Quantas
vezes me enganei nessa vida? Perdi a conta.
Quantas vezes pensei estar fazendo
o melhor para todos – pois que me lembre quase sempre pesei as consequências
dos meus atos para os outros também e julguei justamente o contrário? Inúmeras.
E a vida e
a observação foram me ensinando que NUNCA sabemos o que é melhor para outra ou
outras pessoas. Por isso nunca acreditei em caridade unilateral. “Vou te dar
uma casa porque isso vai resolver sua vida”. E ninguém perguntou ao interessado
se era uma casa o que ele queria. Nunca acreditei em programas sociais de
governos que se baseiam na auto-promoção e não têm nenhuma noção do que de fato
a população deseja. Daí faz-se casas e o povo vende a casa. Ingratos. Nem sabem
dar valor ao apartamento que demos para eles. Quem disse que queriam
apartamentos? E naquele lugar? E daquele tamanho? Queriam emprego e dignidade
para comprar o apartamento que bem entendessem, na hora que lhes fosse
conveniente, perto dos vizinhos que escolhessem. Queriam autonomia e liberdade.
Todo mundo odeia caridade. Aceitam-na por total falta de opção. É isso ou nada.
Mas ninguém se engane que o “caridoso” seja amado e reconhecido. É, no máximo,
tolerado.
Tendo isso
em vista, me preocupo em nunca inferir a partir dos meus valores e convicções o
que as pessoas querem. Nem minha filha. Pequena, eu ainda tinha o dever de
julgar por ela nas questões básicas de segurança, higiene, estudos e valores
fundamentais da vida. Quase adulta, terei que descobrir antes de “achar” o que
é melhor para ela.
E foi assim
que me enganei de novo. E feio. E doído. Meu alerta não funcionou quando
imaginei que ninguém seria capaz de não querer amor, apoio, intimidade,
confiança. E ainda se irritar com quem estava se imaginando pura generosidade e
entrega. Levei mais um susto. Demorei para me dar conta, de novo, que quem
queria aquilo era eu e não o outro.
Quanto tempo é preciso viver para parar de
cometer os mesmos enganos?
Dessa vez,
outra vez, penso: chega. Quem quiser alguma coisa me peça claramente. Parei de
adivinhar. Se eu puder dar, o farei com a maior alegria, senão, paciência.
Ninguém pode ter tudo.
Eu, o
máximo que almejo nessa hora, é parar o recorrente e, portanto, parar a dor. E isso, graças a deus, só depende de mim.