terça-feira, 2 de novembro de 2010

Jean-Jacques Sempé

Tive meu primeiro contato com a obra de Sempé exatamente em 1989.
Sei isso por conta de que algumas cenas, sem mais nem menos, fixam-se em nossas memórias sem motivo aparentemente especial.
Lembro-me perfeitamente da casa do amigo em que vi o livro, do namorado que estava comigo, e de como, atraída que sou por estantes onde elas estiverem, fui bisbilhotar a da casa  do amigo do namorado. Encantamento à primeira olhada. Passei horas folheando e me deliciando com aqueles desenhos meio tristes, meio mágicos, muito engraçados. De uma graça melancólica e que não provocam exatamente gargalhadas, mas longos sorrisos.
Próxima providência: ir  à livraria no dia seguinte e comprar para mim o que houvesse dele. Achei uma coleçãozinha de 6 livrinhos finos que me deleitam até hoje.
Sim, pelo menos uma vez por ano, vejo tudo de novo, com a mesma ternura em relação aos personagens, com a mesma admiração pelo humor afiado e ao mesmo tempo complacente desse cartunista cujos heróis são homens comuns não raro deslocados de seu tempo e lugar (Paris na segunda metade do sec.XX), e a inspirada ironia com que trata a empáfia, a pretensão e a profunda distância entre a propaganda e os meios de comunicação e o homem comum, confuso do seu papel de protagonista ou vítima de uma época de mudanças cruciais na vida parisiense, sobretudo diante da “invasão de hábitos americanos”.
O desenho é lindo, fino, sem excessos, mas dando a exata medida do caos interno do “ser” parisiense de então. Mas com muita delicadeza e empatia.
E daí? perguntarão alguns. E daí que, não sei por que, me dei por satisfeita com meus livrinhos e nunca mais fui à cata de novas obras de Sempé.
Domingo, abro a revista Serafina da Folha de São Paulo e me deparo com uma matéria dedicada a ele. UAU! Ele  é um dos monstros sagrados da New Yorker, já fez parceria de sucesso estrondoso com Goscinny ( o roteirista de Asterix que também amo) – Juntos fizeram o Pequeno Nicolau ( Sempé com o desenho, Goscinny com o texto) e agora está lançando no Brasil um novo livro, “Raul Taburin” (Cosac Naify).
Ah! em 2009 saiu aqui também “Marcelino Pedregulho”. Nem soube de nenhum deles. Ser alienado!
O problema, o único problema, são as traduções. Quem não consegue ler francês (acho que a maioria das pessoas) perde da missa a metade. Eu considero a língua francesa muito apropriada para o humor (Asterix em francês é de rolar de rir.!!!!).
Nos livrinhos de Sempé  que tenho, há poucas palavras. Os desenhos dizem muito mais. Se for o caso dos novos, menos mal. Se não for, teremos que rezar para que as traduções sejam minimamente razoáveis (as do Asterix na maioria das vezes são honestas e aceitáveis). Mas Marcelino Pedregulho! Cá entre nós, não me parece um bom começo.
Publico acima, por absoluta incompetência, como degustação,  um dos cartoons mais geniais que vi nos meus livrinhos. Achei na Internet. Reparem a cara dos telespectadores diante da pergunta. É de rolar de rir. Por sorte achei em Francês e Português
Queridos, não percam. Sempé é um gênio e não dá para deixar passar.
Divirtam-se!

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