quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Treinando o que aprendi com Machado ontem sobre as crônicas

Acordei. Antes de abrir os olhos me abracei com o travesseiro que tenho só para ser abraçado. Fui aos poucos tirando os cabelos dos olhos, esfregando os pés no lençol macio e o tamanho da preguiça e vontade de ficar na cama me avisaram que o tempo tinha mudado.
Esfrega, enrosca, dorme de novo e a  irritante soneca já tinha tocado mil vezes e eu estava 20 minutos atrasada.
Levanto correndo, abro a janela e é verdade: chove.
Dilema: faço ou não café? 
Como se acorda sem café? Ligo a cafeteira, enquanto tomo um banho quente tão gostoso que me atrasa mais 10 minutos e tomo o café meio fraco enquanto seco o cabelo que na pressa fica uma droga. Dia garantido de mau humor com o cabelo daquele jeito.
Próxima parada: armário. Quando vou cumprir a promessa de arrumá-lo com um mínimo de lógica e bom senso. Bom, não é hoje e achar a blusa e o casaco que quero leva mais tempo que o previsto e onde estão minhas meias pretas opacas que ficam bem com as botas cujo pé esquerdo não acho?
Nada debaixo da cama, nada no armário, ah! na área secando. 
Ainda mato a Graça que além de não ter chegado -  deve estar engarrafada na Avenida Brasil, não guardou a minha bota.
Estou pronta. Vai assim mesmo. Ligo ou não ligo para dizer que estou atrasada, que o pneu do taxi furou ou outra desculpa esfarrapada?
Taxi! Agora me lembrei. Como vou achar um? Nas cooperativas? Claro que não terão. Na rua? Vou encarar a água que cai e, portanto, preciso de um guarda-chuva. 
Parte mais fácil, devo ter uns 15. Cada vêz que chove compro um. Mas passo em revista a casa toda e concluo que os perco à mesma taxa com que os compro. Encontro um todo revirado. É esse.  Sei que entortará ao primeiro vento mas que jeito.
Pronto, só falta a bolsa. Que peso! Ah lembrei que  não tirei umas amostras de ontem nem a nécessaire gigante de quando tem happy-hour. Fica porque não vou separar nada agora.
E as contas que venciam hoje? Sorry, uma  vez mais pagarei atrasadas e com multa e me odiarei de novo por jogar meu dinheiro fora. Mas agora não dá pra pensar nisso.
Engulo mais um gole de café. O que foi um erro porque deixo cair na roupa. Limpo de qualquer jeito e acho que ficou direito.
Bato a porta de casa já exausta. 
Péssima, com a roupa meio molhada meio suja, um cabelo assustador, uma cara que ainda vou ter que ajeitar no taxi (se encontrar algum)  e ensaiar uma desculpa para quando abrir a porta e fizer-se o silêncio que já conheço e todos me olharem esperando o que tenho a dizer.
Enquanto não chega o elevador fico tentando me lembrar se  a chave está na bolsa porque ter que ver o filme do arrombamento da casa de novo, na volta do trabalho, pode me levar ao suicídio.
E penso inconformada:
- Porque é que Deus me fez assim?
E nem por um instante me ocorre que cada assim ou assado de todos esses anos, sou eu que tenho forjado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário