quarta-feira, 16 de março de 2011

Oráculos - parte 1

Vou me atrever a escrever um texto mais longo.
Primeiro, porque entendi que nada vai acontecer se eu não tentar melhorar minhas habilidades com o cérebro que Deus me deu (ele sempre descobre novos caminhos e isso é fascinante).
Segundo, porque estou sem energia em casa e acabo de descobrir que isso é mais paralisante que uma simples mão direita que não se mexe. Nada de TV, nada de internet, telefone fixo, ar refrigerado... enfim. Idade da pedra total.
Ocorreu-me, então, falar um pouco sobre oráculos já que eles têm feito parte da minha vida nas últimas semanas – isso enquanto a bateria do computador agüentar, claro.
Na década de 80, quando o pensamento oriental “invadiu” a praia da forma de ver ocidental e todo seu rigor científico, sobretudo pelo novo posicionamento dos físicos diante da física quântica, fui apresentada, por uma querida amiga que sempre gostou dos mistérios escondidos nas antigas civilizações, seus filósofos, profetas, estudiosos dos astros e tudo o mais que fugisse ao nosso pensamento - senão tacanha, pelo menos muito limitado, de causa e efeito, ao maravilhoso livro das mutações – o I Ching.
Deixe estar que eu já estava muito atrasada. Richard Wilhelm, grande estudioso dos originais em chinês do I Ching, editou a primeira tradução em  alemão em 1956 (antes de eu nascer) e já tinha pedido a Jung que escrevesse o prefácio.
Richard estava convencido de que era preciso aproximar a sabedoria chinesa do ocidente e, muito amigo que era de Jung (queria ter sido uma mosca para presenciar as discussões dos dois que devem ter sido riquíssimas), não poderia ter escolhido melhor cabeça ocidental para prefaciar sua obra de anos de estudo. O prefácio de Jung é um primor e foi escrito em... 1949!
Nele, Jung nos conta que já vinha usando o I Ching como forma de exploração do inconsciente (como ele não sabia chinês, precisava muito dos estudos de Richard), baseado no fato que vou tentar resumir para quem não está familiarizado:
O que ele diz, é que todo momento da nossa vida é único e tudo que acontece nesse momento está em sincronia (ele foi o primeiro a falar sincronicidade, diga-se de passagem). De certa forma ele se opõe ao pensamento ocidental científico baseado nas provas de causa e efeito, pelo simples fato de que, na maioria das vezes, precisamos, para provar algo, de laboratórios perfeitos, livres de interferências que possam “falsear” o experimento planejado. E a natureza simplesmente não é assim! Tudo está acontecendo o tempo todo e não temos controle sobre todas as variáveis. Coisa que a física quântica veio comprovar, mostrando que o mundo e os eventos da natureza são, no máximo, probabilísticos.
Para resumir, Jung propõe que um jogo de moedas, varetas, cartas etc., está ligado ao momento tanto quanto qualquer outro evento nesse mesmo momento. E, desde que alguém (estudiosos, sábios, observadores da natureza humana ou não), tenha estabelecido os padrões de comportamento dessa mesma natureza – 64 hexagramas do I Ching, as cartas do Tarô etc., o resultado do seu jogo revelará coisas importantes sobre o momento que você esta vivendo. Coisas que, possivelmente, você já saiba, mas que, muitas vezes estão inacessíveis no seu inconsciente. Vai daí, que a resposta é sua e cabe a você interpretá-la com sabedoria e sabendo fazer as relações com o momento (que só você conhece inteiramente) e com coragem, já que muitas vezes a resposta não é aparentemente a que você gostaria de obter.
Claro que conhecer um pouco do I- Ching fez a alegria e diversão de uma mulher de vinte e poucos anos, cheia de questões, curiosa e muito, muito cética e ocidental.
Me diverti muito. Nossas perguntas (minhas e as da minha amiga) giravam em torno de namorados ou pretendentes - devo telefonar? Ele gosta de mim? Devo investir nessa relação? E por aí a fora.
E se a resposta parecia meio duvidosa (é difícil entender as referências chinesas se você não estudou nada), jogávamos de novo até sair algo a favor do que queríamos. E ríamos muito com as respostas. Quantas e quantas noites, ficar em casa consultando o I-Ching com a amiga era muito mais divertido que qualquer programa, até mesmo encontrar o “homem” das nossas perguntas – raramente os homens conseguem ser tão divertidos e ter o pensamento tão afinado com o nosso.
Isso foi uma fase, longa, mas passou e, na verdade nunca foi levada a sério. De verdade eu continuava a achar que as respostas para o autoconhecimento estavam na psicanálise – Freud e Cia, e que tudo o mais era feito para nos distrair ou ganhar dinheiro fácil.
Tola, muito tola.
Precisou passar quase 30 anos para que eu finalmente compreendesse que o autoconhecimento está em toda parte, sobretudo nas nossas reflexões. E que qualquer método que nos leve e refletir, tem valor e agrega conhecimento. Sejam os astros, os oráculos, a psicanálise, as terapias ditas alternativas, nossas orações, a leitura de textos sagrados... Tudo, se bem aproveitado, revela coisas importantes sobre nós mesmos e, se você está inteiramente envolvido no processo, vai percebendo as conexões, “coincidências”, padrões para, finalmente, realizar o objetivo de todo esse esforço: melhorar: como ser humano, amenizar seus sofrimentos, tornar a vida mais rica de significado.
Isso já está enorme e nem cheguei onde queria. Na parte 2 contarei como os oráculos entraram na minha vida de forma séria e por que, agora, meu universo interior entrou em uma trajetória de expansão impressionante.

2 comentários:

  1. Cláudia,

    Que maravilha....
    Cheguei hoje.
    Voce escreveu assim ...só com a mao esquerda ?
    Que texto legal, minha flor.
    Quando podemos nos encontrar ? Posso te ligar amanha ?

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  2. Só com a esquerda. Viu como estou esperta? e olha q hj a dor voltou. Não contava com essa.
    Mas pensar e escrever são minhas distrações preferidas. Não consigo abrir mão até disso...
    Claro que pode me ligar! Estou doida para saber de tudo, sobretudo sobre a Cris.
    Te espero.
    Beijo querida

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