quinta-feira, 3 de março de 2011

Quatro atos de uma novela inconveniente e suas lições

Vou tentar, aos poucos, escrever o que tenho passado na mão de quem presta serviços de “saúde” para nós reles mortais que estamos doentes e fragilizados. Quem está são parece que está acima de nós e nunca ficará doente.
Primeiro, mas não o mais importante, para não  infartar. Preciso desabafar.
Segundo, porque tenho aprendido algumas coisas que podem ajudar qualquer um no futuro.
Para isso, preciso voltar um pouco no tempo.

Ato 1

Tudo começou com uma dor suportável mas irritante que ia do ombro até o cotovelo. Daí até a mão  era uma certa queimação. Como nunca dou a devida importância aos sinais do meu corpo e estava resolvendo a minha viagem – passagem, passaporte etc, nem me passava pela cabeça parar para fazer consultas e exames. Na volta talvez. Fiquei então tomando antiinflamatório por minha conta e risco.
Nada melhorava e, de repente, de um domingo para segunda acordei com uma dor insuportável mesmo e a mão direita semi-paralisada.
Aí não tinha jeito: precisava procurar ajuda.
Não conseguindo consultas agendadas para o mesmo dia, fui para o CREB na Voluntários da Pátria, em busca de socorro.

Lição número 1: Jamais se recuse a escutar seu corpo. Se você finge que não escuta enquanto ele está falando baixo, é óbvio que ele vai ter que berrar!

Ato 2

O médico que me atendeu pediu ressonância magnética da coluna cervical (certíssimo já que já operei o local) e eletroneuromiografia – também certíssimo para medir o quanto de força na mão eu já havia perdido. E me receitou os primeiros opiáceos para controlar a dor.
Estaria tudo muito bem, não fosse o fato de ele, sem saber o que eu tinha, irresponsavelmente prescrever um pacote básico de fisioterapia “enquanto isso”.
Fiz 4 dias seguidos daquilo tudo enquanto esperava o resultado da ressonância e....piorei  MUITO!!!

Lição número 2: fisioterapia não é brincadeira. Pode te deixar muito mal,  mesmo parecendo inocente. Não deixe que te toquem enquanto não tiver diagnóstico e mesmo assim só gente  de muita confiança. Você jamais conseguirá provar que a fisio agravou seu quadro.

Ato 3

Fiz a ressonância magnética na terça feira, no laboratório onde consegui marcar primeiro: o Lâmina – Unidade Arpoador. Tudo muito lindo, confortável, atendimento carinhoso e pontual. Tudo de bom, pensei.
O resultado me foi entregue em casa, na sexta no final da tarde com  um laudo conclusivo e assustador. Eu tinha tudo e mais um pouco na cervical, inclusive edemas e etc.
Bom, já contei que eu só piorava e diante daquele laudo entrei em pânico.
Começava um longo fim de semana.
Sábado de manhã comecei a ligar para médicos que eu conhecia ou indicados. Falei primeiro com um ortopedista maravilhoso, especializado em medicina chinesa. Achei que era a melhor opção porque não seria tentado a falar em cirurgia como única saída. Todo mundo vê o problema através da lente do que sabe fazer. E a última coisa que eu queria pensar era em cirurgia.
Ledo e doloroso engano: ao ouvir o laudo pelo telefone, ele disse: o seu caso é cirúrgico e urgente. Você não tem um dia a perder sob pena de nunca mais recuperar os movimentos da mão.
O que senti? Além do desalento com o possível desfecho, uma tristeza por ele nem ter  falado em me ver. Que médico conclui alguma coisa e afirma, com base em laudo? Sem ver a imagem e nem a paciente? Pra mim ficou claro que ele não iria estragar o sábado dele (muito embora eu estivesse diante de alto risco).
Aí liguei logo para o cel do Paulo Niemeyer Filho, que me operou há 10 anos. Caixa postal. Deixei recado pedindo para me ligar mas estava tão descrente que nem esperei muito.
Liguei para o meu clínico da vida toda. Estava pedalando na Lagoa e parou para ouvir o laudo. Mesma resposta: cirurgia imediata. Quando chegasse em casa me passaria o tel de um ótimo cirurgião.
E o que acontece? Dez minutos depois retorna o Paulo. Ouve o laudo e diz: estou em São Paulo. Anteciparei minha volta para de manhã e você me encontra na São Vicente às 14 horas. Preciso te ver. DOMINGO às 14 hrs. Ninguém pode. Ele pode. Nada diz ou afirma. Preciso te ver. E ele estaria embarcando para a Índia na terça. Se fosse cirúrgico, teríamos só dois dias.
Domingo nos encontramos e ele , vendo a imagem, disse que estava péssima, que nada podia se ver ali e que eu teria que fazer outra. Mas, pelo exame clínico ele podia quase apostar que não era coluna e sim algo periférico. Marcou comigo segunda de manhã. Ele queria supervisionar a ressonância.
Resultado: viu na própria segunda que não havia nada a ser operado e me encaminhou para um neurologista de sua confiança, não sem antes escrever uma longa  carta contando tudo e me apresentando ao tal novo médico.

Lição número 3 – Nunca use o laboratório Lâmina. A quantidade de erros lá é gigantesca. Sobretudo em exames de imagem.  Nesses casos estamos reduzidos a: Multi  Imagem na Sadock de Sá, CPDI e Felipe Mattoso. O laudo  que eles me deram foi absolutamente criminoso já que a própria imagem era ilegível.

Lição número 4 -   Só faça ressonância em máquina aberta se você de fato não suportar a  fechada. A qualidade da imagem da aberta é muito  pior e você provavelmente terá que fazer outra.


Lição número 5 – Não ache que o melhor médico é menos disponível. Pelo contrário, ele é o melhor exatamente por isso. A reputação de um profissional que trabalha com gente é feita de conhecimento técnico+experiência+capacidade de entrega. Quem vê mais casos e aprende mais? Quem não perde um ou quem tem preguiça? Quem é mais procurado? Quem tem disponibilidade ou quem não tem? Além disso, o cara quando é muito bom, rico e famoso, já passou por todas as necessidades da pirâmide de Maslow e só lhe resta a doação como ser humano para ser feliz. A menos que seja um caso de patologia egótica. Aí é bom nem chegar perto, porque a vaidade faz as pessoas só fazerem merda. Então, nunca ache que um médico é bom demais ou famoso demais para você. São esses que vão te atender melhor e tentar sempre facilitar sua vida.

Ato 4

Neurologista novo. Maravilhoso. Um mega pesquisador, estudioso, simpático. Outra grande figura humana. Está em processo de diagnosticar a doença a minha neuropatia escandinava que já contei no outro dia. O problema lá: as secretárias.
Iniciativa zero, empatia zero, capacidade de antecipar problemas zero. E muito pouca educação eu diria.
Agora a saga tem sido com a Sul América. Infinitas exigências para aprovar cada exame, sobretudo os que você já fez e teve que repetir. Será que se os exames consistentemente ficam ruins (2 no meu caso) e têm que  ser repetidos não é porque eles escolhem mal a rede conveniada? E nós, doentes, é que pagamos o pato?
Uma empresa que lida com gente doente e sofrendo, não tem o direito de se referir ao contrato para lhe convencer de que está agindo direito. Hoje me estressei  profundamente o que só fez agravar minha dor.
Esse ato não acabou mas já deu lições:

Lição número 6 – Se você puder escolher seu plano de saúde ou o que vai disponibilizar para seus funcionários, considere não considerar a Sul América. Burocracia máxima, atendimento pessoal péssimo, frio, voltado escancaradamente para o resultado da empresa. Nem tenta disfarçar.

Lição número 7 – Só tome morfina em último caso. A sensação é péssima!!!!

Amanhã, tomografia no CPDI. Depois eu conto.
Levei o dia todo para escrever esse texto. Ai que cansaço! Pelo menos me distraí e esqueci a fúria.  Bom, pra isso a morfina serve.
Minhas únicas diversões têm sido conversar com quem vem aqui ou por telefone – que toca o dia inteiro graças a Deus, e ver TV. Nem posso ler porque não consigo segurar o livro. A maozinha direita é de uma tetraplégica, sem exagero.
Exercício de paciência fora de hora esse!

7 comentários:

  1. Claudia, que saga !!! Pelo menos, fiquei encantada com o tratamento que o Paulo Niemeyer Filho te dispensou !! Bárbaro saber que ainda existem médicos vocacionados ! No mais, tenho certeza de que o teu neurologista pesquisador vai achar E CURAR o teu problema. Bjs e muita força e coragem !!!! Evelyn

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  2. Pois é Evelyn querida...o Paulo é um dos homens mais encantadores que conheço. E que paz, que luz!
    Um espetáculo!
    O que vai atrapalhar muito vai ser o carnaval. Vai dar uma boa atrasada nas pesquisas.
    E sentir dor cansa muito!
    Mas hj o neuro me ligou dizendo que não vai sair do Rio e que não sairá de perto de mim.
    Fofo né?
    bjs querida

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  3. elizabeth s p mundim3 de março de 2011 às 23:28

    Tô de cara, Claudia. Ao mesmo tempo impressionada com essa mulher de fibra, que da dor extrema consegue tirar lições importantes e repassá-las.
    Minha querida, com certeza, agora diante desse diagnóstico e na mão de bons profissionais o tratamento vai deslanchar.
    Se precisar de alguma providência, conte conosco.

    Beijos, muita LUZ!

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  4. Obrigada prima amada!
    Eu sei que vai andar e dar tudo certo.
    Hoje acordei pela primeira vez muito desanimada. Ah e tenho dormido muito pouco. Nào sei se são os remédios. A metadona deixa vc muito grogue e meio doidona mas não faz dormir. Boca seca, suores...muito ruim. Por outro lado, a dor passa.
    Mas já recuperei meu bom humor rsss
    Sei q conto com vcs coomo tenho contado com muita gente querida aqui. Helo tem sido uma amiga e companheira de médicos e exames maravilhosa. Com tudo isso nós rimos muito juntas. Edu tb, um carinho só. As amigas, os amigos....esse lado é sensacional.
    Até o ex me liga várias vezes ao dia, me mata de rir no telefone (ele sabe ser engraçado quando quer) me pega quando dá...enfim, todos muito solidários. O pai e a mãe nem se fala.
    enfim, dentro do quadro todo, estou confortável.
    Beijo queridaa. Torcida a distância conta muito. E me escreve sempre. Eu adoro quando tem mensagem sua!

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  5. elizabeth s p mundim4 de março de 2011 às 19:28

    Muito bom mesmo saber q não estamos sozinhos, principalmente quando a coisa aperta; o carinho e companhia das pessoas queridas é tudo! Que bom também que seus pais estão aí, que vc tem um colo garantido e pode até se mudar para a casa deles, rs. Seu conforto me confortou, podes crêr.
    Como são fortes os laços familiares, os laços afetivos, que nos tornam juntos e dão suporte para q a gente consiga suportar momentos difíceis, abraçar, chorar e porque não, comemorar as coisas boas!

    A propósito de família, li agora a pouco um trechinho interessante dizendo: "primos são os primeiros amigos de nossas vidas. Quando vc cresce, eles continuam seus amigos. Ninguém nunca vai entender a loucura da sua família como seus primos".
    Além disso, a torcida 'a distância é enorme...

    Te cuida, Claudinha. Você me é muito cara, prima.

    Beijo enorme

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  6. Querida...
    que legal isso que vc leu sobre os primos!
    É a mais pura verdade.
    Só os primos sabem a misssa toda. Os amigos podem desconfiar se forem muito próximos...mas saber e sentir de verdade, nunca.
    Hj a dor já foi menor. Nada mudou na mão ainda mas menos dor já é um espetáculo!
    Bjs
    Ficas aí para o carnaval?

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  7. quando a gente diz que atendimento muda a vida das pessoas, esse texto é uma prova disso.

    Esse texto pode virar um case e um jogo dos 7 erros...rs . Tô brincando pra gente achar alguma coisa boa nesta história que vc tá levando super bem.

    Que profissa que vc é !! Caracas tiro meu chapéu

    bjs

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