domingo, 9 de janeiro de 2011

Nostalgia - ainda para os CApeanos

Estava esperando a Marcia para ir ao cinema (íamos encontrar com a Evelyn lá ) e essa poesia que lancei como desafio no post relâmpago aí de baixo, não saía da minha cabeça.
Estaria o meu inconsciente tentando trazer de volta velhas e gostosas sensações e foi a poesia a saída que encontrou?
Não sei se todo mundo que estudou no CAp se lembra que tivemos em um dos anos de Francês que escolher uma poesia para decorar e declamar lá na frente. Eu escolhi essa do petit déjeuner, e nunca me esqueci dessa primeira estrofe.
Mas não penso sempre nela, é claro, e hoje ela ficou me martelando.
Antes de  sair, lancei correndo o desafio.
Agora, já fomos ao cinema, já jantamos e cheguei em casa com o sentimento completamente escancarado. É nostalgia sim. Dos  anos que passamos juntos, das descobertas nossas de cada dia, das crianças que viraram adolescentes juntas, de todas as nossas histórias tão engraçadas e ao mesmo tempo cheias de aprendizado; do que achávamos  que seríamos, da liberdade em  que vivíamos – embora em plena ditadura, da possibilidade de expressão que sempre nos foi dada....dos desafios de aprendizados para os quais nem sabíamos que estávamos preparados.
E essa nostalgia me vem toda em forma de lembranças dos poemas que aprendemos. Lembram do Edgardo, nosso maravilhoso professor de português?  
Vou trancrever aqui dois poemas que nunca mais esqueci, por dois motivos; primeiro, adoraria saber se eles marcaram tanto a vocês quanto a mim e segundo, porque nada retrata melhor aqueles anos que coisas que aprendemos e nunca mais esquecemos.
Só uma observação que me parece pertinente: sabem por que nunca esqueci? Não que aos 11 anos eu já compreendesse toda a grandeza desses poemas nem tampouco conhecesse todo esse vocabulário. Era a forma como o Edgardo declamava. Ele me deixava em transe declamando para nós essas poesias e as palavras iam entrando...e, claro, ele ia explicando.
Quantos professores hoje são capazes de tamanha entrega? De declamar com tanta verdade que faz a gente jamais esquecer?
São ambos de Olavo Bilac

Língua portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!


e.....

Como a floresta secular, sombria,
Virgem do passo humano e do machado,
Onde apenas, horrendo, ecoa o brado
Do tigre, e cuja agreste ramaria
 
Não atravessa nunca a luz do dia,
Assim também, da luz do amor privado,
Tinhas o coração ermo e fechado,
Como a floresta secular, sombria...

Hoje, entre os ramos, a canção sonora
Soltam festivamente os passarinhos.
Tinge o cimo das árvores a aurora...

Palpitam flores, estremecem ninhos, . .
E o sol do amor, que não entrava outrora,
Entra dourando a areia dos caminhos.


Por favor, não chorem ainda não. Somos frutos de todos esses poemas e tantos outros.
Um beijo com muita, muita saudade

4 comentários:

  1. Lembro bem do primeiro poema sobre a língua portuguesa... a gente tinha 11 anos de idade (Edgardo = 1o. ano ginasial); olha só o nível de dificuldade que a gente enfrentava (e sobrevivia) já tão novinhos...é por esse e tantos outros que a gente hoje é o que é; saudade, teu nome é CAp ! Evelyn

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  2. Eu não fui do CAp mas tenho algumas recordações de professores de onde estudei. Boas e más. Ao acaso lembrei-me de um professor de Geografia que era uma figura. Incrível. Inacreditável. Ele tinha uma maneira toda especial de falar. Se falasse seu nome, por exemplo ele soletraria assim: CALA- AU - DI- NHA. Gozado, né? Seria ele uma boa recordação? Talvez bizarra.

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  3. Paulim,
    Eu só tenho essa recordação por sua causa. o parentesco que nos unia nunca foi muito forte mas pode crer que o calaudinha faz parte da minha história!
    Bjs

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