quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Complexo do Alemão - as pessoas não merecem isso

Pouca gente sabe mas estive envolvida em um trabalho voluntário no Complexo do Alemão.
Não comentei com a maioria das pessoas que me cercam por achar que essa era uma atividade que só a mim dizia respeito e que mexia não só com minha vontade de compartilhar conhecimento com os menos favorecidos, mas dar minha contribuição para todo processo de inclusão social que, é senso comum, precisa urgentemente acontecer. É muito triste que  tenhamos que usar essa expressão "inclusão". Jamais poderiam ter sido excluídos.
O momento foi muito especial porque era um projeto sempre presente na minha cabeça mas jamais realizado por inúmeros motivos  e “desculpas” que a gente sempre vai arranjando para não interferir naquilo que achamos deplorável mas que, de verdade, achamos que não nos diz respeito.
Finalmente achei que me dizia respeito sim, e abri espaço no meu coração e na minha cabeça para abraçar essa causa.
Semana passada estava lá, visitando as estações dos teleféricos, participando da festa dos principais empreendedores que foram eleitos por nós, circulando pelos principais pontos comerciais do Complexo.
Hoje estou precisando falar sobre isso porque conheci tanta gente, fiz tantas amizades, tenho certeza (através de depoimentos deles) que fiz diferença na vida de alguns, e desenvolvi um enorme carinho pelas pessoas daquelas favelas que querem viver dignamente, que querem progredir e só precisam que alguém reconheça e valorize seus potenciais.
Agora, acompanhando a televisão, só pensava neles e no que estariam sentindo, se estavam em segurança e como estariam vivendo tamanha barbárie.
Como fiquei com muitos cartões e telefones, liguei para muitos para saber. Não podia ficar só imaginando.
O que me surpreendeu e me fez quase chorar foi o quanto agradeceram por eu ter ligado. Como me disseram sobre o conforto que sentiam por alguém se preocupar.
Pode-se imaginar o nível de  descaso e de falta de pessoas que se preocupem com elas?
Porque um telefonema meu é motivo de tanta emoção? Porque tratamos tanta gente legal como se não existissem?
Abomino tudo isso. Abomino a hipocrisia. É lindo atuar para a TV em rede internacional. É lindo gastar milhões construindo teleféricos com altas festas de inauguração. É revoltante escutar que precisamos resolver isso antes da Copa e das Olimpíadas. E se não houvessem esses eventos? Ah! me poupem de tamanha politicagm e fogueiras de vaidades.E o dia a dia? E as crianças? E os talentos perdidos? E o preconceito generalizado com as pessoas das favelas?
Eu estou de luto. 
Mas tenho muita fé de que de espetáculo em espetáculo essas pessoas  acabem sendo vistas como são: gente normal, talentosa, inteligente, empreendedora, digna e iguais a nós, privilegiados da Zona Sul.
Tenho fé que façam valer suas posições de seres atuantes e não vítimas que precisam de esmolas para viver.
É mais prejudicial ter as drogas proibidas com a polícia compactuando com os marginais para ganhar dinheiro fácil e o discurso babaca de que se o consumo parasse não haveria tráfico ou encarar de vez a situação: haverá consumo sempre e é hora de legalizar isso tudo?
Tudo que sei é  que aquelas pessoas não merecem isso.

2 comentários:

  1. Ai que tristeza, Claudinha. Essas diferenças sociais, essa segregação e preconceitos, me fazem muito mal, também. Tenho uma revolta antiga e desde menina fico me perguntando porque determindas famílias, pessoas destituídas de tudo, têm que passar por tanto sofrimento e desespero?
    São essas pessoas, por exemplo, que perdem suas casas, perdem seus entes queridos, quando acontece uma catástrofe. São elas, que soterradas na lama, gritam por socorro de toda ordem.
    Sempre me acompanhou um sentimento de insatisfação, de que tudo tem um lado tenebroso e nada é perfeito mesmo e que não serei feliz nunca, enquanto existir tanta desigualdade, tanto sofrimento, tanta necessidade da droga que apazigua as pessoas.

    Porque será que Deus, permite isso alguns e outros ficam ilesos?

    sAUDADES...

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  2. Pois é prima. Fica a questão. Porque será? E a coisa ainda fica mais angustiante quando você conhece as pessoas. Viu as carinhas, conhece as histórias, os filhos...
    Por trás de cada tragédia há uma pessoa igual à gente, com sonhos, esperanças, projetos, amores, afetos....
    Eu, nesse caso, estou muito mexida. Aquele pessoal do Alemão já estava fazendo parte da minha vida. Espero que voltem a fazer rápido.
    Beijo
    Saudades muitas

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