sábado, 8 de outubro de 2011

Steve Jobs

Acho que eu e o mundo inteiro ficamos tristes com a perda do homem da Apple. Do homem que não teve medo de morder o fruto da árvore da vida e do conhecimento.Todos nós nos sentimos um pouco desconfortáveis com a demonstração, nesse caso escandalosa, de que o dinheiro nada pode contra certas “surpresas” da vida. Todos perdemos o exemplo vivo, mas não a inspiração, do homem que transformava, que antevia, que criava, que não enxergava barreiras, que acreditava e, sobretudo, fazia acontecer. Do homem que mudou o mundo em inúmeros aspectos.
Creio que todos ficamos com a respiração em suspenso, pensando o que ele ainda seria capaz de fazer, caso sua vida não tivesse terminado tão precocemente.
Onde teria nos levado? Que próximos passos acompanharíamos como uma legião de fiéis de uma religião tão interessante que, mesmo quem não tinha nenhum produto Apple, como eu, batia a cabeça por seu criador?
A intenção de falar um pouco sobre Steve Jobs passa longe de querer reverenciar sua genialidade, sua maravilhosa e profunda oratória, seu carisma, seu perfeccionismo, sua absoluta compreensão do que é supérfluo - tanto na vida quanto nos seus produtos, seus discursos. Muito menos alardear sua “fama de mau”. Para isso tudo existe a imprensa, muito mais bem informada e rápida que eu. Lemos tudo sobre a vida e a obra do “velho” Steve (acho que agora podemos chamá-lo assim), durante  a semana que passou.
O que fiquei pensando todo esse tempo, inclusive antes do ato final da morte, mas desde que soube que estava doente e enquanto acompanhava com a alma contraída sua deterioração física, é que esse homem não ficou devendo nada.
Os dons que tinha, usou-os todos, plenamente. Em nenhum momento, até onde sei, brincou com a vida e permitiu que fama ou dinheiro lhe tirassem o foco e o impedissem de continuar seu trabalho quase como uma “missão”. Não se deu descanso, usou sua inteligência e visão privilegiadas até o fim e nem na morte viu uma “desculpa” para parar.
Pelo contrário, o mais emocionante, foi saber que ele encarou a certeza da morte próxima, como uma libertação das coisas e sentimentos menores. Como uma oportunidade de se jogar inteiro só com o coração e fazer o que podia de melhor.
A pergunta que não paro de me fazer é: se todos temos a certeza da morte, se nos falta somente a informação sobre quando ela acontecerá, porque diabos a maioria de nós vive como se fosse imortal e concentra-se, basicamente e quase sempre, justo no que é menor e sem importância? Que parte de nós nos confere tamanha ignorância e empáfia que farão com que, ao contrário de Steve,  desapareçamos todos devendo o que poderíamos ter feito e não fizemos; desapareçamos para não sermos lembrados; para não termos feito nenhuma diferença?
Se eu tivesse certeza da existência de Deus, diria que esse é o grande teste nesta vida. Receber os dons e os talentos (cada qual os seus), os meios e as oportunidades (ou a forma de encontrá-las); ter a opção de fazer bom uso deles ou não; decidir estar aqui a trabalho ou a passeio; e prestar contas no dia do Juízo Final. A visão do inferno, para mim, é passar a eternidade toda com vergonha do não feito, do mal feito, do desperdiçado, do superficial, do pequeno e do medíocre com os quais perdemos nosso tempo.
Na verdade, nem se precisa de um Deus e de um Juízo Final para isso. Em nosso leito de morte, cada um de nós, tenho certeza, terá clareza suficiente para fazer esse julgamento e morrer feliz por ter vivido plenamente seu potencial ou acabrunhado e arrependido por ter jogado uma vida fora. E o sofrimento desse sentimento deve ser avassalador para toda a eternidade.
Acaba de me ocorrer uma resposta para a pergunta: por que tanta gente torce por uma morte súbita, de preferência dormindo? Acho que elas já intuem que essa tomada de consciência pode lhes conduzir a um sofrimento espiritual infinitamente maior que o sofrimento físico (esse os remédios quase sempre resolvem). Pode lhes conduzir ao inferno mesmo que por um segundo e isso deve ser aterrorizante.
Eu não sou diferente. Sei que tenho meu saldo devedor. A única diferença é que nunca desejei morrer de uma hora para outra. Sempre, desde que me entendo por gente, penso que gostaria de saber com antecedência que estou perto do fim. Quero fazer o que ainda for possível e quero encarar de frente minhas dívidas e meus carrascos internos. Sempre me preparei para essa “entrevista final” comigo mesma.
Assim, acho que Steve teve dupla sorte: sete anos de aviso prévio e a certeza de ter cumprido com perfeição o seu papel.
Sem dúvida foi para o céu.

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