sábado, 27 de novembro de 2010

Amizades

Está me ocorrendo agora que, em pelo menos uma coisa eu fui muito competente nessa vida: em fazer amigos.
Mas uma competência meio do “bobo” da Clarice Lispector. Uma competência que não planejei, treinei nem fiz o menor esforço. Ao contrário, sou péssima em “cultivar” amizades. Pouco telefono para as pessoas mesmo que muito queridas, não mando e-mails, não me lembro dos aniversários, não desejo feliz natal.
E no entanto eles existem e posso me vangloriar de ter mais amigos de verdade, mais amigos antigos e verdadeiros, mais gente que gosta muito de mim do que a maioria das pessoas que conheço. Não vai aí nenhuma pretensão, mas muita vaidade!
Acabo de chegar de um encontro com 2 queridíssimas amigas de mais ou menos 43 anos atrás. Uma conheci aos 10 anos, a outra aos 11 anos.
A que conheci aos 10, hoje mora na Alemanha e toda vez que vem ao Brasil (2 vezes por ano em geral) nos encontramos.
E é como se o tempo nunca tivesse passado. As conversas seguem misturando passado e presente de tal forma que mesmo um assunto sério do presente se transforma em gargalhadas porque temos memórias e referências remotas que imediatamente associamos com o que se passa agora e fica tão fácil nos entendermos, nos conhecemos tanto, nos queremos tão bem, continuamos apaixonadas umas pelas outras. O tempo simplesmente não existe nessas relações de amor profundo e de sempre.
E não são só essas duas. Tenho inúmeras e inúmeros amigos de longa data com quem tenho a mesma intimidade e amor.
Posso não vê-los frequentemente, mas o suficiente para nunca nos esquecermos e para termos essa mesma sensação de que o tempo nunca passou.
Revendo agora minha lista de Grandes Amigos, me dou conta de que ficaram muitos de cada lugar por onde passei na vida. Mais, naturalmente, de onde passei mais tempo.
Colégio, faculdades, mestrado, um punhado de cada trabalho. Não são poucos.
Me orgulho disso. Penso que, mesmo sem cultivar conscientemente essas relações,  de alguma forma me fiz gostar e soube gostar tanto deles que perceberam e nem ligaram para o meu jeito meio estranho de ser. Ou então eu soube escolher muito bem de quem gostar mesmo sem saber que cada gostar no fundo é uma escolha.
Seja como for, estou muito feliz por estar pensando e verbalizando esse sentimento de competência que me tomou.
Porque finalmente posso dizer: nisso eu fui muito boa!
Coloco o verbo no passado porque bem sei que hoje já não tenho mais tempo de construir histórias como essas antigas que coleciono. Sei também que as amizades feitas hoje (não que eu não queira mas é uma imposição da vida) jamais poderão ser "testadas" quanto à sua resistência e profundidade. Continuo adorando fazer amigos com a mesma espontaneidade de sempre. Me "apaixono" por algumas pessoas e imediatamente se tornam " amigos de infância". Não me interessa quem são, o que têm, onde moram....simplesmente começo a gostar. Mas sei que o mundo não é assim: hoje, a maioria das pessoas não faz amigos e sim networking. Conhece-se alguém e imadiatamente se faz a relação de quem essa  pessoa conhece, onde uma possível amizade pode levar, quanto tempo vale a pena gastar.
É prático, é moderno, é funcional e é infinitamente vazio. 

2 comentários:

  1. Amiga querida. Estas conexoes modernas, às vezes me amedrontam um pouco, pois significa muitas vezes, pisar num terreno ainda nao explorado (sinto-me segura quando domino as situacoes). De outra forma permite-nos reencontrar amigos, nunca esquecidos, mas "escondidos" em algum ponto do planeta. Hoje, neste domingo bastante frio e de neve, meus olhos encheram-se de lágrimas ao ler suas reflexoes sobre amizade. Como já havia mencionado, sinto muita falta deste tipo de relacionamento, profundo, de uma intensidade sentida, sem necessidade de maiores explicacoes e cobrancas. Continuo emocionada e mesmo longe meus pensamentos estao frequentemente voltados para esta terra, que apesar de muitos pontos negativos, só se aprende a dar mais valor, quando se vê e vive o dia-a dia em outros lugares. Nothing and nobody are perfect. Como nao posso "parar o tempo", corro atrás dele para alcancá-lo na próxima parada. Sou muito feliz de tê-la como amiga.

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  2. Band querida, essas amizades é que amenizam todas as durezas da vida! Amo você também!
    bj

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