Não tem
erro. Se temos mais do que 45 anos, nosso corpo de hoje, por dentro e por fora,
revela o que fizemos dele durante a vida toda. Tenho pensado nisso e, por uma
dessas leis da sincronicidade que não entendo mas que acho maravilhosas, ouvi
de um médico na TV e da Christiane Torloni a mesma frase. Ela diz que seu corpo
carrega todos os erros e acertos do passado. No caso dela, sendo bem
maledicente, acho que o corpo ainda carrega umas tentativas de acertar o que o
tempo tratou de piorar. Não importa.
Mas para
que pensar nisso? O estrago já está feito. Já bebemos, já fumamos, nos drogamos
se for o caso, já dormimos pouco, fomos das festas direto para o trabalho, já
não fizemos exercício ou fizemos em excesso, já nos estressamos com e sem
motivo, já trabalhamos dia e noite, já comemos todas as porcarias do mundo, outros já não comeram nada, já
nos desafiamos de todas as maneiras. Para quê, se não tem volta?
Penso eu
que para tudo, menos para nos arrependermos. Acho sim, que para entendermos. Para
nos resignarmos ao ter que deixar todas as inconsequências para trás e passar a
nos cuidar melhor. E como é gostoso cuidar do animal que somos, que nos
empresta o corpo e anseia por carinho, atenção, afagos, conforto e muita, muita sinceridade e olho no olho.
Ninguém maltrata um bichinho de estimação ou uma criança. É o que viramos nesse
“terceiro ato” da vida.
Para muitos de nós, por anos e
anos o corpo foi uma entidade invisível. Por muita falta de informação no nosso tempo e porque tínhamos uma visão puramente ocidental. Felizmente a cultura oriental veio bater em nossa porta e tivemos a oportunidade de rever muitas coisas. Claro que sempre há exceções, mas estou
falando da maioria da minha geração. Lembro que num dos períodos brabos de “virada”no
trabalho por conta de um dos planos de estabilização econômica do governo, períodos
em que nem íamos para casa trabalhando dia e noite para acertar todos os cortes
de zeros, tablitas e etc no sistema gerador de extratos dos clientes, um sábio
homem mais velho me disse: “preste atenção porque a saúde é uma conta de
estoque sem reposição. Tudo que você gastar demais agora, faltará lá na
frente”. Claro que nem liguei. Continuei estressadíssima, fumando um cigarro
atrás do outro e passei sei lá quantas noites dormindo 2 horas por dia. Hoje
entendo perfeitamente a seriedade do que ele dizia.
Hoje adoro
cuidar de mim. Adoro ter parado de fumar. Adoro não gostar mais de beber. Adoro
não perder mais meu tempo e energia com o que não importa e, sobretudo, com
quem não me acrescenta nada, adoro optar pelo sono. Acho perfeito cultivar meu intelecto e meu
espírito junto com o corpo. Finalmente entendi que os três é que formam o que
sou e que, cuidando de um, estou cuidando de todos. São inseparáveis.
Quando se cultiva a compaixão, o amor, a fé no ser humano, a alegria, não é só o
espírito que fica mais bonito, isso aparece no corpo, na pele. Da mesma forma
uma boa alimentação torna o espírito mais leve e favorece as curas físicas e
emocionais.
Parece que
há um tempo para cada coisa. Para cada estilo de vida. Para cada escala de
valores. Tirando as pessoas muito fora da curva – de um lado aquelas que sempre
souberam que o corpo era sagrado e de outro, aquelas que o detonaram de forma
irreversível, na média temos tempo e vigor para viver quase tudo, para conhecer, refletir,
mudar tudo e deixar para trás o que já está no tempo errado. Sem saudosismos nem arrependimentos.
Serenamente.
Me
parece que “erros e acertos” do passado talvez não seja a melhor forma de
definir o que nosso corpo reflete hoje, porque essa expressão é cunhada segundo
a ótica do que sabemos hoje. Prefiro pensar que o corpo reflete nossas escolhas
que foram sempre certas porque eram a forma como sabíamos, podíamos e queríamos
viver. E todos nós sabemos que esse “querer” tem origens tão profundas que na
maioria das vezes são inacessíveis. Abaixo a culpa e a revisão do passado impregnada de
conceitos de hoje.
O que tento
passar hoje, para pessoas de qualquer idade, é a noção do quanto é gostoso
cuidar do corpo. Por dentro e por fora. Não porque mais tarde ela colherá os
frutos desse cuidado, mas porque é agora que ela será mais feliz e inteira.