segunda-feira, 21 de maio de 2012

Não nos deixem. Nós não podemos suportar


Eles vão saindo de cena sem se despedir
nos deixam de cara só com a notícia, com o estupor,
com a raiva e o rancor por ter que ser assim
sem imaginar que nossas vidas empobrecem, sentem pena e se deparam com o fim.

Perdemos nossos ídolos e o mundo se apequena não porque eles foram
mas porque nós ficamos: náufragos em uma ilha condenada a ser desabitada
Compulsórias chegada e partida.
Entre uma e outra, nossas construções: frágeis ou admiráveis
Morre John Lennon e morro um pouco eu porque sou jovem e ele ainda me traduziria
Morrem Elis, Gonzaguinha, Raul, Tim, Cazuza e morro muito eu
porque nossas verdades são muito as mesmas e ao se calarem
me calam a mim, que contava com eles para um falar corajoso, comovente e competente.

Morrem Michael, Donna, Whitney, Robin e pronto: meus melhores anos ressuscitam
apenas para gritar que a irremediável hora da minha própria morte está perto
Minha juventude, minha alegria, minha inocência, minha pouca crença no fim
abrem finalmente espaço para o estranhamento, as perguntas sem resposta,
o  gosto amargo sempre disfarçado de riso e esquecimento,
de frases feitas e prontas para  fazer suportar melhor o insuportável.

Estou de frente para o sol.
Por quanto tempo se pode encarar o sol sem cegar?
Minha morte me cega.                                                                                                                              
Preciso dos óculos escuros da morte alheia, da música alheia
Preciso curtir a obra de quem foi capaz de deixá-la para nunca desaparecer de fato.

E quando morrerem os que só me deixarão sua falta?
Uma falta sem obra a que recorrer na saudade?
Que farei diante do vazio?
Quem dará conta da tristeza? Quem acalmará minha estranheza?

Os Bee Gees nunca morrerão.

Quem morrerá serei eu



5 comentários:

  1. Embora acreditando que a morte é apenas uma passagem do estado sólido para o vaporoso... Sempre nos sentiremos órfãos dos que, por identificação, amamos e admiramos.
    Maria Sequeiros

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  2. Maria Célia, não sei direito em que creio. Talvez aí o problema. De uns tempos para cá a vida tem me parecido breve como nunca me pareceu.
    Não importa, eu acho, se ela continua de outro jeito. Esta aqui está assustadoramente próxima do fim.
    Nem sei também se isso é ruim. Estou só constatando e me assombrando.
    Bjsssss e obrigada

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  3. Claudita,
    Lá vai, de novo.
    Dizia eu que gostei demais do seu post, mas não concordo com o teor da mensagem. Aliás, penso exatamente o contrário do que diz você.
    Nossos ídolos não morrem, não nos deixam, não desaparecem. O final da vida física deles, chega a ser irrelevante. O que sai de cena é uma fraçãozinha do que fica, na verdade a parte menos importante. O que vale à pena, o que neles idolatramos, o que nos emocionou e influiu em nossas vidas, o que retivemos para sempre na memória e no coração, tudo isso continua com o mesmo vigor de sempre, preservado em imagens, sons, gestos, vozes, versos, palavras, energia.
    Otimista como sou, também não quero acreditar que nós simplesmente morremos, como diz você. Morrem os pobres de espírito, os que não creem na fantasia, os insensíveis, os que rezam para ir para o Céu, os que não choram de alegria, os de alma apequenada.
    Nós, Claudia, temos nossa cota de participação na construção do imortais, os ajudamos a florescer, os ouvimos, os lemos, os aplaudimos, os reverenciamos, os fizemos eternos.
    E, quando paramos de respirar, nossas emoções, eu acho, também ficam por aqui, flutuando nos ambientes que frequentávamos, aninhadas no peito dos amigos, herdadas pelos filhos, dando consistência e força aos legados daqueles que não morrem, nossos ídolos.
    Portanto, menina, prepare-se para uma longa permanência nesse mundo: cuide bem de suas emoções, aguce a sua sensibilidade, não tenha medo de sofrer e de ser feliz, colecione amigos, apaixone-se regularmente e nada lhe faltará.
    Beijos
    Paulo Eboli

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  4. É Paulito pode ser... tem dias que até sou capaz de concordar com você. Outros, é simplesmente impossível.
    Perder ídolos que ainda nos dariam muita coisa, os que morrem jovens, acho que vc concorda comigo que trata-se de uma perda muito relevante e que leva um pedaço da gente.
    Aqueles que fizeram parte das nossas vidas, que as moldaram de alguma forma, mas já passaram, de fato o desaparecer físico não importa mas, para mim, dá a medida de que o meu desaparecer está próximo.
    Para falar a verdade não sei se é sempre assim. Tem sido. Ando assombrada com como tudo passou tão rápido. Como falta pouco, como eu nem vi passar direito.
    E ficam esses caras morrendo pra me lembrar disso toda hora rsrs
    E eu nem sei se é ruim desaparecer....Talvez seja melhor e mais fácil ser essa energia de que vc fala. Menos sólido, melhor.
    De qualquer forma, não se trata de pessimismo. É, no máximo, uma constatação. Não sofro. Só levo sustos de vez em quando.
    E depois, se todo mundo até hj conseguiu morrer, eu também conseguirei rsrsr. Me diga se não é uma boa forma de pensar?
    Vou me esforçar para sentir minha alma mais imortal. Isso prometo.
    Bjs com amor

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  5. Claudita,
    Esse estado de espírito que te assola, tem tudo a ver com as circunstâncias atuais da sua vida terrena. Logo, logo, a medida que suas mazelas começarem a desaparecer, tudo vai ficar mais claro, mais bonito.
    Morrer, iremos todos, mas não antes do coração parar de vez e a tampa do caixão for lacrada.
    Até lá, vivamos, e intensamente, a vida.
    Beijos,
    Paulo
    ps - Você é tudo de bom, acredite.

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