sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Do orgulho e da vergonha de ser mulher

Hoje é o último dia do ano e, portanto, não é dia de enfurecer ninguém. Mas como é muito pouco provável  que alguém ainda vá ler Blog hoje e estou com uma coisa que não me sai da cabeça, lá vai.
Outro dia, proferi  uma frase herética, que nunca tinha me ocorrido, que jamais havia pensado  e muito menos verbalizado. Falei em alto e bom som: “mulheres têm peitos, então nasceram para alimentar”. Explico: falávamos do prazer de cozinhar e alimentar aqueles que amamos (sobretudo filhos, mas eu incluía marido, namorado, pais etc). Felizmente o interlocutor era um homem (senão penso que teria apanhado na hora), mas mesmo assim ele deve ter ficado chocado tanto quanto eu fiquei. Passei batida pela pérola com a qual tinha concluído o assunto mas, desde então, tenho tido pesadelos em que todas as feministas do mundo me perseguem e tentam furar meu olhos.
Exageros à parte, “nascer para alimentar” é um tanto forte. Nascemos para realizar um sem número de potenciais femininos – alguns, claro, coincidem com os masculinos, mas honestamente penso que alimentar está entre eles.
Existe um “ amor feminino” que acho que estamos perdendo, que não tem nada a ver com ter filhos ou não. Outro dia vi uma matéria que contava como tem aumentado o numero de mulheres que estão tomando testosterona para ficarem mais agressivas, mais decididas, mais parecidas com os homens no trabalho. Fiquei muito triste. Gosto tanto do olhar feminino sobre as coisas. Gosto tanto que as mulheres comprovadamente tenham menos tendência à violência e tantas outras coisas.... Porque precisamos nos parecer com os homens?
Essas mulheres precisam vencer e ter poder a qualquer preço, mesmo passando por cima do que têm de mais legal. Mesmo negando sua condição de mulher. E, claro, nem sabem o que é isso. E que amor se transforma em comida, em casa gostosa, em filhos educados e tantas outras coisas. 
Sei bem de tudo que o gênero feminino passou de opressão, dominação, desqualificação e de como precisava reagir a isso tudo. Bendigo todas as transformações pelas quais muitas mulheres corajosas lutaram. Graças a elas hoje podemos exercer nossa sexualidade como bem entendermos, podemos desenvolver nossos potenciais profissionais e criativos. Bendigo a ciência que inventou a reposição hormonal e todas as coisas e apetrechos que facilitam nossas vidas.
Em oposição a essas mulheress (pelo menos na nossa classe média brasileira de mulheres acima de 35 anos - as que normalmente já casaram e se separaram) existe as que chamo de "farsas". Aquelas que, espertamente, juntam a herança do tempo das “dondocas”,  com um  feminismo de conveniência  e ainda uma fantasia de que o tempo dos escravos não acabou.
Percebo isso vendo mulheres não querendo tocar em nada, quando um dos grandes prazeres da vida é ter contato com nossas próprias coisas! Mulheres que acham um desaforo ter que levar filhos na escola, ir ao supermercado, lavar um prato. Levantam (às vezes com muito talento) a bandeira da libertação das mulheres mas "exigem" que tudo lhes seja dado. Essas mulheres só enxergam a conta bancária do parceiro dizendo: “ de dura basta eu”, e ainda falam muito mal deles para as amigas sem enxergar que isso só depõe contra elas mesmas. Mulheres que ao invés de usufruir das liberdades conquistadas, inventaram um novo tipo de "amor": o amor troca.

Não é à toa que a frase “quem gosta de pau duro é viado, mulher gosta é de dinheiro” ficou consagrada. Esse tipo de amor pressupõe um "me engana que eu gosto" que não faz ninguém feliz e ainda torna nosso gênero mal visto já que somos todas niveladas "por baixo".

Vemos por aí um monte de mulheres insatisfeitas, diminuídas (com fantasias de superioridade porque usam Prada, Marc Jacobs etc) sem se dar conta de que não têm nada de delas. Nada que as faça de fato valer alguma coisa. Nem os homens são delas porque continuam fantasiando um "outro" príncipe que ainda virá a cavalo livrá-las do sapo que encontraram e que alimenta suas vaidades. Por que? Porque não aprenderam a lição número 1: Não existe almoço grátis! Elas sempre se sentirão injustiçadas e a troca será sempre contra elas.

E para que? Para não botar a mão na massa, trabalhar de verdade, serem suas próprias provedoras e ter orgulho disso (ainda que a bolsinha não seja Prada e as sandálias sejam Havaianas).

Honestamente, me sinto bem ofendida sendo mulher e sempre tentando ser tudo menos isso. Claro que há muitas exceções - todas as minhas amigas graças a Deus e uma montanha de outras mulheres brilhantes e vencedoras cada uma do seu próprio jeito. Mas freqüento academias, salões de beleza, clínicas, escola de crianças ricas e sei do que estou falando.

Quem acompanha o Bruno Drummond na Revista de Domingo também sabe.“ Gente Fina” é sensacional e triste ao mesmo tempo. Vivemos uma completa inversão de valores. As feministas lutaram em vão para essas mulheres. Elas continuam barbies infantilizadas concentrando toda sua inteligência e talento em manter a mentira que inventaram com seus parceiros.

Sempre sonhei com um meio termo! Que depois de queimados os sutiãs, homens e mulheres seriam capazes de conviver com amor, respeito e admiração. É possível, mas é raro. Eu, já nem sei mais identificar.

Mais triste ainda é a situação dos homens que não são bem sucedidos para os padrões classe média zona sul, depois de uma certa idade, que são a maioria. Na cabeça deles, pra que eles servem?
Falaremos disso em 2011. Por hoje, espero apenas parar de ser perseguida pela Simone de Beauvoir a quem devia explicações sobre a minha tagarelice aparentemente inconsequente.
Tenho certeza de que, se viva fosse, não acharia nenhuma graça do que o "segundo sexo" virou.


Feliz ano novo again!




2 comentários:

  1. Claudia querida,
    Brilhante texto, mas só conheci umas poucas assim, Barbies. Sorte a minha.Um ótimo 2011 p/vc e continue brilhante.
    Bj e sds
    Luiz

    ResponderExcluir
  2. Luiz querido, me arrependi de ter escrito isso. Estou pensando em tirar do blog. Só não tirei ainda porque acho fácil deletar os erros. Aprendi com essa que não posso falar daquilo que não posso explicar muito bem. Tenho consciência de que errei e mão mas sei tb que vc já conheceu muitas assim. É que é tudo muito sutil. Tem um jogo. Eu escrevi muito inspirada em uma pessoa que conheço muito bem. Sei qual é o "papel" para a platéia e o interno, para as amigas íntimas. Elas têm um discurso articulado, profissão e tudo o mais.
    Mas deixa pra lá.
    O importante é ter saúde e paz em 2011. E manter, sempre, a integridade.
    Bjs querido
    Cláudia

    ResponderExcluir