Essa é a
frase que mais tenho ouvido nesses tempos de renúncia de Bento XVI e em que se
tem discutido os rumos e problemas da igreja católica apostólica romana.
E não me
canso de pensar: renova-se para quem cara pálida? Para o papa que agora pode
renunciar e desistir de carregar sua cruz, coisa que cristo não pode fazer. Nem
eu e nem você. Temos que viver com nossas dores, nossas doenças incuráveis,
nossa falta de dinheiro, de emprego, de comida. Temos que carregar nossos políticos corruptos, nossas enchentes
e tantas tragédias pessoais e gerais, diárias, sem trégua. Não podemos
renunciar.
Renova-se
para os padres pedófilos cujas punições e apuração dos fatos nunca
ficam claros para mim. Renova-se porque não precisam mais usar batina e toda aquela
roupa quente e pesada. Porque podem ser os reis da mídia, verdadeiros pop stars
– cantar, escrever, fazer missas para milhares de fiéis. E tantas ouras
“renovações”, a meu ver ,de caráter unilateral e de uma superficialidade a toda prova.
Continua a
mesma para os gays, para quem quer fazer sexo por prazer, para quem quer se
proteger de doenças sexualmente transmissíveis, para quem não quer ou não pode
ter filhos.
Continua a
mesma para julgar e acusar de pecadores todos, os adúlteros, os fracos, os que
comem demais, os que gostam de festas, os que não rezam, enfim, os que não
seguem o que eles chamam de “a palavra” escrita numa bíblia que ninguém sabe
quem escreveu – de tantos que nela meteram a mão de acordo com suas
necessidades nos tempos em que, mesmo no ocidente, estado e igreja eram a mesma
coisa.
Continua a
mesma como se a bíblia fosse um fax mandado por Deus e a tal “palavra” viesse
do céu e não dos homens. No antigo testamento então, nem se fala. A palavra de
Jesus Cristo, mais recente, mais provável mas também muito adulterada e envolta
em mistérios, também não podendo ser reinterpretada sob pena de irmos todos
para o inferno.
Continua a
mesma para nós mortais que devemos sofrer bastante nessa vida, esperando que a
vida eterna nos traga todas as recompensas.
Continua a
mesma para alimentar fartamente nossas culpas e
temores e criar as figuras disformes mortas de medo e de fome quase
pedindo para morrer. Nunca renunciar.
Vejo a
televisão o dia todo e me pergunto sem parar: que diabos todo esse cerimonial,
essas roupas, esses prazos, essas regras, representam para mim, para você, para
o mundo? E o anel de pescador? Símbolos que se misturam para nos confundir deliberadamente e nos fazer sentir pena do que apenas merece desprezo - para dizer o mínimo.
O que muda
nas guerras, nas tensões, nas crises, na fome mundial se há um, dois ou mil
papas ao mesmo tempo?
Porque
torcer por esse ou aquele cardeal se já está dito que “a igreja se renova mas
continua a mesma”?
Algo a
esperar? Nada. Tudo leva a crer que se nenhum papa for eleito nem vai dar para
notar.
A igreja
não quer mudar e está fadada a acabar pelo menos nos moldes em que existe. É
aritmético: saem mais fiéis do que entram, é só fazer a conta para calcular o tempo de extinção.
Eu me
rejubilarei.
Que Roma –
ou o Vaticano especificamente, queime outra vez na própria fogueira de
ganância, vaidade, corporativismo, preconceito e injustiça que criou.
Que o novo
e, espero, último papa, seja o Nero moderno, louco, corajoso e performático que acabe com
o que os milênios fizeram apodrecer, com
os ratos que passeiam impunemente nos esgotos das mentiras, dos segredos e das
politicagens e a igreja católica apostólica e não romana, renasça descalça, sem dinheiro,
generosa, amiga, piedosa e humana o suficiente para nos mostrar que todo humano
é divino e, portanto, segue o rumo da perfeição. Queira ou não.