quinta-feira, 24 de março de 2011

A importância de conviver

Não tenho mais dúvidas. É a convivência que fortalece as relações e constrói laços muito difíceis de desfazer. Podem ser laços de amor, de amizade, ou até de algum sentimento sem nome. O fato é que, ainda que tenha havido brigas e desentendimentos com quem você conviveu, ainda que você pense que aquela relação morreu e os dois estão impregnados de ressentimentos, na hora H é com essas pessoas que você pode contar e são as que, de fato, vão se importar com você sem fazer julgamentos, sem se importar se sua mão está torta, sem medo de ver você chorar, sem levar em conta que elas acabaram de chegar e você quer ir dormir.
Chamo de conviver o dormir e acordar junto. O estar presente nos mínimos acontecimentos da vida, o passar junto situações diversas – fáceis e difíceis, o brigar, o se desentender e depois perdoar, o estar perto mesmo que seja a coisa mais banal do mundo.
Dizem que o que importa para os relacionamentos não é a quantidade de tempo que você passa junto, mas a qualidade. Inclusive com os filhos. Não concordo com isso. A quantidade conta muito também.
Nunca se pode prever quando uma coisa importante vai acontecer ou ser dita num relacionamento. Daí, quanto mais tempo se passa junto, maior a probabilidade de se viver e dividir momentos importantes e, muitas vezes, definitivos.
Quando sua filha vai dividir um sentimento importante para ela? Não tem hora marcada. Pode ser no café da manhã, pode ser quando uma está fazendo xixi e a outra se maquiando na frente do espelho, pode ser durante um jogo domingo à tarde ou uma andada no shopping. E isso só é possível se houver quantidade de tempo juntas.
Marido, namorado, amigos, a mesma coisa. Nem vou falar da família porque essa é a maior convivência de todo mundo e, salvo famílias muito desestruturadas, ela é, em geral, o grande esteio que temos na vida. Pai, mãe, irmãos, primos, sobrinhos. Esses são quase extensões da gente e é quase sempre vital sua participação nas nossas vidas.
Digo isso porque agora que estou doente, está ficando muito claro. Quem está sempre presente, liga todo dia, vem me visitar sempre, tenta ajudar o tempo todo, além da família que é incansável? Meu ex-marido e os amigos da vida toda.
Com o ex, embora tenhamos tido todo desentendimento do mundo, embora tenhamos mágoas que talvez nunca se apaguem, fica claro para os dois (sem que se precise dizer) que o problema atual é mais importante e requer atenção. Pode ser que quando tudo isso passar, voltemos ao padrão antigo (de quase nunca ver nem conversar), mas por hora é no meu bem estar que estamos focados. Se fosse com ele eu me comportaria da mesma forma.
Com os amigos a mesma coisa. De que vidas você, no fundo, faz parte? Da das pessoas com quem conviveu, das vidas em que sempre esteve presente. Pode ser por longuíssima duração ou por intensidade (muito em pouco tempo). Não importa, mas só dá para ser assim com quem você conviveu muito. Esse carinho fica lá, escondido muitas vezes, mas o tempo e/ou a intensidade o construiram e ele se revela quando é importante.
Descobri também, que sinto um imenso amor pela filha do meu ex-marido, nascida do primeiro casamento. Um amor de mãe mesmo. Porque a vi crescer. Porque convivemos muitos anos e dividimos os momentos mais banais – desde as brigas até o contar histórias para ela dormir e tomar banho sem reclamar. Não nos vemos muito agora, mas ela está passando por problemas e sabe que pode contar comigo. Sinto um enorme amor e isso me faz estar ao lado dela mesmo não fazendo mais parte da minha vida cotidiana.
Me dando conta desse amor que sinto por ela, é que percebi o quanto é possível amar plenamente um filho adotado. Exatamente porque é a convivência que faz brotar esse amor. Não faz a menor diferença se é seu filho biológico ou não.
A mesma coisa se dá com os amigos com os quais você conviveu muito na escola ou no trabalho. Passaram juntos por situações de “desespero”, prazos e metas inalcançáveis, períodos de saco cheio conjunto, problemas pessoais divididos em sala de aula ou no almoço do trabalho. Risos, lágrimas, aniversários, almoço diário. Isso é conviver e a mim me parece que a convivência vai tecendo uma trama invisível, mas muito poderosa que se manifesta nos momentos cruciais das nossas vidas.
Não que as pessoas com quem você não teve a oportunidade de conviver, mas admira, acha muito legais e gosta muito, também não possam gostar muito de você e fazer muita diferença na sua vida. Mas, certamente, uma diferença de outra ordem, de outra dimensão.
O chato de ter isso tão claro, é que aos 54 anos, não dá tempo de conviver muito com mais ninguém. Quem tinha que fazer parte da sua vida já faz e os outros relacionamentos podem ser muito importantes mas, necessariamente, menos profundos, sem esse conhecimento mútuo quase total, sem ser “da família” por assim dizer.
Uma pena. Acho que essa é a única coisa que lamento com relação à idade. A impossibilidade de novas e longas convivências.

6 comentários:

  1. Lindo post querida. Conviver com quer que seja é difícil, as nossas coisas etc.... As vezes até querer ficar só e pensando. Faz parte da nossa vida e creio que positivo. Amigos ou amigas, nem me fale, mas é importante também, além do que possa ter rolado de sentimento ou mesmo de estar junto. É essa a nossa vida. BjÃO

    ResponderExcluir
  2. Gostei !

    "O chato de ter isso tão claro, é que aos 54 anos, não dá tempo de conviver muito com mais ninguém. Quem tinha que fazer parte da sua vida já faz e os outros relacionamentos podem ser muito importantes mas, necessariamente, menos profundos,"
    Não concordo com essa parte .
    Não valido essa afirmativa ...acho distorcida essa idéia !

    ResponderExcluir
  3. Anônimo querido,
    Distorcida como? Vc não acha que me resta pouco tempo para longas convivências?
    Claro que sempre pode haver aquuelas relações de convivência máxima: 10 anos em 10 dias, mas não são as mais comuns.
    A Monica e a Esther são dois exemplos de que isso é possível. São amigas mais recentes mas nosso convívio é tal que é como se nos conhecêssemos da vida toda. Mas batalhamos isso. Passamos dias e dias juntas, umas na casa das outras, nos contamos intimidades, nos importamos, nos ajudamos assim sem motivo aparente. Só porque nos amamos de graça.
    Mas esse não é o padrão. Na nossa idade ninguém se joga mais assim desse jeito e as relações tendem a evoluir a passo de cágado e requerem muito tempo para se tornarem profundas, se é que um dia chegam lá.
    Bom, me diga seu parecer e, de preferência, diga quem és.
    Bj

    ResponderExcluir
  4. Claudia:

    Outro belo texto! E outro tema inspirador!
    A convivência, sem dúvida, nos expõe e revela por inteiro. O que somos de melhor e pior. E, seja ela por opção (como nos laços afetivos amorosos ou de amizade) ou por falta de (como nos laços familiares ou de convívio social e profissional), a motivação inicial do querer (ou precisar) aquela convivência, valoriza as qualidades, enquanto os defeitos são percebidos num segundo plano. O querer estar com a pessoa pelas qualidades que nos atraem permite o tempo necessário para que os defeitos sejam absorvidos, sem tantos conflitos, por aquela relação.
    A convivência, seja de que natureza for, determinará o balanço desses dois polos. Nas relações familiares e de amizade, dificilmente esse equilíbrio se alterará. Qualidades e defeitos fazem parte de todos nós e aprendemos a conhecer, aceitar, respeitar e, ainda assim, gostar mesmo da pessoa. É o todo pelo todo. Pacote completo.
    Nas relações amorosas, enquanto verdadeiramente amorosa, o equilíbrio também se mantém. Mas, ao mudar a qualidade ou intensidade do amor, os defeitos passam a incomodar a ponto de tornar a convivência inconvivível. É o tal olhar cego, e, portanto, não confiável do amor...
    As demais relações (sociais ou profissionais) envolvem referencias menos emocionais, e sim, culturais, sociais ou éticas, e, portanto, regidas por outra motivação.
    Nesse sentido, perfeitamente compreensível, mas não menos reconfortante, constatar que as convivências mais duradouras estejam do nosso lado, em estado de fragilidade ou vulnerabilidade. Pois essas pessoas, independente do grau de convivência atual (como no caso dos exs, principalmente quando há filhos envolvidos, ou amigos distanciados seja pela razão que for), CONHECEM nossas necessidades, SABEM como reagimos, e os laços e afetos anteriores SEMPRE falarão mais alto! É a solidariedade afetiva natural e instintiva, que se sobrepõe a qualquer outro sentimento menor.
    E, como você muito bem colocou, conviver é realmente estar junto. Quantitativa e qualitativamente junto. É conhecer os pequenos detalhes. É identificar o olhar que nega o que o corpo diz. É perceber a voz que fala além das palavras. É saber o pensamento do outro. É prever (mesmo que algumas vezes o imprevisto nos surpreenda) a reação do outro. É respeitar os limites. É entender as necessidades. É ouvir o outro no silêncio. Esse conhecimento, somente possível através da convivência intensa, requer tempo, paciência, tolerância, dedicação e muita vontade.
    Mas é também um aprendizado. As convivências exitosas são resultado de outras tantas mal sucedidas ao longo de nossas vidas. Com a maturidade, já aprendemos (ou deveríamos ter aprendido) a avaliar e investir de forma mais consciente, assertiva e positiva. Pular etapas sem deixar escapar essência. Portanto, acredito, como o anônimo acima, que novas convivências, no mesmo grau de intimidade e conhecimento, sejam possíveis aos 54, 55, 60, e sempre!
    Um beijo.

    Alice

    ResponderExcluir
  5. Alice,
    como sempre, adoro seus comentários que aprofundam a questão de forma totalmente pertinente e cheios de novos ângulos e pontos de vista.
    Adorei o "pular etapas sem deixar escapar essência"!
    De fato, com muito mais maturidade, é possível saber separar o que é importante de que não é e conseguir pular as tais etapas sem perder nada.
    Tendo a concordar com você e o anônimo embora ache que, como essa empreitada depende de dois, encontrar gente disposta a embarcar na tal aventura do conhecimento não é simples nos dias atuais. Todos estão preocupados com suas individualidades, com seus "espaços" privados, e pouco propensos a grandes e generosas trocas. É a impressão que tenho. Posso estar enganada.
    Aliás, é bom eu dizer que, quando um tema me vem à cabeça por qualquer razão, não o elaboro ou esgoto antes de escrever. Vou escrevendo do jeito que vem, sem intelectualizar muito, na verdade quase nada. Caso contrário, não haveria nenhum post pois os pontos de vista são infinitos e essa conversa interna tentando estar sempre certa não teria nunca fim.
    Escrevo sem a pretensão de estar certa, vou colocando o que sinto no momento. Apurar o conteúdo, é tarefa para depois, através dos comentários de vocês que vão exergando novas possibilidades e acrescentando saber e alma. Que legal que seja assim. Nesses momentos, a proposta do Blog (conversar) acontece como uma mágica e eu fico muito feliz!
    Viva a convivência!
    Bjs

    ResponderExcluir
  6. olá! bem estava sem sono... vim pesquisar sobre oráculos... cai no seu blog.
    Bem não quero ser pretenciosa... mas discordo um pouco com em 54 anos não se ter assim tanto "tempo" para convivências profundas... Sei que sou nova ( 31 anos ) e que minha opinião mudará algumas vezes ainda.. Mas acho que a qualidade é mais essêncial do que a quantidade... pois as vezes se passa anos com uma pessoa e um belo dia ela te surpreende com atitudes que você não esperava... pois somos seres humanos em eterna evolução e crescimento! E o momento que o ser humano conseguir entender que o que se sente é mais profundo do que o tempo... talvez tenhamos um pouco mais de confiança e paz na vida!Eu acho... Namaste! Um abraço da Cris Falleiro

    ResponderExcluir