sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Tentando falar de amor


O anel que tu me deste era vidro e se quebrou
O amor que eu te tinha era pouco e se acabou.
E o que exatamente nós amávamos, senão a possibilidade do amor?
Existe o amor ou querer amar é já o começo e o fim?
Quero você, quero a mim com você ou não quero você sem mim?
O amor nos afirma a todos como seres superiores e daí essa busca que ninguém sabe se quer?
Ou se instala à revelia e daí essa fuga que, camuflada, vira uma dor qualquer?
Amo? Não amo? Amei? Amarei? Que sei?
Sei que sonhei, mas com alguma coisa diferente que me escapa
Sonhei um sonho de quem dorme e sempre que tentei acordar senti-me acuada
Nunca estive acordada?
Na dúvida, durmo.
E dormindo,  posso sentir todo amor do mundo em qualquer hora e lugar
E dormindo, posso sonhar que vivi e o anel não era vidro e o amor não se acabou.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Enganos



Quantas vezes me enganei nessa vida? Perdi a conta.
Quantas vezes pensei estar fazendo o melhor para todos – pois que me lembre quase sempre pesei as consequências dos meus atos para os outros também e julguei justamente o contrário? Inúmeras.
E a vida e a observação foram me ensinando que NUNCA sabemos o que é melhor para outra ou outras pessoas. Por isso nunca acreditei em caridade unilateral. “Vou te dar uma casa porque isso vai resolver sua vida”. E ninguém perguntou ao interessado se era uma casa o que ele queria. Nunca acreditei em programas sociais de governos que se baseiam na auto-promoção e não têm nenhuma noção do que de fato a população deseja. Daí faz-se casas e o povo vende a casa. Ingratos. Nem sabem dar valor ao apartamento que demos para eles. Quem disse que queriam apartamentos? E naquele lugar? E daquele tamanho? Queriam emprego e dignidade para comprar o apartamento que bem entendessem, na hora que lhes fosse conveniente, perto dos vizinhos que escolhessem. Queriam autonomia e liberdade. 
Todo mundo odeia caridade. Aceitam-na por total falta de opção. É isso ou nada. Mas ninguém se engane que o “caridoso” seja amado e reconhecido. É, no máximo, tolerado.

Tendo isso em vista, me preocupo em nunca inferir a partir dos meus valores e convicções o que as pessoas querem. Nem minha filha. Pequena, eu ainda tinha o dever de julgar por ela nas questões básicas de segurança, higiene, estudos e valores fundamentais da vida. Quase adulta, terei que descobrir antes de “achar” o que é melhor para ela.

E foi assim que me enganei de novo. E feio. E doído. Meu alerta não funcionou quando imaginei que ninguém seria capaz de não querer amor, apoio, intimidade, confiança. E ainda se irritar com quem estava se imaginando pura generosidade e entrega. Levei mais um susto. Demorei para me dar conta, de novo, que quem queria aquilo era eu e não o outro.
Quanto tempo é preciso viver para parar de cometer os mesmos enganos?
Dessa vez, outra vez, penso: chega. Quem quiser alguma coisa me peça claramente. Parei de adivinhar. Se eu puder dar, o farei com a maior alegria, senão, paciência. Ninguém pode ter tudo.
Eu, o máximo que almejo nessa hora, é parar o recorrente e, portanto, parar a dor. E isso, graças a deus, só depende de mim.


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O caminho de volta



Se você é o vento, e eu a folha pronta para cair,
me leva para longe,
me faz voar muito antes de virar mais uma
numa calçada cheia de folhas mortas e lixeiras prontas para as fazer sumir.
 
Me consola e me convence, de que essa morte é urgente e temporária
que, sem folha alguma, por mais que sofra, me reconheço e se tudo der certo me aceito
E me promete que estará comigo para me dar a mão enquanto o gelo me cobre e morro de frio,
e me iludo, imaginando das flores o renascer que, espero, não seja tardio.
 
E depois venha o verão, o calor, e eu, já segura, possa espalhar sóis e chuvas para lavar
Purificar, iluminar e preparar o novo outono em que o vento me levará por onde queira voar.
Todas as estações me prometem mudanças e novas descobertas.
Você, queira ou não, foi que me tornou desperta para o que em mim dormia e
De alguma forma, me fez ansiar por ventania.
 
Não quero mais o dar reflexivo. Dar-se a si mesmo é nada
E receber-se coisa nenhuma também!
Quero dar bitransitivo: alguma coisa, para alguém.

E não quero que você corra. Andemos calmamente.
Eu não vou na sua frente.
Não lhe dou nada que você não me tenha dado antes.

Andemos.
Procuremos alinhar sentimentos, troquemos frio ou calor quando preciso for.
Toquemo-nos de leve, degustemos nossas delícias, sintamos sabores que não conhecemos e, 
em toda essa andança, provemos da palavra confiança.