sexta-feira, 13 de julho de 2012

Ensaio de uma breve despedida

Você achava que não tinha certeza sobre seu futuro. Você sabia isso com uma certeza para lá de incerta. Tudo podia  ser.
Pensa ter certeza de que você não tem certeza.
Pensa saber que sua vida virou de repente e vai, com certeza, lhe arrastar para onde você não quer ir.
Pensa a correnteza, o roda-moinho, a falta de ar, o afogamento. 
Pensa o esforço para escapar. Pensa desistir.
Ao contrário de tudo que pregam as filosofias e psicologias que dizem não desista, você quer se acomodar com sua nova posição.  Quer se largar, se acoitadar, chorar, abrir mão.
Abrir a mão. 
E por ela deixar escorrer sonhos, planos. Seus últimos sonhos e planos. Guardados com tanto carinho.
Você quer sentir seu medo em paz. Você não sabe medo exatamente do quê, mas sabe que vai ser muito ruim e sua espinha gelada lhe lembra disso o tempo todo.
Você não quer que o mundo lhe pergunte mais nada porque simplesmente você não tem as respostas.
Você quer o silêncio e eventualmente o barulho do seu nariz fungando.
O medo não foi o eterno precursor do seu mau-humor?
O medo não foi desde sempre o causador de muito e muito sono?
Me deixem com meu medo e mau-humor que eu acabo dormindo.
E um  pouco dormindo, um pouco acordada, seguirei como uma condenada perfeitamente conformada.
O que já não quero mais é fingir. É pretender.
Tenho medo. Tenho vergonha. Tenho tristeza.
Não me reconheço e quem sou hoje é de todos e de mim desconhecida.
Acho que estou ensaiando uma despedida.