Sou frequentadora assídua de aeroportos. Muito mais do que gostaria para falar a verdade.
Que saudade dos tempos em que embarcávamos atravessando a pé as pistas até a porta do avião! Sobretudo no Santos Dumont onde a paisagem é estonteante: sol a pino, óculos escuros lembrando Jackie O., ou guarda-chuvas lembrando Casablanca. Puro glamour em um ou outro caso. Naqueles momentos não dava para continuar pensando em nada. Eram uma pausa para o encantamento.
Hoje aeroportos são uma tortura: nenhuma paisagem, nenhum ar, um eterno sobressalto. Nunca sabemos se vamos estar no horário e quais serão as inevitáveis mudanças de planos: portões de embarque, horários, se o voo sai ou não sai.
Mas quem não tem outra alternativa, tem que achar modos de sofrer menos nos aeroportos. Eu, em geral, tenho dois dependendo da ocasião e meu estado de espírito: ler ou observar as pessoas.
Ontem cheguei em Confins com mais de 2 horas de antecedência para o meu voo. Estava exausta e sem a menor vontade de ler.
Me aboletei em uma mesa de bar ( Confins tem isso de bom) e pedi uma cerveja. Me pus a observar as pessoas em volta.
Todas as mesas ocupadas quase sempre por uma única pessoa, todos provavelmente na mesma situação que eu. Computadores abertos, celulares a todo vapor, uma cerveja na frente.
Como é difícil não fazer nada! Como é difícil contemplar, deixar o tempo passar sem pressa, sem ansiedade, sem sensação de estar perdendo alguma coisa!
Não estou me excluindo. Tenho a mesmíssima dificuldade e olhando os outros, pensava se não deveria estar respondendo e-mails, adiantando algum trabalho, e sim, não resisti e saquei do meu BlackBerry para olhar as fotos que minha filha recém tinha colocado no Facebook.
A tecnologia tem disso: nos proporciona incontáveis formas de passar o tempo e nos tira totalmente a oportunidade impagável de relaxar já que não há o que fazer a não ser esperar.
Porque esperar é tão ruim? Porque os tempos de pausa entre dois eventos nos colocam em situações praticamente de pânico e total impotência?
E não estou falando só das esperas do dia a dia. As às vezes longas esperas da vida são difíceis também. Esperar o momento certo para agir, esperar a hora de estarmos prontos para um novo desafio ou projeto, esperar por alguém que um dia chegará.
Definitivamente não fomos treinados para esperar. Fomos treinados para agir e isso nos faz, não raro, atropelar o tempo, meter os pés pelas mãos, agir fora de hora e estragar tudo.
Aproveitar nossas pequenas esperas para exercitar esperas maiores pode ser um bom modo de criar estratégias, refletir e aproveitar os intervalos para, como a natureza, morrer um pouco e em seguida renascer esplendorosamente.
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