terça-feira, 4 de junho de 2013

Luz e Sombra



Amo demasiadamente a luz

Mas pela sombra que ela produz.

O objeto iluminado é quase sempre imperfeito

Alvo de insanos e apressados julgamentos.

Há mesmo quem use lentes de aumento

Para enxergar melhor o que, dizem, não está direito.

Por exemplo uma mulher e tudo o que a ela diz respeito:

Corpo, alma, sentimentos, e a luz que dela vem

Se o sol forte a ilumina o que é que tem?

Aparece toda e de uma única vez.

Esgota-se ou alucina



Mas por trás dessa mulher tão clara, projeta-se uma sombra

Esta sim:  mutante, misteriosa e a cada instante, rara

Quem não teme o escuro e não vê monstros no não-brilho usual

Mantém a calma e move-se suave no infinito universo imaterial

Da que agora é só contornos,  movimentos e beleza que não se vê

Leveza que se intui e se sente sem nunca poder saber

Ora pássaro, ora borboleta, ora mãos, ora pernas, enfim...

O corpo etéreo dança, gira, abraça, num vir a ser que nunca tem fim.

Braços soltos,  cabelos que voam, roupas ou nudez insinuadas

Tenta-se adivinhar, mas é em vão. A sombra é uma mulher calada.

Corre, salta, cai,  levanta e encanta quem a acompanha

Assim cheia de mistérios, lugares sombrios, asas (de imaginação).

A luz deve ficar acesa porque é dela que vem a paixão

Não pela imagem que se oferece em primeiríssima mão

(Que seria o mesmo que ter que fechar os olhos ao querer contemplar o clarão)

Mas pelo conforto, pela alegria, pela mudança exuberante sem rodeios.

Porque é a sombra que permite olhar de frente

É a sombra que é amiga e não ofusca,

Que acolhe, acalma e detém o tempo em um morno líquido materno

É na sombra que imagem e poesia se confundem e criam a ilusão do eterno.

O que não se pode evitar e que torna toda escolha uma possível cruz

É que para haver sombra, é preciso que haja luz.