sexta-feira, 24 de junho de 2011

Pelo fim das vidas interrompidas

Ontem revi Traffic, um filme do ano 2000, que comoveu muita gente na época e mostrou a realidade cruel e inatacável do tráfico de drogas.
Gostei muito de ter revisto, embora ele já não tenha mais o mesmo impacto porque, como sabemos que em 11 anos nada mudou (ou mudou para pior com as drogas sintéticas que apareceram), as cenas já são nossas velhas conhecidas não só através da ficção, mas, e infelizmente, da vida real.
Mas a gente sempre revê tudo com outros olhos.
Não me lembro exatamente o que pensei em 2000, mas deve ter sido que o filme era um tanto romântico porque no final, todos os traficantes se matam uns aos outros e sobra o “Czar” do Serviço Antidrogas Americano abandonando tudo para cuidar de sua filha adolescente e perigosamente adicta. Esse pai se dá conta de que jamais venceria a guerra contra o tráfico, mas ainda era tempo de salvar sua filha.
Não devo ter passado muito disso porque não tinha uma opinião definitiva sobre a legalização das drogas. Hoje tenho e acabei de sedimentá-la revendo Traffic.
Todos dizem que o terrorismo e seus homens-bomba são inimigos dificílimos de combater, pois são pessoas dispostas a morrer quando atacam. O que fazer quando um homem-bomba resolve se explodir em qualquer lugar? Ou um piloto não se importa de morrer ao jogar o avião contra um alvo? Difícil mesmo. Impossível, eu diria. Mas o terrorismo tem fundamento ideológico, e a gente pode ter esperança de que as pessoas acordem e vejam que suas vidas valem mais que morrer por um ideal que nem sabem direito qual é.
O narcotráfico não. O dinheiro é sua finalidade primeira e última, e esse inimigo, o amor pelo dinheiro e o poder que ele confere, é muito mais entranhado no nosso mundo ocidental que qualquer ideal religioso em qualquer lugar do mundo.
O terror ataca para chamar a atenção, para vingar um ato julgado injusto, para afirmar ódios e paixões.
O narcotráfico não ataca. Ele opera normalmente, todos os dias, em todos os lugares.
Ele é parte da vida cotidiana e a cadeia envolvida é enorme. Só por isso de vez em quando há baixas significativas: quando eles se matam ou entregam uns aos outros. Não há lealdade, como de resto não há nenhuma moral.
O filme mostra isso com perfeição e densidade. Chega a dar aflição.
A corrupção é o verdadeiro inimigo oculto, invisível, imprevisível e insidioso. Não há como pará-la. Os homens não negarão dinheiro. Nunca. Nem se importarão em absoluto com todas as vidas interrompidas pelas drogas. Interrompidas pelo vício ou pela morte prematura – por bala, faca ou asfixia.
Seria muito mais inteligente legalizar as drogas, cobrar impostos e fazer disso uma atividade controlada, mas legal, e reduzir todo esse circo (eu finjo que combato as drogas, você finge que acredita) a um objetivo só: tratar a dependência dos que caírem na armadilha (como faz o pai no filme).
E, se no final, todos os bandidos morrem, talvez o diretor tenha querido sugerir outra coisa: só há uma forma de “morrerem” todos: legalizar e secar a fonte que enriquece milhares de pessoas: traficantes de todos os escalões, juízes, autoridades, policiais e todos que entrarem na rede, mesmo que seja por acaso.
E senti ontem uma outra coisa que muitos devem achar bobagem: a quantidade de energia ruim que os encontros entre os traficantes, as mortes, as delações, os assassinatos a sangue frio, jogam no universo é infinita. Somada à péssima energia dos adictos, de seus encontros com os traficantes, dos lugares que freqüentam, das mentiras, dos roubos, da perda da vontade, resulta em muita energia podre e densa a ser combatida por uns poucos seres iluminados e alguns bilhões de dólares.
Legalizem esse comércio e será muito mais fácil lidar com tudo: no campo material e no campo energético.
Mas, a quem pode interessar?


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