Vou tentar, aos poucos, escrever o que tenho passado na mão de quem presta serviços de “saúde” para nós reles mortais que estamos doentes e fragilizados. Quem está são parece que está acima de nós e nunca ficará doente.
Primeiro, mas não o mais importante, para não infartar. Preciso desabafar.
Segundo, porque tenho aprendido algumas coisas que podem ajudar qualquer um no futuro.
Para isso, preciso voltar um pouco no tempo.
Ato 1
Tudo começou com uma dor suportável mas irritante que ia do ombro até o cotovelo. Daí até a mão era uma certa queimação. Como nunca dou a devida importância aos sinais do meu corpo e estava resolvendo a minha viagem – passagem, passaporte etc, nem me passava pela cabeça parar para fazer consultas e exames. Na volta talvez. Fiquei então tomando antiinflamatório por minha conta e risco.
Nada melhorava e, de repente, de um domingo para segunda acordei com uma dor insuportável mesmo e a mão direita semi-paralisada.
Aí não tinha jeito: precisava procurar ajuda.
Não conseguindo consultas agendadas para o mesmo dia, fui para o CREB na Voluntários da Pátria, em busca de socorro.
Lição número 1: Jamais se recuse a escutar seu corpo. Se você finge que não escuta enquanto ele está falando baixo, é óbvio que ele vai ter que berrar!
Ato 2
O médico que me atendeu pediu ressonância magnética da coluna cervical (certíssimo já que já operei o local) e eletroneuromiografia – também certíssimo para medir o quanto de força na mão eu já havia perdido. E me receitou os primeiros opiáceos para controlar a dor.
Estaria tudo muito bem, não fosse o fato de ele, sem saber o que eu tinha, irresponsavelmente prescrever um pacote básico de fisioterapia “enquanto isso”.
Fiz 4 dias seguidos daquilo tudo enquanto esperava o resultado da ressonância e....piorei MUITO!!!
Lição número 2: fisioterapia não é brincadeira. Pode te deixar muito mal, mesmo parecendo inocente. Não deixe que te toquem enquanto não tiver diagnóstico e mesmo assim só gente de muita confiança. Você jamais conseguirá provar que a fisio agravou seu quadro.
Ato 3
Fiz a ressonância magnética na terça feira, no laboratório onde consegui marcar primeiro: o Lâmina – Unidade Arpoador. Tudo muito lindo, confortável, atendimento carinhoso e pontual. Tudo de bom, pensei.
O resultado me foi entregue em casa, na sexta no final da tarde com um laudo conclusivo e assustador. Eu tinha tudo e mais um pouco na cervical, inclusive edemas e etc.
Bom, já contei que eu só piorava e diante daquele laudo entrei em pânico.
Começava um longo fim de semana.
Sábado de manhã comecei a ligar para médicos que eu conhecia ou indicados. Falei primeiro com um ortopedista maravilhoso, especializado em medicina chinesa. Achei que era a melhor opção porque não seria tentado a falar em cirurgia como única saída. Todo mundo vê o problema através da lente do que sabe fazer. E a última coisa que eu queria pensar era em cirurgia.
Ledo e doloroso engano: ao ouvir o laudo pelo telefone, ele disse: o seu caso é cirúrgico e urgente. Você não tem um dia a perder sob pena de nunca mais recuperar os movimentos da mão.
O que senti? Além do desalento com o possível desfecho, uma tristeza por ele nem ter falado em me ver. Que médico conclui alguma coisa e afirma, com base em laudo? Sem ver a imagem e nem a paciente? Pra mim ficou claro que ele não iria estragar o sábado dele (muito embora eu estivesse diante de alto risco).
Aí liguei logo para o cel do Paulo Niemeyer Filho, que me operou há 10 anos. Caixa postal. Deixei recado pedindo para me ligar mas estava tão descrente que nem esperei muito.
Liguei para o meu clínico da vida toda. Estava pedalando na Lagoa e parou para ouvir o laudo. Mesma resposta: cirurgia imediata. Quando chegasse em casa me passaria o tel de um ótimo cirurgião.
E o que acontece? Dez minutos depois retorna o Paulo. Ouve o laudo e diz: estou em São Paulo. Anteciparei minha volta para de manhã e você me encontra na São Vicente às 14 horas. Preciso te ver. DOMINGO às 14 hrs. Ninguém pode. Ele pode. Nada diz ou afirma. Preciso te ver. E ele estaria embarcando para a Índia na terça. Se fosse cirúrgico, teríamos só dois dias.
Domingo nos encontramos e ele , vendo a imagem, disse que estava péssima, que nada podia se ver ali e que eu teria que fazer outra. Mas, pelo exame clínico ele podia quase apostar que não era coluna e sim algo periférico. Marcou comigo segunda de manhã. Ele queria supervisionar a ressonância.
Resultado: viu na própria segunda que não havia nada a ser operado e me encaminhou para um neurologista de sua confiança, não sem antes escrever uma longa carta contando tudo e me apresentando ao tal novo médico.
Lição número 3 – Nunca use o laboratório Lâmina. A quantidade de erros lá é gigantesca. Sobretudo em exames de imagem. Nesses casos estamos reduzidos a: Multi Imagem na Sadock de Sá, CPDI e Felipe Mattoso. O laudo que eles me deram foi absolutamente criminoso já que a própria imagem era ilegível.
Lição número 4 - Só faça ressonância em máquina aberta se você de fato não suportar a fechada. A qualidade da imagem da aberta é muito pior e você provavelmente terá que fazer outra.
Lição número 5 – Não ache que o melhor médico é menos disponível. Pelo contrário, ele é o melhor exatamente por isso. A reputação de um profissional que trabalha com gente é feita de conhecimento técnico+experiência+capacidade de entrega. Quem vê mais casos e aprende mais? Quem não perde um ou quem tem preguiça? Quem é mais procurado? Quem tem disponibilidade ou quem não tem? Além disso, o cara quando é muito bom, rico e famoso, já passou por todas as necessidades da pirâmide de Maslow e só lhe resta a doação como ser humano para ser feliz. A menos que seja um caso de patologia egótica. Aí é bom nem chegar perto, porque a vaidade faz as pessoas só fazerem merda. Então, nunca ache que um médico é bom demais ou famoso demais para você. São esses que vão te atender melhor e tentar sempre facilitar sua vida.
Lição número 5 – Não ache que o melhor médico é menos disponível. Pelo contrário, ele é o melhor exatamente por isso. A reputação de um profissional que trabalha com gente é feita de conhecimento técnico+experiência+capacidade de entrega. Quem vê mais casos e aprende mais? Quem não perde um ou quem tem preguiça? Quem é mais procurado? Quem tem disponibilidade ou quem não tem? Além disso, o cara quando é muito bom, rico e famoso, já passou por todas as necessidades da pirâmide de Maslow e só lhe resta a doação como ser humano para ser feliz. A menos que seja um caso de patologia egótica. Aí é bom nem chegar perto, porque a vaidade faz as pessoas só fazerem merda. Então, nunca ache que um médico é bom demais ou famoso demais para você. São esses que vão te atender melhor e tentar sempre facilitar sua vida.
Ato 4
Neurologista novo. Maravilhoso. Um mega pesquisador, estudioso, simpático. Outra grande figura humana. Está em processo de diagnosticar a doença a minha neuropatia escandinava que já contei no outro dia. O problema lá: as secretárias.
Iniciativa zero, empatia zero, capacidade de antecipar problemas zero. E muito pouca educação eu diria.
Agora a saga tem sido com a Sul América. Infinitas exigências para aprovar cada exame, sobretudo os que você já fez e teve que repetir. Será que se os exames consistentemente ficam ruins (2 no meu caso) e têm que ser repetidos não é porque eles escolhem mal a rede conveniada? E nós, doentes, é que pagamos o pato?
Uma empresa que lida com gente doente e sofrendo, não tem o direito de se referir ao contrato para lhe convencer de que está agindo direito. Hoje me estressei profundamente o que só fez agravar minha dor.
Esse ato não acabou mas já deu lições:
Lição número 6 – Se você puder escolher seu plano de saúde ou o que vai disponibilizar para seus funcionários, considere não considerar a Sul América. Burocracia máxima, atendimento pessoal péssimo, frio, voltado escancaradamente para o resultado da empresa. Nem tenta disfarçar.
Lição número 7 – Só tome morfina em último caso. A sensação é péssima!!!!
Amanhã, tomografia no CPDI. Depois eu conto.
Levei o dia todo para escrever esse texto. Ai que cansaço! Pelo menos me distraí e esqueci a fúria. Bom, pra isso a morfina serve.
Minhas únicas diversões têm sido conversar com quem vem aqui ou por telefone – que toca o dia inteiro graças a Deus, e ver TV. Nem posso ler porque não consigo segurar o livro. A maozinha direita é de uma tetraplégica, sem exagero.
Exercício de paciência fora de hora esse!
Claudia, que saga !!! Pelo menos, fiquei encantada com o tratamento que o Paulo Niemeyer Filho te dispensou !! Bárbaro saber que ainda existem médicos vocacionados ! No mais, tenho certeza de que o teu neurologista pesquisador vai achar E CURAR o teu problema. Bjs e muita força e coragem !!!! Evelyn
ResponderExcluirPois é Evelyn querida...o Paulo é um dos homens mais encantadores que conheço. E que paz, que luz!
ResponderExcluirUm espetáculo!
O que vai atrapalhar muito vai ser o carnaval. Vai dar uma boa atrasada nas pesquisas.
E sentir dor cansa muito!
Mas hj o neuro me ligou dizendo que não vai sair do Rio e que não sairá de perto de mim.
Fofo né?
bjs querida
Tô de cara, Claudia. Ao mesmo tempo impressionada com essa mulher de fibra, que da dor extrema consegue tirar lições importantes e repassá-las.
ResponderExcluirMinha querida, com certeza, agora diante desse diagnóstico e na mão de bons profissionais o tratamento vai deslanchar.
Se precisar de alguma providência, conte conosco.
Beijos, muita LUZ!
Obrigada prima amada!
ResponderExcluirEu sei que vai andar e dar tudo certo.
Hoje acordei pela primeira vez muito desanimada. Ah e tenho dormido muito pouco. Nào sei se são os remédios. A metadona deixa vc muito grogue e meio doidona mas não faz dormir. Boca seca, suores...muito ruim. Por outro lado, a dor passa.
Mas já recuperei meu bom humor rsss
Sei q conto com vcs coomo tenho contado com muita gente querida aqui. Helo tem sido uma amiga e companheira de médicos e exames maravilhosa. Com tudo isso nós rimos muito juntas. Edu tb, um carinho só. As amigas, os amigos....esse lado é sensacional.
Até o ex me liga várias vezes ao dia, me mata de rir no telefone (ele sabe ser engraçado quando quer) me pega quando dá...enfim, todos muito solidários. O pai e a mãe nem se fala.
enfim, dentro do quadro todo, estou confortável.
Beijo queridaa. Torcida a distância conta muito. E me escreve sempre. Eu adoro quando tem mensagem sua!
Muito bom mesmo saber q não estamos sozinhos, principalmente quando a coisa aperta; o carinho e companhia das pessoas queridas é tudo! Que bom também que seus pais estão aí, que vc tem um colo garantido e pode até se mudar para a casa deles, rs. Seu conforto me confortou, podes crêr.
ResponderExcluirComo são fortes os laços familiares, os laços afetivos, que nos tornam juntos e dão suporte para q a gente consiga suportar momentos difíceis, abraçar, chorar e porque não, comemorar as coisas boas!
A propósito de família, li agora a pouco um trechinho interessante dizendo: "primos são os primeiros amigos de nossas vidas. Quando vc cresce, eles continuam seus amigos. Ninguém nunca vai entender a loucura da sua família como seus primos".
Além disso, a torcida 'a distância é enorme...
Te cuida, Claudinha. Você me é muito cara, prima.
Beijo enorme
Querida...
ResponderExcluirque legal isso que vc leu sobre os primos!
É a mais pura verdade.
Só os primos sabem a misssa toda. Os amigos podem desconfiar se forem muito próximos...mas saber e sentir de verdade, nunca.
Hj a dor já foi menor. Nada mudou na mão ainda mas menos dor já é um espetáculo!
Bjs
Ficas aí para o carnaval?
quando a gente diz que atendimento muda a vida das pessoas, esse texto é uma prova disso.
ResponderExcluirEsse texto pode virar um case e um jogo dos 7 erros...rs . Tô brincando pra gente achar alguma coisa boa nesta história que vc tá levando super bem.
Que profissa que vc é !! Caracas tiro meu chapéu
bjs