quarta-feira, 30 de maio de 2012

Brincando na solidão do passar das horas


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sábado, 26 de maio de 2012

Eu não sou cachorro não


Adoraria colocar mais açúcar em meu olhar, abanar o rabo, babar
E ter a sabedoria de só amar. Incondicionalmente.              
Adoraria saber voar e cantar de manhã e ao entardecer e
Ser o anjo alado da celebração da vida e do eterno renascer
Adoraria ser uma grande e plácida montanha, coberta de árvores silenciosas
E saber para sempre calar e viver ao sabor do vento, do jeito que soprar

Se não sou criatura divina, nem cão, nem pássaro, nem montanha, nem árvore
Se sou ser das trevas e do pecado; se comi a maçã que não devia
Para que teimam em me comparar com esses seres a quem não foi dado tão simplesmente:
pensar?

Estou muito cheia das frases de caminhão dos monitores de tela plana;
Estou muito cansada das eternas repetições de bobagens cheias de pretensão;
Da mediocre auto ajuda ocidental maquilada de sabedoria oriental do Dalai Lama;
Dos conselhos tibetanos, atirados aos porcos de Copacabana.

Não sou cachorro, passarinho, pedra, lago, árvore e nem montanha
Sou gente: outra composição
Tenho neurônios que se ligam em sinapses complicadíssimas, eles não.
Sendo assim, temos questões diversas: nossas matérias, saberes, pensares e quereres
são diferentes: por definição.
Penso, existo. Todos os outros existem sem pensar.
Por favor: parem de nos comparar!


segunda-feira, 21 de maio de 2012

Não nos deixem. Nós não podemos suportar


Eles vão saindo de cena sem se despedir
nos deixam de cara só com a notícia, com o estupor,
com a raiva e o rancor por ter que ser assim
sem imaginar que nossas vidas empobrecem, sentem pena e se deparam com o fim.

Perdemos nossos ídolos e o mundo se apequena não porque eles foram
mas porque nós ficamos: náufragos em uma ilha condenada a ser desabitada
Compulsórias chegada e partida.
Entre uma e outra, nossas construções: frágeis ou admiráveis
Morre John Lennon e morro um pouco eu porque sou jovem e ele ainda me traduziria
Morrem Elis, Gonzaguinha, Raul, Tim, Cazuza e morro muito eu
porque nossas verdades são muito as mesmas e ao se calarem
me calam a mim, que contava com eles para um falar corajoso, comovente e competente.

Morrem Michael, Donna, Whitney, Robin e pronto: meus melhores anos ressuscitam
apenas para gritar que a irremediável hora da minha própria morte está perto
Minha juventude, minha alegria, minha inocência, minha pouca crença no fim
abrem finalmente espaço para o estranhamento, as perguntas sem resposta,
o  gosto amargo sempre disfarçado de riso e esquecimento,
de frases feitas e prontas para  fazer suportar melhor o insuportável.

Estou de frente para o sol.
Por quanto tempo se pode encarar o sol sem cegar?
Minha morte me cega.                                                                                                                              
Preciso dos óculos escuros da morte alheia, da música alheia
Preciso curtir a obra de quem foi capaz de deixá-la para nunca desaparecer de fato.

E quando morrerem os que só me deixarão sua falta?
Uma falta sem obra a que recorrer na saudade?
Que farei diante do vazio?
Quem dará conta da tristeza? Quem acalmará minha estranheza?

Os Bee Gees nunca morrerão.

Quem morrerá serei eu



domingo, 6 de maio de 2012

A desert road from vegas to nowhere


Quanta dor é preciso sentir para que seja legítimo reclamar
sem chatear?                         
Tolo que és, não há essa medida!
Se queixar, é já ultrapassar o limite tacitamente combinado.
Eu sou, tu és, ele é: feliz!
Quem não é saia da roda.
Não tem dança prá quem cansa.
Muito menos prá quem diz.

Por uma absurda negação do esperado,
até médicos sentem enfado.
Devias ficar calado.
Motoristas  e doutores suplicam: falem somente o indispensável.
Os primeiros, para não se distraírem  e melhor te conduzirem;
Os segundos, para nem ouvirem tua voz quando te jogarem sozinho no deserto sem saída,
Sobretudo prá quem grita.

Não quero mais palavras, nem lamentos, nem amargos fingimentos
Quero o silêncio dos mortos, dos conventos, dos monges.
Não vou  para Pasárgada  porque não sou amigo do rei e nem sei para que lado fica
Quero uma verdade poeirenta, crua, aflita
Que me deixe cara a cara com a dor, o mau humor, o sem sabor
Mas me mostre que tudo pode virar amor.
Quero ir para onde haja fé.
Eu sei onde é Bagdá Café.