segunda-feira, 6 de junho de 2011

Um pouco de lembranças

Músicas, cheiros e sabores têm o mesmo poder: o de nos transportar para outros tempos, outras sensações, outros sentimentos, quase outras vidas. Sim, porque há coisas que estão tão distantes que parecem que pertenceram a outra encarnação.
Não preciso falar muito sobre isso. Todo mundo sabe o que uma "madeleine" foi capaz de produzir em Proust para deleite de toda a humanidade.
Quem não leu Em Busca do Tempo Perdido, por favor, não morra sem ler. E em tempo ainda de reler, eu garanto.
Para quem não leu, é bom eu explicar que o Tempo Perdido, não foi um tempo que ele achava ter perdido no sentido de ter deixado passar sem fazer o que deveria ter feito. Era perdido no sentido de ter ficado para trás mesmo, esquecido. E surgia de volta naquele momento.
Bem, vou contar um segredinho: tenho meu passado todo bem aqui, ao alcance de um clique. É que certas músicas funcionam como madeleines, e me trazem de volta toda uma época da vida. Sem tirar nem por. Todos os personagens, o que eu sentia, o que vestia, como me divertia, o que pensava, o que estudava, quem amava, por quem sofria, quem queria conquistar....tudo.
Levei muito tempo para baixar as músicas da minha vida - são muitas e mesmo assim, volta e meia me lembro de uma que ainda não tenho, e estão todas misturadas no ITunes. Não estão separadas.
Agora o segredo maior: coloco para tocar em ordem aleatória e.....voilà! Nunca sei para que tempo vou viajar!!!
Se para um tempo alegre, ou se para quando chorei muito, se foi quando morri de amor ou me senti livre para voar. Se foi um tempo de angústia ou de confiança. Se tinha planos ou se acabara de falhar. É sempre uma surpresa. E é sempre uma delícia, porque como disse alguém, o passsado é um lugar sempre confortável, mesmo que se tenha sofrido.
Não faço isso sempre,  claro, senão a banalidade ameaçaria meu "Tempo Perdido". Se alguém me lê desde o início, talvez se lembre de um dos primeiros posts, chamado "Tesouros". Está tudo explicado lá.
Fato é que hoje abri minha caríssima e secretíssima caixinha de músicas de onde salta, não uma bailarina, mas minha vida toda e a viagem da vez foi com The Logical Song, do Roger Hodgson, todos sabem, Supertramp.
Era 1979, eu tinha 22 anos, casada há pouco tempo, completamente inquieta, cheia de questões. A senhora angustiada, a senhora que não entendia nada, a senhora que olhava o mundo e pressentia que havia respostas em algum lugar, mas onde?
A letra de Logical Song caía como uma luva e o ritmo também. Éramos inquietos naquela época e também adorávamos dançar.
Lá pela metade dos anos 80, a banda veio se apresentar em um Hollywood Rock e era óbvio que eu não podia perder. Ouviria essa música e estaria pronta para morrer.
Não morri mas quase. Chovia muito. A Praça da Apoteose lotada. Um caos verdadeiro. Nada importava. Eu estava lá pela minha música. Ouvi e chorei. Por sorte as lágrimas se confundiam com a água da chuva e não precisei explicar.
Tudo o mais que cerca esse tempo, faz parte daqueles sentimentos inexplicáveis de tão cheios de nuances, tons, contornos e intensidades incomunicáveis.
São aqueles cantos recônditos e  insondáveis que cada um de nós tem e onde, para o bem e para o mal, estaremos sempre sozinhos.

Aqui vai a letra e o vídeo ao lado.

Tomara que seja uma passagem de primeira classe para muita gente.


The Logical Song


When I was young
It seemed that life was so wonderful
A miracle, oh it was beautiful, magical
And all the birds in the trees
Well they'd be singing so happily
Oh joyfully, oh playfully watching me
But then they sent me away
To teach me how to be sensible
Logical, oh responsible, practical
And they showed me a world
Where I could be so dependable
Oh clinical, oh intellectual, cynical

There are times when all the world's sleep
The questions run too deep
For such a simple man
Won't you please, please tell me what we've learned
I know it sounds absurd
But please tell me who I am

Now watch what you say
Or they'll be calling you a radical
A liberal, oh fanatical, criminal
Oh won't you sign up your name
We'd like to feel you're
Acceptable, respectable, oh presentable, a vegetable

At night when all the world's sleep
The questions run so deep
For such a simple man
Won't you please, please tell me what we've learned
I know it sounds absurd
But please tell me who I am, who I am, who I am, who I am




4 comentários:

  1. Claudia, essa música também tem um significado muito especial na minha vida! Mas não pela inquietude ou motivação da sua referencia. The Logical Song serviu como material inesgotável para inúmeras aulas de ingles, para diferentes faixas de idade, nos muitos e muitos anos em que fui professora. Através dela, ajudava a desvendar adjetivos e adverbios, e, a partir deles, relacionar substantivos e verbos derivados. Uma farta fonte com resultados incríveis! Adorei resgatá-la aqui com você e lembrar, com carinho, de uma fase tão importante da minha vida...
    Um beijo.
    Alice

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  2. Que delícia! Nunca as referências de cada um serão as mesmas e, no entanto, as mesmas coisas nos aproximam tanto!
    Esse é um dos mistérios que não quero entender mas fico maravilhada que exista: as afinidades serem alicerçadas nas mesmas coisas por motivos tão diferentes!
    Tô te esperando ansiosa para nossa próxima sessão "prosa, gargalhadas e vinho".
    Bj enorme

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  3. elizabeth s pereira mundim9 de junho de 2011 às 14:20

    E eu fui bem longe com o som do Supertramp, postado por vc. Minha favorita deles é Dreamer,
    que não me cansava de ouvir, cantar com toda enfase e várias expressões, de alegria e toda essa adrenalina que a música provoca.
    Me lembrei também, que foi um namorado antigo, que primeiro me falou da banda e sendo assim, todo o relacionamento ficou marcado com as músicas e me lembrei até da capa do longplay: azul e preto e uma foto de um bueiro aberto, grande e metálico?

    Pequenas lembranças, que nos fazem acreditar que a vida vale muito a pena...

    Beijo enorme

    Beth

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  4. Que delícia! Lembranças que puxam lembranças! Todo nosso passado foi mesmo marcado pelas mesmas coisas de formas diferentes!
    Vamos nos [re]descobrindo assim cada vez mais.
    Luv

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