quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sonhos


Estava pensando…de que material é feito um sonho?
Eu tenho andado intrigada achando que nunca tive um sonho de verdade! E hoje todos os meios de comunicação nos dizem: sonhe! acredite! O Banco Completo ajuda você! O Banco da Sustentabilidade acredita no seu sonho!
E os títulos de auto-ajuda então nas livrarias? Você é do tamanho dos seus sonhos!
Deus, então sou realmente invisível porque nunca tive um sonho de verdade.
Casar, ter filhos, casa...tudo foi acontecendo sem que eu tivesse sonhado com nada disso...ou então eram sonhos enterrados em algum lugar do meu inconsciente pregador de peças.
Não estou falando daqueles desejos básicos que se faz ao soprar as velas do bolo de aniversário: ter saúde, paz, trabalho, algum dinheiro, os amigos por perto e a família segura e bem.
Estou falando de sonhos.
Remoendo esse assunto me dei conta de que isso não é totalmente verdade. Eu tive um único sonho consciente e como foi bom realizá-lo!
Desde que me entendo por gente adoro a França, o idioma, a história, a literatura. Estudei Francês com afinco na Aliança Francesa, lia todos os livros sobre Paris, via mapas, acompanhava o cinema e a literatura franceses. Me apaixonei cedo por Proust, Baudelaire,Victor Hugo, Balzac e tantos outros. Enfim, acalentei um sonho. Queria pisar naquele chão mais que tudo.
Vou confessar aqui que tinha uma crença muito estranha: morreria antes de ir a Paris, e por mais irracional que fosse, acho que fui adiando.
Milhares de coisas aconteceram antes que eu finalmente encarasse a morte de frente e  tomasse um avião rumo ao Charles de Gaulle quer desembarcasse ou não. Isso só aconteceu no verão europeu de1992.
E foi uma mágica! Não só não morri como tive sensações únicas que nem sei se consigo descrever. Chorei em plena Place de La Concorde (tão minha conhecida dos livros), chorei de novo em baixo do Arco do Triunfo.
Fiquei anestesiada por alguns dias, num estado semi-onírico que me fez ver (acho que hoje com mais clareza) que a conjunção sonho/realidade é capaz de criar estados alterados de consciência tão deliciosos quanto a mais deliciosa das drogas.
É capaz de possibilitar conexões que só posso chamar de cósmicas de tanto que as coisas boas convergem para um mesmo ponto ao mesmo tempo.
É capaz de nos mostrar quanto é pequeno o viver cotidiano já que o 3D nosso de cada dia explode em um espaço/tempo n-dimensional onde os tempos sonhado e real se misturam, os lugares não têm só altura, largura e profundidade: têm peso, sentimento, sensações múltiplas, expectativas, memórias de mil tempos passados e futuros...
Sonho realizado é uma espécie de iluminação.
Depois nunca mais.
Não que a vida tenha sido ruim ou de poucas realizações. Mas sonho mesmo, nunca mais. Onde estão eles? Será que não sonho ainda para não morrer? Mas nem morri. Ou terei morrido um pouco?
Depois disso voltei lá muitas vezes e nunca mais senti a mesma coisa.
Adoraria saber como se sonha. De onde se tira o desejo intenso? Como se desfaz o “tanto faz”?

5 comentários:

  1. Querida,
    Paris é mágico ainda que sonho que voce fez realidade e até chorou. Mas nunca pare de sonhar, se não for com um lugar desconhecido, tente outro, pense em um amor !!!!!!!
    Bj, adorei seu blog
    Luiz Dranger

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  2. Oi Luiz,
    bom te ver por aqui.
    A questão é justamante essa. Não sei como sonhar.
    Só tive esse único sonho na vida e como ele se formou quando eu ainda era criança, não consigo me lembrar como ele nasceu, nem de que partes de mim ele era feito. Perdi o acesso.
    Não precisa ser lugar nem amor, qualquer sonho serviria desde que me levasse a sentir pelo menos um décimo do que foi aquilo. Mas não sei como fazer.
    bj

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  3. É o sonho que nos impulsiona, nos joga prá frente, nos faz querer mais...
    Muitas vezes, depois de realizar um sonho antigo, me peguei dizendo: agora posso morrer!
    Por outro lado, morremos quando deixamos de sonhar, é a morte em vida.
    Não seria a inquietude, sonhos querendo aflorar?
    Beijo, Claudinha.

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  4. Prima querida,
    Vou pensar nisso. Esse seu insight me pegou muito de jeito.
    Deve haver certamente uma relação entre a minha dificuldade de sonhar (cujos motivos certamente permanecem inconscientes) e a eterna inquietude.
    Agora que me pus a escrever, parece que a coisa toda está ficando mais clara e vou prestar muita atenção nos meus movimentos inquietos para tentar perceber onde eles “bloqueiam” meus desejos mais intensos.
    Adorei seu comentário. Fora que a frase é poética pra caramba né?
    “Não seria a inquietude sonhos querendo aflorar?” Adorei!
    Escreva sempre. Você é uma inspiração.
    Saudades, bj

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