domingo, 20 de fevereiro de 2011

Domingo é um dia em que já vem tudo pronto

Acho eu, que ninguém lê Blogs aos domingos. Tem tanta coisa boa para ler nos jornais e nas revistas novas da semana, tem tanta gente boa escrevendo, pesquisando, entrevistando e sendo e entrevistada, que não sobra muito tempo para leituras extras.
Como para mim as notícias, os pensamentos e as ideias que leio, são sempre fonte de reflexão, aos domingos fico encantada por ver e saber como tem gente vivendo os mesmos dilemas, o mesmo mal estar, gostando das mesmas coisas, antenadas na mesma frequência! E invariavelmente, tenho  vontade de transcrever algo que já veio pronto e me emocionou. 
Já morri de rir com o João Ubaldo, me indignei junto com Veríssimo e Frei Beto, adorei saber que para o Domingos de Oliveira ( ninguém menos que ele), o melhor programa da TV hoje é......HOUSE!!!!
Mas quem me falou ao coração mais profundamente hoje foi a Martha Medeiros, com seu texto "Intoxicados pelo Eu". Me vi demais ali e de tal forma que acabei por compreender e apreender uma frase de Freud que li essa semana no Facebook, postada por algum amigo e que estava alugando a minha cabeça: "seríamos muito melhores se não tivéssemos a  preocupação de ser tão bons." Perfeito!
Aí vai a crônica da Martha para quem, na segunda feira, tiver deixado de ler no domingo.

Intoxicados pelo Eu/ Martha Medeiros 

 A gente perde muito tempo pensando na nossa imagem, no nosso futuro. Até que um dia acordamos asfixiados.

Outro dia acordei com uma espécie de ressaca existencial, sentindo necessidade de me desintoxicar, e era óbvio que o alívio não viria com um simples gole de Coca-Cola. Precisava, antes de tudo, descobrir o que é que estava me pesando, e logo percebi que não era excesso de álcool, nem de cigarros, nem de noitadas, os bodes expiatórios clássicos do mal-estar, e sim excesso de mim.

Desconfio que já tenha acontecido com você também: de vez em quando, sentir os efeitos da overdose da própria presença. Desde que nascemos, somos condenados a um convívio inescapável com a gente mesmo. Quando penso na quantidade de tempo que estou presa a essa relação, fico pasma de como consegui suportar tamanho grude. Eu e eu, dia e noite, no único relacionamento que é verdadeiramente pra sempre.

Ando escutando uma banda uruguaia chamada Cuarteto de Nos (que, aliás, fará show esta semana em Porto Alegre), cujas canções possuem letras divertidas e sarcásticas, entre elas, Me Amo, uma crítica bem-humorada a essa era narcísica que estamos vivendo. O personagem da música não ouve ninguém e não consegue imaginar como seria o mundo sem a sua presença. Tem muitas garotas, porém nenhuma é digna dele. Está muito bem acompanhado a sós. “Soy mi pareja perfecta”.

Intoxicação talvez seja isso: considerarmos que somos um par. Só que no meu caso, sou um par em conflito. Um eu que deseja fugir e outro eu que deseja ficar. Um eu que sofre e outro eu que disfarça. Um eu que pensa de uma forma e outro eu que discorda. Um eu que gosta de estar sozinho e outro eu que precisa amar. Nada de “pareja perfecta”, e sim caótica.

Uma relação tranquila consigo mesmo talvez passe pela conscientização de que não devemos dar tanto ouvido às nossas vozes internas e que mais vale nos reconhecermos ímpares e imperfeitos por natureza. A vida só se tornará mais leve e divertida se pararmos de nos auto consumir com tanta ganância e darmos uma olhadinha para fora. A gente perde muito tempo pensando na nossa imagem, no nosso futuro, nos nossos problemas, nas nossas vitórias, no nosso umbigo. Até que um dia acordamos asfixiados, enjoados, sem ânimo e sem paciência para continuar sustentando a pose, correspondendo às expectativas, buscando metas irreais, vivendo de frente pro espelho e de costas pro mundo.

É a era do egocentrismo, somos vítimas de um encantamento por nós mesmos, mas, como toda relação, essa também desgasta. Fazer o quê? Esquecer um pouco de quem se é, esquecer da primeira pessoa do singular, das nossas existências isoladas, e pensar mais no que representamos todos juntos. Ando cansada de tantos eus, inclusive do meu.


 


3 comentários:

  1. O mundo é muito mais interessante que o umbigo, mas um balanço é saudável. Bj

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  2. Só uma curiosidade: o HOUSE é o seriado Dr. House? Paulo

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