quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Belo Horizonte

Ah o que BH me faz sentir!. Não a cidade talvez, mas o que ela faz aflorar na minha alma, na minha pele, no meu coração.
É sempre a mesma coisa: meu afeto está aqui, minha memória mais doce, meus momentos mais felizes, minhas maiores vivências de amor infinito.
Aqui eu fui amada e amei muito. Aqui fui criança feliz. Aqui me festejavam, me botavam no colo, me faziam sentir o aconchego que nunca mais senti e talvez seja essa sensação que busco até hoje.
Aqui os jardins eram verdes, o flamboyant no quintal nos inspirava, vívíiamos entre inventar e sonhar.
Aqui tive avô, avó, tios e tias, primos e primas e ansiava por estar aqui durante o ano inteiro. As férias eram uma verdadeira festa. Passar a noite que  antecedia a partida do Rio para BH era praticamente impossível tamanha a ansiedade.
Entrarmos 5 no fusquinha do meu pai para encarar 3 dias de estrada (quando  ainda morávamos na Bahia) e 1 dia quando já morávamos no Rio, com toda sorte de “lanches”para a viagem, tinha o sabor de embarcar na primeira classe de qualquer avião e viajar para o reino da felicidade.
Chegar e estarem todos na porta, pães de queijo quentinhos esperando, broas de milho, balas de coco puxadas e repuxadas pela vó...quanta força ela tinha! Comer balas de coco quentes, grudando nos dentes era como comer todo o carinho com que  ela as fazia com seus braços cheios de amor e energia. E nos olhava emocionada comendo e rindo e  querendo sempre mais.
Belo Horizonte tem um cheiro....tem uma ar que por mais quente pra mim é fresco...tem um gosto de riso, de bonecas novas, de descobertas junto com as primas, de primeiros amores, de primeiras conversas de meninas virando mulheres.
Das gargalhadas debochando dos mais velhos, dos castigos amorosos pelas insubordinações “das meninas impossíveis”.
Não tínhamos a mínima ideia do que a vida seria.  Acreditávamos em Papai Noel, paramos de acreditar. Os Natais, ah os Natais inesquecíveis. Adultos à mesa farta, crianças correndo, gritando, presentes, beijos, muitos beijos...elogios, muitos elogios! "Como ela cresceu! Como é inteligente! Como está linda!" E tudo parecia dizer: "como a amamos"!
Acreditávamos que a vida seria sempre assim, que quem amávamos jamais morreria, que estávamos todos ali, imutáveis, firmes como rochas e assim seria a vida toda...
Fomos descobrindo as primeiras desilusões, as primeiras perdas das pessoas amadas, a ingenuidade foi acabando e nos deparamos com a verdade: a vida não era o que aquele viver feliz nos prometia.
A vida podia ser cruel, muito cruel...
Felizmente tivemos aqueles momentos todos para amparar nossos corações quando eles finalmente foram se partindo. Tínhamos a firmeza interna e a  confiança que só os passeios de barquinho, jumentos e farras no Parque Municipal puderam nos dar.
Nossas vidas sabem a pães de queijo e balas de coco e isso nos faz agüentar todos os trancos e ter até hoje, com os que sobraram, os encontros mais gostosos, mais sinceros, mais íntimos, mais infinitamente amorosos que se pode imaginar.
Aqui volto a ser feliz, a ser eu mesma. Volto a confiar. Volto a amar cada pessoa, cada rua, cada lembrança, cada risada.
E, talvez comece e ter certeza de que BH é o meu lugar.




4 comentários:

  1. Menina, nossa história é convergente em muitos momentos, tecida com pontos bem resistentes e coloridos, que jamais se desfarão! O sabor que fica é realmente delicioso, com avó fantasiada de fada e empadas com e sem bolinhas - as marcadas com as bolinhas eram temperadas com uma pimentinha na medida certa! Portanto, falamos a mesma língua e a emoção transborda.
    Morando em BH durante a infância, esperávamos com alegria a chegada dos primos queridos, para as festas e férias de final de ano. Sua família, Claudinha, era para nós, o que faltava para que todas as comemorações fossem perfeitas, alegres, cheias de novidades! A ansiedade causada pela espera, 'as vezes me adoecia, de contentamento e uma excitação que não cabiam dentro de mim.
    Hoje, parece que realmente podemos falar de excesso de afeto, amor, mimos, carinho, advindos dessa época, tão marcante para nós.
    Penso ainda, que isso me permite tranferir para os filhos esse aconchego de quem vivenciou sentimentos tão profundos. E acima de tudo, querer ainda ter a oportunidade de continuar experimentando esses encontros, com as pessoas queridas, com um novo olhar.

    Tudo era mágico.

    Beijo grande.

    ResponderExcluir
  2. Prima querida...
    Tenho certeza de que falamos a mesma língua. Tenho certeza disso a cada vez que nos encontramos. E tenho ficado ainda mais feliz por estarmos descobrindo cada vez mais afinidades e com isso ficado ainda mais próximas.
    Mesmo com toda a nossa história, o novo olhar de que você fala é maravilhoso e descubro em você a cada dia uma pessoa que amadureceu imensamente generosa, cheia de amor pra dar e muito inspiradora!
    Se fôssemos abrir nosso baú hein? Sairiam canários vestidinhos de preto, olhos verdes, azuis e negros, brigas de arrancar os cabelos kkkk
    Que delícia!
    Beijo querida...ainda bem que essa vida nos pertence!

    ResponderExcluir
  3. Minha querida, sem querer vc abriu meu baú e agora terá que me escutar (ou ler).
    Na minha família de origem, somos duas irmãs, com diferença de apenas 1 ano e 3 meses, que se vestiam iguais, éramos de mesmo tamanho e nos confundiam como gêmeas ( o que era muito apreciado pela mãe). Nesse jogo comparativo, eu sempre tinha a sensação de estar perdendo. Era mais velha, mas "incapaz" de dar bons exemplos, ao contrário só fazia "mal" feito. Tinha magreza, mas não tinha altura, em compensação a irmã era gordinha, mas tinha altura e se impunha, por isso.
    Aí, chegavam as férias, as primas - irmãs eram esperadas com carinho, mas das 4, eu me sentia a pior! O nariz era torto, as notas eram as piores, o temperamento mais difícil, enfim, como me defender diante desse cenário? Aqui, Claudinha, é que entram as brigas de arrancar os cabelos. Hoje, entendo que era a forma como eu conseguia me fazer respeitar, diante de tanto desrespeito da parte dos adultos - não era falta de amor, não, mas em nome desse amor, trocavam os pés pelas mãos. Por outro lado, me ameaçava a presença de vocês, na medida em que eu poderia perder meu lugar junto 'aqueles que mais amávamos - pais, avós, tios - coisas da criança insegura de então. Com o primo, era diferente, minha relação com os homens sempre foi mais leve - não perpassava pela competição.
    Minhas reações diante da vida nunca foram de passividade, ao contrário sempre reagi agressivamente, não suportanto estar "por baixo", sentir medo diante dos perigos , tendo atitudes impulsivas e assim sobrevivi- 'as vezes trocando os pés pelas mãos, também.
    Amadurecemos, portanto conseguimos verbalizar o que ficava só 'a flor da pele e não tínhamos esse entendimento racional, mas tudo faz parte do nosso crescimento, até arrancar os cabelos, literalmente.

    Ufa, que catarse, menina...

    Beijo muito especial. Sua afetividade me encanta.

    ResponderExcluir
  4. Beth,
    o que você está colocando agora juro que me espanta..acho que é mesmmo da idade se sentir a pior rsrs
    Porque na minha cabeça a pior era eu kkkk
    Caçula, a única que de vez em quando fazia xixi na cama, a única carioca (naquela época isso me deixava furiosa), nunca sabia onde estavam minhas coisas...tenho ate hj uma foto (eu devia ter uns 5 anos) em que vcs todas estavam com aqueles sapatos lindos de bico levantado que eram um "must" e eu de "conga" porque não achei meu sapato rsrs. Nunca me esqueci desse dia...foi doloroso sair na foto assim.
    Heloisa implicava muito comigo, ainda tinha isso. Mas é veradade que para os avós e os/as tias nada tinha importância. Eu me sentia com eles muito amada e segura. Lá em casa é que as coisas eram mais pesadas.
    Vc não tem tão clara essa separação entre a sua casa e o resto da família, por isso talvez embole um pouco.
    Eu tenho porque família inteira pra mim só nas férias. Acho que isso conta.
    De resto, nada melhor que esse olhar distanciado para nos entendermos cada vez mais
    Beijossssss
    já estou morta de saudades

    ResponderExcluir