quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Fernando Pessoa again

Álvaro de Campos

Dobrada à moda do Porto

      Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
      Serviram-me o amor como dobrada fria.
      Disse delicadamente ao missionário da cozinha
      Que a preferia quente,
      Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
 
      Impacientaram-se comigo.
      Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
      Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
      E vim passear para toda a rua.
 
      Quem sabe o que isto quer dizer?
      Eu não sei, e foi comigo ...
 
      (Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
      Particular ou público, ou do vizinho.
      Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
      E que a tristeza é de hoje).
 
      Sei isso muitas vezes,
      Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
      Dobrada à moda do Porto fria?
      Não é prato que se possa comer frio,
      Mas trouxeram-mo frio.

      Não me queixei, mas estava frio,
      Nunca se pode comer frio, mas veio frio.

4 comentários:

  1. Esse lance das mulheres todas que conheço(faço uma lista delas) de reproduzirem textos do Fernando Pessoa me incomoda! Será que voce consegue explicar essa atração toda e o porque disso ???
    Bj querida

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  2. Bem Luiz, contra implicância há poucos argumentos.
    Vou tentar dizer o que acontece comigo. Quanto às outras mulheres melhor perguntar a elas.
    Fernando Pessoa (o poeta maior da língua portuguesa) faz parte da minha vida desde que me entendo por gente. Costumo dizer que ele me ajudou a sobreviver boa parte da minha adolescênncia e da fase adulta. Acho que conheço sua obra de trás pra frente e muitas poesias sei de cor.
    O fato é que ele captou como poucos a essência da alma humana em suas diversas contradições, fases e humores. Tanto assim que ele é vários.
    De forma que quando penso em certas coisas sei que ele já escreveu sobre o tema de forma insuperável. Então porque tentar fazer melhor? Não conseguiria de jeito nenhum. Aí, recorro a ele e publico o próprio. Não publico poesias aleatoriamente. Publico aquelas que substituem com precisão o que estou sentindo no momento. Como conheço e lembro de quase todas, ele é uma referência recorrente.
    Não sei se me fiz entender mas acho também que a admiração por esse poeta não se restringe às mulheres. Portugal inteiro tem muito orgulho dele e vc procurar no you tube, há incontáveis vídeos de homens recitando Pessoa.
    Gênios são assim...temos só que admirar e às vezes falar através deles.
    Bjs
    espero ter esclarecido alguma coisa

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  3. Luiz, esqueci de dizer que dou um braço se sua amostra não for totalmente viezada.
    Aposto o que vc quiser que vc só lê blogs de mulheres!!!!! srsrsrsr

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  4. elizabeth s. p.. mundim5 de novembro de 2010 às 13:35

    Olha eu de novo no blog com o Fernando Pessoa, que eu também amo:

    Para ser grande, sê inteiro:
    Nada teu exagera ou exclui.
    Sê todo em cada coisa.
    Põe quanto és
    No mínimo que fazes.
    Assim em cada lago a lua toda
    Brilha, porque alta vive.

    Ricardo REI

    Beijão, logo vamos nos encontrar.

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