terça-feira, 7 de setembro de 2010

O que é esse Chico Buarque?

Com raríssimas exceções, amamos todos e principalmente todas o Chico Buarque de Hollanda, que fez, pelo menos pra quem tem perto da minha idade boa parte da trilha sonora de nossas vidas.
São letras e músicas inesquecíveis e, senso comum, ele deveria se julgar um vencedor e dormir no berço esplêndido de um dos maiores senão o maior expoente da MPB.
Mas não, ele quis mais. Ele quis enveredar pelo mundo das letras- que ama muito,isso fica claro, com a mesma seriedade ( ou maior já que mais velho) com que tratou sua carreira de músico, cantor e compositor poeta e engajado.
Quem vem acompanhando sua literatura, vê nitidamente o quanto esse escritor (penso que já podemos chamá-lo assim) vem amadurecendo, crescendo, melhorando sua prosa e seu estilo e, claro, me ponho a pensar....
Que espécie de luta ele tem travado para crescer nesse ofício? Que foi feito da sua inspiração para compor? Como alguém resolve outra coisa e humildemente começa muito mal e não desiste e trabalha, trabalha e trabalha para atingir pelo menos algo próximo do patamar que alcançara no ofício anterior?
Quem leu “Leite Derramado”, vai concordar comigo que a prosa do Chico amadureceu muito desde Estorvo e Benjamin. Budapeste já foi a minha primeira grande surpresa!
Leite derramado é uma narrativa cheia de suspense, que não se larga do início ao fim. É uma proeza que as memórias contraditórias e esburacadas de um ancião nos encham de curiosidade e nos levem adiante.
Até certo ponto, temos a ilusão de que a história real será apresentada e desvendada.
Mas que mania é essa de querermos sempre saber como foi a história real? Será que ela interessa?
Quando por fim nos damos conta de que nada será revelado como sendo “a verdade”, já estamos conformados e achando que, de fato, não vem muito ao caso como tudo verdadeiramente se deu.
Importa a narrativa. Importa como aquele velho se lembra, importa como sua vida foi uma sucessão de ilusões e desilusões como a de qualquer outra pessoa. Como muitos sóis foram tapados com a peneira e de tanto serem tapados, se confundiram e viraram meias verdades e/ou meias mentiras como quiser o leitor.
De minha parte, muito me admira o Chico, sempre em busca do novo, do próximo desafio...e me pergunto o quanto ele deve sofrer a cada nova empreitada. E olhem que o tempo avança mas a energia parece não acabar nunca. Ao contrário, sempre renovada e surpreendente.
Acho que foi o Millôr que disse que enquanto houvesse Chico Buarque vivo, nenhum homem estaria livre se ser corno. Sábias palavras.



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