quinta-feira, 6 de março de 2014

O silêncio da idade




Quando a vida podia ser qualquer coisa,
Quando querer e poder eram separados apenas pelo tamanho da nossa resignaçāo
Quando os compromissos limitavam-se a bem poucos e podia-se ser um pouco louco
Nesse tempo tudo era um tédio e fantasiar, o único remédio

Deitar à noite e imaginar histórias
Tristes, absurdas, cheias de auto-piedade ou felicidade
Criar finais impossíveis, ousadamente belos, tragicamente desafortunados
ou ainda, cada noite voltar um pouquinho, numa infinita novela de capítulos apagados e refeitos na memória

Ah com que despudor fugia do mundo chato! Vivia aventuras impensáveis até para o cinema. Alucinava ser outra pessoa, naturalmente de quem eu gostasse mais.
Projetava meus desejos em roteiros surreais em uma sala vazia na qual faltava, inclusive, luz.
Fantasias sāo como vampiros: dormem de dia e à noite re-alimentam nossa imaginaçāo, com tudo aquilo que o inconsciente produz. 

Mas hoje, que a vida é sempre meio igual no que chamamos maturidade,
Que grandes mudanças exigem muito esforço e muita agilidade,
Que o futuro já nao é nem tāo longo nem tāo imprevisível
Que é feito da imaginaçāo e da irrealidade?
Que é feito do sono e da possibilidade do impossível?

Pois se é agora que preciso que me cravem os dentes
É agora que desejo à noite imagens irrresistíveis e tomadas cheias de efeitos,
Onde estāo minhas fantasias? Porque o escuro e minha mente se tornaram tāo silentes?
Por acaso também era fantasia o drácula que me guiaria pela eternidade?
Sendo esse pensamento o único que eu supunha ser verdade?





Um comentário:

  1. Claudia, o silencio da idade tem o seu valor inestimável, pois aprendeu a se calar para o vão e mediocre e a falar apenas o essencial e que vale a pena. Essa sabedoria é um enorme ganho. Se a eternidade hoje é palpável, os momentos eternos tornam-se mais intensos e duradouros. Só precisamos da coragem para vivê-los.

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