terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Que nome tem?

Todo estado, toda sensação é passível de ser dita e compreendida? Todas as emoções têm palavras que as digam com precisão?
Penso que não, senão não haveria as artes plásticas, a música, a dança que são capazes de dizer muito mais que as palavras porque os símbolos, esses sim são infinitos e infinitamente combinados formas maneiras de dizer insuspeitadas.
Por falta de palavras, eles existem e são capazes de expressar o eu mais profundo da cada um.
Que nome se dá a um momento em que você está tranquilo, mas um vulcão ferve por dentro com vontade de entrar em erupção e se expressar?
Como se define uma relação entre duas pessoas que não se entendem e são os exatos opostos, mas que querem conquistar alguma coisa uma na outra?
Como se deveria falar de uma vaga vontade de viver de forma diferente quando você sabe que o que você é foi o melhor que pode construir?
O mundo é cheio de estados não definíveis e extremamente subjetivos, impossíveis de serem apreendidos pela palavra. Pelo menos a quem não se dedique a ela de forma obsessiva, por paixão ou ofício.
A literatura, não “descreve”, mas comunica o ser humano e suas relações contando histórias. Sentimos, através dos personagens, não das explicações. Explicar é em última analise, nada.
Por isso é tão difícil encontrar bons livros, cujas histórias nos convençam e nos mostrem dimensões não previstas e ao mesmo tempo universais da natureza humana. Quem leu Crime e Castigo (por exemplo) de Dostoievsky, jamais esquecerá o que é uma verdadeiro arrependimeto. Jamais será capaz de sentir com tanta  verdade o remorso nem que leia todos os dicionários do mundo.
Ponho-me a pensar nisso por conta do meu próprio ofício. “Contar” teorias para as pessoas tem a mesma capacidade de tocar seus corações quanto o azeite de se misturar com a água. Quando falo para minhas ‘platéias’, ou consigo tocar suas vidas e emoções ou não foi nada. E esse é mais um sentimento sem nome: não acessar mentes e almas e não promover mudanças, quando é tudo que se pretende e a única fonte de satisfação possível.
O coração é feito de uma matéria que nem de longe é acessível a qualquer palavra. Tem que ser a palavra certa ou nenhuma palavra. Viver faz muito mais diferença que ouvir. Tirar de si próprio a experiência é infinitamente mais rico que ouvir um ilustre teórico falar sobre qualquer assunto.
E sempre vou mais longe com essa questão das palavras. Como nosso vocabulário é pobre!
Que nome tem sentimentos que não tem retorno?
O que sente uma pessoa quando você gosta dela e ela não pode corresponder? Constrangimento é pouco para definir esse mal estar de ser gostado e não poder dar de volta a mesma coisa...pra mim é um sentimento ainda por batizar. Alguém diz; gosto muito de você e você sorri amarelo, lamentando muito não poder dizer o mesmo. Sim, acho que o lamento é de verdade. Ninguém, em sã consciência, consegue desprezar sem um certo pesar um gostar verdadeiro de outro. Mas às vezes não dá mesmo. Não houve conexão, nem há possibilidade de haver.
E o de quem gosta e não é correspondido? Frustração? Rejeição? Também é pouco. É um pedaço seu que se vai para sempre, que não encontrou eco, que virou nada...que se foi e não voltará mais...foi desperdiçado e jogado fora. Você pode gostar de muitas pessoas pela vida afora mas daquela nunca mais.  Muitas palavras para falar de uma coisa tão comum e que deveria ter um nome no nosso idioma.
Outro; sentir e saber que uma pessoa não entende você. Por mais que se esforce e tente estabelecer contato, os dois falam línguas diferentes, têm referências diferentes e não há possibilidade de comunicação. Senti isso essa semana. Como é doloroso. O carinho existe, a amizade teoricamente existe mas o entendimento não. E não tem salvação. É desistir a única saída...
Assim pensando, vou colocando minhas esperanças de interligações universais nas artes.
Seria pretensioso demais da minha parte, tentar aqui discutir o que é e o que não é arte. Os críticos e artistas vêm se ocupando disso há séculos e não sei se haverá consenso um dia.
Para mim, muito humildemente, arte é o que não é passível de ser dito de outra forma por aquele artista. É um conteúdo de subjetividade que se desprende da objetividade por reconhecer sua pobreza e a grandeza das emoções e variantes dessas mesmas emoções.
Por isso não gosto de quadros de paisagens exatas nem de retratos fiéis. Eles contam, copiam, mostram a capacidade do artista de ver o óbvio e sua técnica apurada mas, em geral, não sua capacidade de sentir.

2 comentários:

  1. Sem nada a ver com sua publicação e sim com emoção e o quanto elas são devastadoras, vou reescrever aqui uma publicação que li na porta de um consultório médico, sem saber quem é o autor:

    O RESFRIADO ESCORRE, QUANDO O CORPO NÃO CHORA.
    A DOR DE GARGANTA ENTOPE QUANDO NÃO É POSSÍVEL COMUNICAR AS AFLIÇÕES.
    O ESTOMAGO ARDE QUANDO RAIVAS NÃO CONSEGUEM SAIR .
    O DIABETES INVADE QUANDO A SOLIDÃO DÓI.
    O CORPO ENGORDA QUANDO A INSATISFAÇÃO APERTA.
    A DOR DE CABEÇA DEPRIME QUANDO AS DÚVIDAS AUMENTAM.
    O CORAÇÃO DESISTE QUANDO O SENTIDO DA VIDA PARECE TERMINAR.
    A ALERGIA APARECE QUANDO O PERFECCIONISMO FICA INTOLERÁVEL.
    AS UNHAS QUEBRAM QUANDO AS DEFESAS FICAM AMEAÇADAS.
    O PEITO APERTA QUANDO O ORGULHO ESCRAVIZA.
    O CORAÇÃO ENFARTA QUANDO CHEGA A INGRATIDÃO.
    A PRESSÃO SOBE QUANDO O MEDO APRISIONA.
    AS NEUROSES PARALISAM QUANDO A "CRIANÇA INTERNA" TIRANIZA.
    A FEBRE ESQUENTA QUANDO AS DEFESAS DETONAM AS FRONTEIRAS DA IMUNIDADE.

    Achei genial, Claudinha.
    Beijocas

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  2. Adorei, me vi em várias "doenças'. Vou publicar para que todos possam ler ok/
    bjs
    saudades

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