quinta-feira, 9 de setembro de 2010

E eu...que gostava tanto de ser moderna!


Houve um tempo em que me orgulhava de ser moderna. Sem afetações. Eu só notava que estava sempre em dia com as novidades, para o bem e para o mal.
Eu “era” a Radical Chic (mas quem não era né?). Me comportava, pensava, namorava como ela. Cheguei a ganhar um livro em um amigo oculto de Natal dizendo que eu era “igualzinha a ela”.
Me vestia modernamente, frequentava lugares modernos, tinha amigos idem.
Sabia me divertir, trabalhar e ser intelectual ao mesmo tempo. Via e curtia as artes modernas, os jazz festivals, as bandas de rock, Caetano, Cazuza. Fazia festas. Ia a festas. Passava os fins de semana em uma cidade chamada Búzios que não existe mais e tomava chopp no baixo Leblon.
E tive todas as doenças “modernas”: síndrome do pânico antes de todo mundo; tomei Prozac quando ainda nem era tão famoso; fiz ressonância magnética há 20 anos atrás - custava tão caro que a empresa teve que financiar para mim (os planos de saúde nem sabiam do que se tratava, só Felipe Mattoso tinha uma máquina dessas no Samaritano).
Tive analista antes de todo mundo da minha geração.
Era livre, era despretensiosa, era infeliz, era angustiada, era alegre...era  moderna.
E agora? Já passamos do pós-moderno e eu nem sei o que foi isso. Nunca consegui entender. Reconheço uma arte aqui, uma arquitetura ali...mas...o que é esse movimento?
Nós modernos sabíamos (e entendíamos) do existencialismo, do cubismo, do fauvismo, do surrealismo... O pós-modernismo já não me disse mais nada.
Me sinto um dinossauro quando a terra já não dava mais condições de vida àquelas enormes criaturas.
Faço parte de uma geração lá do início do alfabeto e estou totalmente atônita. Não compreendo.
Não compreendo boa parte da utilidade da tecnologia, não sei para que servem os filmes em 3D, achei Avatar chatíssimo, não entendo a ditadura do entretenimento que amputa o conteúdo de tudo que precisar se for para divertir mais, nem da interação a todo custo.
Não sei por que tenho que ganhar uma televisão para assinar uma revista que goste.
Não sei por que apesar de tudo o mundo é cada vez mais desigual.
Não sei por que ainda existe a África como sempre foi.
Não vejo nada de novo de verdade.
Me sinto frustrada, culpada e totalmente catatônica.
Onde e quando foi que me desconectei ou fui desconectada?
Acho que só envelheci. E contra isso não há remédio.

2 comentários:

  1. Claudia, um conselho de primos, o negocio é o seguinte,um dia desses fume um, ponha uma mochila nas costas e vá para o mato caminhar e desligue - se do mundo.

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  2. Ricardo querido,
    acho que tem razão. Já que me desconectei do mundo, talvez valha a pena tentar uma reconexão comigo mesma. Mais feliz!
    Valeu

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