Quando a vida podia ser qualquer coisa,
Quando querer e poder eram separados apenas pelo tamanho da nossa resignaçāo
Quando os compromissos limitavam-se a bem poucos e podia-se
ser um pouco louco
Nesse tempo tudo era um tédio e fantasiar, o único remédio
Deitar à noite e imaginar histórias
Tristes, absurdas, cheias de auto-piedade ou felicidade
Criar finais impossíveis, ousadamente belos, tragicamente desafortunados
ou ainda, cada noite voltar um pouquinho, numa infinita novela de capítulos apagados e refeitos na memória
Ah com que despudor fugia do mundo chato! Vivia aventuras impensáveis até para o cinema. Alucinava ser outra pessoa, naturalmente de quem eu gostasse mais.
Projetava meus desejos em roteiros surreais em uma sala vazia na qual faltava, inclusive, luz.
Projetava meus desejos em roteiros surreais em uma sala vazia na qual faltava, inclusive, luz.
Fantasias sāo como vampiros: dormem de dia e à noite re-alimentam nossa imaginaçāo, com tudo aquilo que o inconsciente produz.
Mas hoje, que a vida é sempre meio igual no que chamamos maturidade,
Que grandes mudanças exigem muito esforço e muita agilidade,
Que o futuro já nao é nem tāo longo nem tāo imprevisível
Que é feito da imaginaçāo e da irrealidade?
Que é feito do sono e da possibilidade do impossível?
Pois se é agora que preciso que me cravem os dentes
É agora que desejo à noite imagens irrresistíveis e tomadas cheias de efeitos,
Onde estāo minhas fantasias? Porque o escuro e minha mente se tornaram tāo silentes?
Por acaso também era fantasia o drácula que me guiaria pela eternidade?
Sendo esse pensamento o único que eu supunha ser verdade?
Claudia, o silencio da idade tem o seu valor inestimável, pois aprendeu a se calar para o vão e mediocre e a falar apenas o essencial e que vale a pena. Essa sabedoria é um enorme ganho. Se a eternidade hoje é palpável, os momentos eternos tornam-se mais intensos e duradouros. Só precisamos da coragem para vivê-los.
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