrei uma pasta
que não tem data mas me parece toda escrita nos anos 80. Tudo escrito a mão,
papéis amarelados e assuntos que pelo menos alguns, posso reconhecer. Li, me
emocionei e não julguei.
Boas, más,
infantis, não importa. Em algum momento, lá atrás, o ímpeto de escrever já me
tomava e quem pode garantir que foi aí que começou?
Então, para
que eu saiba ao certo de onde vim e com sorte, possa fechar esse ciclo, preciso colocar
isso no Blog.
Como nada
tem data, escreverei aleatoriamente, mas me parece que tudo foi muito próximo.
Não se condoam com a tristeza que muitas
vezes aparece. Ela foi minha companheira de vida e hoje é muito menor do que já
foi um dia.
É bastante
coisa mas vou colocar tudo de uma vez. Quem não tiver saco, pula essa. Não
faria sentido picotar uma fase que no mínimo tem 30 anos.
Rezem para
o meu baú não ser igual ao do Raul.
I – Nenhuma hora do dia
Nenhuma hora
do dia
Me parece a
hora de fazer nada
O dia
afugenta o eu mais interior que à noite, na cama tenta aflorar
O dia
adormece as ideias e entorpece os pensamentos
Preciso
estudar, não consigo
Há em mim
uma ânsia constante que me é inexplicável
Uma constante
agitação interior
Um desconforto
que é da alma
Um constante
ter que fumar, comer, levantar, ler dez livros diferentes,
Declamar,
falar sozinha, cantar e até dançar.
Não tenho
paz, tranquilidade, estabilidade
Hoje quero,
amanhã não
Hoje gosto,
amanhã não mais
Agora penso
uma coisa, em cinco minutos, outra
Hoje sou
uma, amanhã não sei quem serei
Não tenho
explicações, tenho fatos
Não consigo
ser a analista de mim mesma
E a luz
intensa do dia, parece que acorda todo o turbilhão
E ele me
domina e amarra os sentidos como pés e mãos.
A noite é
diferente
A noite vem
leve, vem nua, vem como um sopro fraco e longo e se instala
Vem transformando
essa maldita claridade – que é linda!
Num escuro
que é só exterior e faz a alma se sentir iluminada.
Parece que
na fronteira da consciência existe uma lucidez impossível.
Perto de
dormir, me vejo e reconheço
Me explico,
me desembaraço e tenho paz
De manhã já
não lembro, já não sei
Tenho apenas a sensação do que foi essa viagem
ao interior de mim
Adoraria
poder escrever esses passeios, mas não posso
Nunca posso
me levantar. Tudo é tão leve e fluido que qualquer roçar de pluma,
transformaria o lindo sentimento
Em
fragmentos dispersos e sem volta.
Há poesia
em mim nesses momentos
Há beleza
mesmo diante das visões mais feias
Há a paz de
quem sabe que dali para a frente só o sono e a inconsciência
II -Bolo de Chocolate
Feito em
casa, uma “dilícia”
Foi dado
com muito amor
Em meio a enorme
alegria
Ao querido
professor da nossa “acadimia”
O bolo era
modesto
Tinha só um
andar
Deu o que
falar deu história
Sem
cascatas nem dizeres, o bolo deu até dedicatória
Sem
deboche: comi o o bolo
Ou antes a
imagem, o pensamento
A ideia
doce e macia
Com perfume
até por um momento
Comer,
querer....
O que é
difícil ou fácil não importa
Querer, prá
mim, dispensa o complemento
Tenho um
lado irremediavelmente cínico
Irresponsavelmente
debochado
Mas é só um
lado, não dói
E pelo
menos torna tudo muito mais engraçado
Agora vou
te contar um segredinho
Não sei se
devo mas é verdade
Não sei
cozinhar nem feijão nem arroz soltinho
Mas tenho
uma especialidade
E, meu
deus, que ironia!
É um bolo
de chocolate!
III – Isso é feio
Isso é feio
As pessoas
não podem ser assim
Precisam
demonstrar solidez e segurança
Precisam
ter ares de bem sucedidas e estáveis
Precisam de
um leve sorriso de – venci!
Fora isso,
não se é confiável nem potencialmente amável
Por isso,
esconda suas frustrações, seus medos, seus receios
Estrangule
com um lençol suas incoerências, suas dúvidas.
Estude um
comportamento definitivo
Estampe na
cara um sorriso complacente
Ajude o
próximo, seja bom
Não deixe
escapar nenhum sentimento descortês
Guarde suas
tragédias interiores para antes de dormir
Promova
seus sucessos e esconda muito bem seus fracassos
Use bonitas
roupas e gostosos perfumes
Tenha um
belo carro e as chaves de uma casa própria
Jante em
restaurantes, sorria
Ilumine os salões
com sua cara limpa e barbeada
Agarre a
máscara que você compôs e grude-a com muita cola de hipocrisia no rosto que
jamais será seu
Ajude os
outros, crianças a jovens a construírem suas próprias máscaras
Mostre a
eles o caminho da verdade social
E siga com
a festa
Você lindo,
recomendável, confiável
Com sua
companheira mais deslumbrante e cheia de brilho
Dancem,
riam, façam concursos de máscaras, aproveitem porque é só isso
e....
danem-se.
iV – Quero agora me relatar
Quero agora
me relatar e delatar
Quero me
entregar
Admito a
culpa e sento, tranquila, no banco dos réus
Não porque
espere a absolvição ou perdão
Mas porque
julgada, terei clareza do porque da minha prisão
V – Vou passar mais uma noite aqui
Vou passar
mais uma noite aqui
A angústia
me corrói
Chego a
quase sufocar
Não sei o
que fazer
E, ai meu
deus, como dói
Pensei um
vida diferente
Lençóis macios,
flores na mesa
Onde o
engodo? Onde o erro?
Que é isso
que agora desmente
Todo o
sonho de que fui presa?
O que é
essa angútia, esse medo
Esse querer
me mexer sem conseguir?
Essse constante
quero e não quero?
Essa
vontade de ficar e de partir?
O que me
vai no fundo da alma?
Como chegar
aa saber?
Só tenho
perguntas sem respostas
E queria
tanto um pouco de calma.
VI- Não sei o que faço de mim
Não sei o que
faço de mim
Para onde
levo a minha vida
Tenho medo
que não tenha fim, essa eterna despedida
Tenho
vivido sem viver
Estado sem
estar
Estou
sempre na iminência
Alguma
coisa sempre está por acontecer
VII – A vida é uma só
A vida é
uma só
E é tão
difícil fazer a opção entre lutar pelo que se é – no fundo
E assumir o
que se deve ser!
Desespera
pensar em matar para sempre o que em nós existe
De mais
íntimo e pessoal
Mas é tão
pouco provável vencer de verdade a luta
por não morrer!
Errar ou
acertar!
Eis uma
única chance, uma única vez!
Mas é já
tarde pra decidir e o melhor é dormir
Existir por
fora sabendo não ser essa a verdade
É pior que
todas as provações, todas as torturas
É não
sentir-se sendo
E sendo
apenas para existir
O mal de
tudo está em pensarmos
Os que não
pensam, e por isso não sofrem
Passam a
vida preocupados só com comer e ir vivendo!
Com
prazeres do corpo e da carne
Ficando a
alma esquecida
E quando
tem sido lembrada, não passa de coração.
Não sei de
nada
Não sei nem
se seria mais feliz se não pensasse
Mas penso e
isso me basta para invejar a inconsciência
Que pelo
menos errando,
Não tenha
eu tempo de pensar no que fiz de mim
E não possa
me arrepender!
Viii – É possível olhar
É possível
olhar e ver o instante,
Sem ser o
mais importante
Olhar pra
fora, mudar o centro
E ver tudo,
ainda com os olhos de dentro
É possível
dizer não ao fardo supérfluo
Carregar só
o peso inevitável
Descartar
as dores inventadas
E, de todo,
ver sempre as coisas engraçadas
É possível
não fazer sacrifícios
Juntar
sempre ao mal algum astral
Que nada
seja tão horrível
Eu sei,
tudo isso é possível
Ser feliz
e, no entanto, consciente
Essa a
maior tarefa, a maior missão
Não importa
se temos dor de dente
O
importante é que não seja uma prisão
Este é um
projeto de vida
Estando já
resolvido
Que feliz
terei vivido
Estando já
planejado
A vida e o
sonho imaginado
Feliz de
quem vive esta vida
Feliz de
quem se mantém feliz
Eu não
posso que sou louca
Não posso
que sou atriz.
iX – Só nessas horas
Só nessas
horas lamento não ser poeta
Nas horas
críticas da síntese
Em que
seria preciso que uma palavra ou um verso
Traduzissem
ou deixassem antever
A
existência ampla e bela
Do que estou
tentando compreender
X- Decepção muda
Decepção
muda
Humilhação calada
Quem é você
que entra e sai
Vem e se instala
Vai e me
contrai?
Que amor de
louco senti?
Que mito
inconsciente criei?
Que vidas,
nessa vida revivi?
De onde
esse impossível “resistir”?
Um enorme
vazio me ocupa agora
O amor e a
dor foram roubados
Não tenho
ciúmes, sequer saudades
Só a
vontade de ir embora
Um insípido
retrato na carteira
Que
importância se já nada lhe atribuo
Vontade de
rasgar ou devolver
E matar a
dor da vida inteira
Noite de
vigília obrigatória
O vinho, o
rock, a minha história
Quero, por
opção olhar pra isso
Mesmo que
nada haja senão....
A glória de
não ter compromisso.!
XI – mais infeliz impossível
Mais
infeliz impossível
Mais distante
Mais vazia
Mais desvinculada
Mais,
mais...
Sozinha!!!!
Arre que
estou cheia da vida que é por fora
Por dentro,
se choro `a alma cheia
Por muito
dentro sofro com o mundo,
A vida, as
vísceras e ...o Raimundo
Não foi uma
solução???
XII - Gostaria
Gostaria
que a vida fosse boa por acontecer assim
Não quero
morrer mas viver dá tanto trabalho!
No fundo, o
que sou é ser covarde
É não
querer decidir, brigar, enfrentar...assumir
Falo dos
outros: acuso-os de dissimulados, comodistas, alienados
E eu que
não passo de tudo isso e muito mais?
Tenho
máscaras adequadas para todos os tipos de ocasiões
Tenho
comentários mordazes, risos de inteligência, ares de superioridade.
Olham para
mim: como é feliz! Como é tranquila e a vida não lhe pesa!
Risos, piadas,
conversas alegres...mentira!
Sou triste,
sofro, não me encontro
Não tenho
ideais reais, ligações objetivas, sentimentos sólidos
Tenho sim
sonhos, muitos sonhos
Sonhos que
jamais serão realidade porque sonho apenas para esquecer quem sou
E essa vida
que desprezo
Xiii - Talvez
Talvez haja
um poeta adormecido em mim
Um poeta
que é todo sono, todo sensações,
Sem
palavras mas com rimas perfeitas para os sentimentos mais essenciais
Um poeta
noturno e errante, que faz com que a vida seja bela ao menos por instantes
E eu, nos braços desse poeta, uma pessoa descansada
e confiante.
XIV – Num instante fisológico
Num
instante fisiológico, a revelação.
De repente,
como numa vertiginosa visão, compreendo.
O filme das
complicações, das tristezas, das alegrias, é projetado todo de uma vez.
Não preciso
pensar em nada especial para ver tudo
Tenho uma
visão global sem nenhuma memória particular.
É como se o
pensamento tivesse mil planos e, todos superpostos, fossem a vida toda,
De uma só
vez.
Este é o
pensamento claro!
Estava tudo
planejado!
Que
alegria, que tristeza, que medo, que liberdade, que sensação de dever cumprido,
que confusão!
Vou contar
como aconteceu.
XV- Não perder mais tempo
Não perder mais tempo!
Olhar a
vida de frente
Com garra e
força
Mudar tudo
de repente
Não mais o
sonho por sonho
Não mais a
alegria só sonhada
Não mais
ser feliz em fantasia
Ser! E com isso
produzir alegria!
Não! Ao fardo
que é supérfluo
Não! Ao sacrifício
que é funesto
Não! Ao ser
por ter que ser
Não! À infelicidade
de viver
À parte o vazio
de ter que viver,
À parte
essa alma angustiada,
À parte o
sonho inacabado
Fora tudo
isso,
É possível
ser feliz!
XVI – Às vezes
Às vezes
tenho momentos da mais absoluta lucidez
É como se
tudo que eu sentisse e pensasse e agisse
Fosse palpável
e passível de lógica explicação
Mas à
primeira tentativa de verbalização,
Já tudo
parece fluido, como quando se abre os olhos
E se
esquece do sonho que se tinha tido
XVII- Uma voz
Uma voz
falava no coração
Vinha da
pele, vinha do peito
E quanto
mais gritava mais ia sendo sufocada
Eu te via e
tocava o bom, o mau e o feio
Camel, era
a vida vivida aventura
As cordas,
os ventos, as ondas, as tempestades
Medo, de
trocar a terra pelos mares
Que grande
ironia!
O que era
firme desfez-se em terremoto
Romperam-se
todos os nós, todos os laços
E encontro
de novo a paz na doce calma dos teus braços
Tarde
demais para arrependimentos
Fica disso
só um grande ensinamento que agora acho que aprendi:
Não devo à
ninguém fidelidade
Só à mim e
à minha liberdade
E ao meu
projeto de felicidade!
XVIII-De um lado para o outro
De um lado
para o outro
De um
instante para o outro
Tem sido
dura essa passagem
Essa penosa
e sofrida aterrissagem.
Das alturas
de ser imortal
Das nuvens
dos projetos infalíveis
Da
segurança da mulher especial
Desaba
agora um monte de carne e ossos,
Uma alma irrequieta
e banal
Que busca a
si mesma no meio dos próprios destroços.
O mundo
circunscrito imaginado
A
previsibilidade dos fatos,
A receita
sempre pronta dos remédios,
Tudo, tudo
desfez-se em dúvidas quase sempre sem respostas.
É a vida...
Ai que só
agora compreendo que é a vida
O que é essa
louca dinâmica que é real,
Esse estar
sempre prestes e na iminência
O estar
sempre sujeita e ....
Finalmente aprender
a ter paciência.
XIX- Falar de amor
Falar de
amor sem ser pouco
Quando a
voz que sai o som sai rouco
Querer
captar o instante, o múltiplo sentido
E nem por
isso sentir-se louco.
Poder olhar
de frente as visões da alma
Os mares
mornos, a tempestade, a calma
Ver de
perto a imagem outra
Excitar-se
e odiar-se
E nem por
isso sentir-se lama.
XX- AIDS
AIDS
Atitude
individual
Arrependimento
impensável depois do sexo
Não por
amor, só por prazer
Algum,
pouco prazer
Arrependimento
Insensatez
Depois do
sexo
Pelo sexo
XXI – Não posso
Não posso
ouvir música aqui
Traz um
aperto
Uma
nostalgia do que não foi
Uma vontade
de viver outra pessoa, outro lugar
Outra vida.
Não pode
ser.
Vida de
optar, vida de decidir
Vida de
mudar
Posso?
Tenho sono
até a alma
Sono de
viver, de pensar, de sentir
Tenho dois mundos
Um real,
como esse quarto e esta mesa e eu ser estatística
E ter uma
tese pra fazer e não saber
Outro
lindo, diferente. Não sei bem como mas diferente
Livre.
Estatística talvez com tese pra fazer
Mas livre
XXI – Queria muito
Queria
muito ter um momento criativo
Um momento
surrealista, metafórico,
Em que
dissesse com beleza e ritmo
Tudo o que
me vai na alma
Ser poeta
ao menos uma vez
Escrever
versos, olhar para eles, me ver e aos meu sentimentos
E não
encontrando beleza me conformasse
Voltando à
escrita medíocre e à tristeza.
XXII- De
baixo do a
Debaixo do
a tem uma janela
Que
pertence a um mundo povoado de ideias , sonhos e ideais mal resolvidos.
Debaixo do
a a vida para
E continua
num eterno vai e vem de sensações bem definidas.
Em cima do a , o céu, os aviões, a ponte aérea
e o que se vê de lá
é muito
menos que embaixo do a.
Embaixo do
a a gente se vê de tão perto que se
vê torcido
Ora feio,
ora bonito
Num jogo de
espelhos que empurra pro infinito
O a tem lados, quantos serão?
Em cima o
céu
Do lado de
cá um l
Do lado de
lá o abismo e em baixo a escuridão
A escuridão
das almas que habitam embaixo do a
Que de tão
escuras se iluminam
Como quem
se cansa de estar doente e fica são.
XIV – Não sei se é bom ou mau
Não sei se
é bom ou mau
É um misto
de paz e distanciamento
Uma leve
angústia por trás
Que nome
terá esse sentimento?
Vontade de
estar só, de ver ninguém
Fantasia de
estar com quem ,
Em sonho se
ama (me ama)
Bastando
isso, sem ir além
Reunião
calada de corpos e almas
Esse o
maior desejo
Nada pra
fazer nem pra falar
Estar
quieta e nem por isso deixar de amar.
XXV- I ching
Jogo e ele
me diz que tudo bem: sucesso no empreendimento!
Empreeendo
não sem dor.
Dorme!
Terei
realizado ou não?
Terá havido
humilhação ou arrependimento?
XXVI- Ronaldo
Sabe porque
não vou morrer de modernismo?
Por que não
quero.
Por que
nada me vai até a alma. Tenho um pé dentro outro fora da vida.
Só me
envolvo até o meio.
Eu sei. Estou
de fora. Não vivo. Nunca. Carrego.
Feliz de
quem vai morrer de tesão, emoção, irritação, dedicação, amor enfim....
Participação.
Ronaldo, depois dessa acho que preciso de uma pílula de super ego.
XXVII – Estou triste
Estou triste. Estou muito triste
O sol que existe lá fora,
E que costumava me consolar, já não consola.
A vida que há pela frente, todo mundo, toda gente
Ao invés de me aquecer, me esfria.
Não me sinto só
Tão pouco me sinto parte de qualquer coisa
O mundo que me cerca e era meu, não é mais.
Ruiu, acabou, ficou pra trás.
Eu, fico triste.
O homem que amei está triste
Culpa minha?
Não sei e detestaria que fosse assim.
Ele não pode acreditar em mim. Está magoado e eu o amo.
Como decidir entre um homem e a vida se os dois juntos formam eu?
De qualquer forma perco um pedaço.
Me sinto agora como uma peça que não pertence ao jogo mas que teima em
lá estar
Talvez porque o tabuleiro para o qual foi talhada não exista mais.
Me sinto agora como quem acorda de um lindo sonho e não sabe onde está.
Tento, com todas as forças lembrar-me onde foi que dormi
E não consigo
Me sinto partida, esquartejada
Dividida em dois, dez, mil pedaços
Uma parte fica com ele, outra com a casa,
Muitas com o projeto fracassado,
Outras com a fidelidade que sinto que devo às pessoas que me cercam e me
querem tão bem.
Me sinto má, sombria.
Sinto-me a causa de um enorme desastre aéreo em que todos estão em
estado muito grave
Menos o piloto, que apesar de tudo, parece que se recuperará em breve.
XXVIII- mais uma vez
Mais uma vez subestimei a você, a mim, a nós
Mais uma vez amei e me recusei a escutar essa voz
Estou agora morta de saudades
Olhando insistentemente para um telefone que não toca
Lutando contra a enorme vontade de me dar
E sendo mais uma vez inócua.
Peço perdão por nós dois
Quisera ter dito e sentido tudo que de repente de mim começou a fazer
parte
Mas não, deixo tudo pra depois
E agora tenho que viver com a tristeza, castigo de quem prefere ser
covarde.
XXIX- Inaugura outra
fase
Inaugura agora outra fase!
Outra vida, outro sonho, outro pedaço
Esquece o que até agora foi o laço
Afrouxa que é seu o novo passo!
Que bom, que feliz que já me sinto
Que tola, que bobagem assim sorrindo,
Quero, te quero, a vida sem ansiedade
Adoro isso que vivo sem saudade!
Tudo que agora faço, faço sem mal nem dor,
Tudo que agora quero, quero sem nenhum rancor
Estou feliz. E se for?