segunda-feira, 30 de maio de 2011

Deus (não) está morto

Sempre que olho para uma linda flor, um pássaro, uma paisagem estonteante me passa pela cabeça o seguinte pensamento: “não pode ter sido sempre assim. As flores de há milhões de anos não podem ter sido tão lindas e delicadas.”
E me ponho a pensar que o mundo tende para a perfeição. Que, no limite, enquanto o tempo tende ao infinito, o mundo e tudo que nele habita tende a ser perfeito. E que essa perfeição deve ser Deus.
Nunca consegui passar daí nas minhas conjecturas. Até por que, e ser for, o que é que tem?
Durante os últimos meses, quando muito mais que pensar me foi exigido sentir – dor, tristeza, alegria, amor, gratidão, medo, ternura e tantas outras coisas que não sei nomear, me dei conta de que, se os seres humanos, com sua capacidade de pensar e, portanto, pecar (no sentido de destruir, desamar, não se importar, achar que seu poder dará, no final, solução para tudo), ao fim e ao cabo, estão desobedecendo ou no mínimo atrasando essa lei que criei para mim: tudo tende a ser perfeito.
Ora, se é uma lei, precisa se cumprir. E se os homens não legarem ao mundo essa evolução por bem, isto é, trabalhando conscientemente e através de atos para que, não só todo o mundo físico (flores, animais, mares, terras) prospere e evolua, mas também passe de geração em geração melhores sentimentos (amor, perdão, verdade, compaixão, humildade) para que algum dia a raça humana seja perfeita, então isso vai ter que se dar não por mal, mas de alguma forma que esteja fora da escolha do homem.
Pensando assim, e tentando continuar pensei: o corpo pode fazer, a mente pode pensar, julgar, encontrar saídas, estratégias, comandar o corpo e fazer escolhas. Mas o corpo morre e a mente que o comandava morre junto. Se esses corpo e mente juntos não deixam nada que dê uma mínima melhorada na espécie, então ficou faltando algo. Ficou faltando alguma parte que não tenha escolha, que tenha que obedecer “a lei” de qualquer jeito: só pode ser o espírito. Esse que vai e volta até aprender a ser melhor e a somar perfeição ao todo.
Toda essa volta que deu o meu “sentir” (sim, porque tudo isso foi sentido e não pensado) e que bem sei que ao tentar descrever aqui já perde muito em verdade porque “insights” não têm palavras que os digam de maneira exata, fez todo sentido para mim.
Percebi que não eram meu corpo nem minha mente que me davam forças e alegria diante da doença e da dor. Que não eram meu corpo e mente que estavam cada dia mais fortes e “sentindo” tudo de forma diferente do usual. Era meu espírito que seguia a “lei” e que parou de sentir medo, vergonha, limites e que encontrou uma enorme paz onde antes habitava o caos.
Quando admiti isso, e procurei me valer do que sei e do que posso aprender para o desenvolvimento espiritual, parece que uma luz se fez e passei a ter coragem de me tornar uma livre pensadora e interpretar os textos sagrados, as orações mais conhecidas e as práticas e rituais mais difundidos, do meu jeito particular e único, como deve ser cada coração, cada mente e cada espírito: particular e único.
Não me interessa dar nome nem saber a qual religião pertenço. Todas são uma só e, por sua vez, são nenhuma. Religião não pode existir do jeito como as conhecemos. Elas são letra morta e semeiam discórdia, ódios e mortes. São rituais petrificados e há muito perderam todo sentido.
Mas, se por religião eu puder entender re-ligação com o universo, com a perfeição inevitável; se eu puder achar que faço diferença nessa imensa re-ligação dos homens com o universo do qual fazem parte, então tenho religião agora. Então posso rezar qualquer uma das rezas de qualquer religião porque elas são sem dúvida re-ligadoras. São mantras que abrem caminhos, porque lá no início, quando cada avatar esteve na terra – Buda, Jesus Cristo, Sócrates e outros, a letra era viva e a espiritualidade uma evidência. Aliás, nem letra era. Nenhum deles deixou nada escrito. Era o verbo original.
Encarregaram-se os homens de matar todas as verdades, e construir sobre elas, edifícios inteiros de mentiras que lhes serviam como instrumento de dominação.
Eu quero me re-ligar à verdade primeira e com ela permanecer forte e sem medo de escolher meus caminhos. Porque eles nunca poderão estar errados.
Nietzsche, ao dizer que “o que não me mata me fortalece’, me parece que estava exaltando o espírito divino que habita em cada um de nós.
O Deus do qual ele anunciou a morte foi outro. Aquele que cegava e enchia as pessoas de pavor.
Esse nunca existiu. Foi criação dos homens de má fé e já nasceu mesmo morto para quem tinha olhos de ver  e ouvidos de ouvir.
Desconfio que Nietzsche também tenha sido um avatar.

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