quarta-feira, 6 de abril de 2011

Apego X Amor


Houve um tempo, em que eu achava que a palavra apego nada tinha de especial. Para mim, era normal ser apegado a algumas coisas de que eu gostava muito e não pensava nisso.
Até que comecei a ouvir aqui e ali, de psicanalistas a oráculos, que meu problema era excesso de apego, mesmo em relação ao que já tinha passado. As relações acabavam, mas o apego não. Isso significa que, apesar de todas as evidências, continuo presa à ilusão de que aquele objeto amado ainda será meu e mais: da forma como quero que ele seja.
Passei a prestar atenção, a ler sobre o assunto e descobri que o tal apego é muito mais perverso e paralisante do que eu jamais poderia supor.
Apego está ligado à idealização e, consequentemente, à posse. Criamos a ilusão de que o outro nos pertence e vendemos a ilusão de que o outro tem posse sobre nós. “E nesse jogo emocional vivemos anos, vidas inteiras e o mais irônico, para não dizer o mais triste, é que nos atrevemos, presos a essa visão distorcida, a chamar isso de amor!”
Quando elejo um objeto pseudo amado e já idealizo nele minhas necessidades, tomo posse daquela pessoa, imaginando que poderei fazer dela o que eu quiser. Em algum momento ele será o que fantasiei.
O que ela é de verdade, não conta nada. O que conta é o que quero que ela seja. Algumas pessoas insistem nisso por tanto tempo que o sentimento acaba ficando muito confuso. Mas uma coisa é certa: não é amor. É apego.  É apego ao que eu quero. Longe de mim querer afirmar que quem “faz o jogo” de aceitar o outro ao extremo, em tudo, está demonstrando amor verdadeiro. Está sim se submetendo. “É um apego tão forte, tão enraizado, que não permite que o outro seja feliz e, num grande auto boicote, opta por ser infeliz para não se desapegar do outro e não permitir que o outro se desapegue. O que aparenta desapego é um profundo apego; tão forte que preferimos renunciar à própria felicidade a renunciarmos ao outro.”.
Relações saudáveis se baseiam em um querer o bem estar do outro de forma inteiramente altruísta, sem posse, sem ciúme, enfim. sem apego. Com amor.
Mas, como em tudo nessa vida, temos que vivenciar o apego para compreender o desapego.
Refleti muito sobre isso e concluí que a maior parte das minhas relações foi sim, de apego e algumas já duram anos demais.
Minha tentação de me apegar e achar que o outro vai ser o que espero que ele seja e que, no fundo, acho que é melhor para ele, é praticamente irresistível. Ou era. Hoje compreendi que nunca se tratou de amor, e sim de um profundo apego. “Nós confundimos apego profundo com desapego e não conseguimos realmente enxergar nossa confusão e a vida faz a parte dela, ou seja, gera o desapego para percebermos o quanto estávamos apegados e aceitando as migalhas que acreditávamos merecer.”
Já vivi isso e hoje penso que sei separar uma coisa da outra: desapego nos liberta. Apego aprisiona.
Acho que hoje sou capaz de reconhecer isso muito mais rápido e de colocar os sentimentos em seu lugar. Sou capaz de reconhecer que “algum outro” que aparentemente me interesse, não tem nada que eu queira e que, tentar tê-lo para mim é, de novo, me apegar.
Esse processo de reconhecimento não é fácil. Implica em muita decepção. Mas antes ela agora que um apego infinito e doloroso.
É decepcionante constatar que o que você idealizou não está nem perto de ser verdade. Que você fala com o vento e nenhuma resposta é satisfatória – sim porque o apego é o mesmo que tentar segurar o vento, o ar.  Que as paredes não falam e a outra pessoa ou é uma parede ou o vê como uma. Que nada reverbera ou contém qualquer troca. É muito triste, mas é real.  Cada palavra é estudada, e a curiosidade que você desperta é a mesma que a mulher barbada do circo.
Somente com o desapego é que podemos ter... ter o que é da alma... porque nós não temos, nós simplesmente somos... somos o que somos.”
E a realidade é melhor que qualquer apego aprisionante.
É, também, no mínimo engraçado, constatar como as pessoas se vêem de forma equivocada: umas se acham o máximo e não são nada; outras são pedras preciosas e nem se dão conta disso.
Assim é a vida. Aprendendo sempre.
Tratarei de me curar de antigos apegos e tentarei não criar novos.
Daqui para frente, se ainda der tempo, quero amores de verdade. Sem subterfúgios, aceitando o outro como é (desde que não me violente), querendo de fato o melhor para ele e sua possível felicidade. Quero o conviver sem máscaras e sem segredos. O amigo que é amor e o amor que é amigo. Fora isso, prefiro a companhia dos amigos que são isso tudo menos o amor Eros.
Os outros apegos, não os tenho muitos. Nada de material me define nem tenho orgulho da posse. Não sou prisioneira de nada.
Felizes os que não se apegam. Que vivem o prazer de um grande e desapegado amor.
Desde que não seja por uma porta, porque aí é evitar qualquer confronto de igual para igual e confrontos são ou devem ser produtivos. É tão somente permitir que o outro se apegue sozinho e seja infeliz sozinho. É um pouco sádico.

Obs.: Nas minhas andanças pela internet atrás do apego, me deparei com esse texto que quero compartilhar:

“Da ilusão, a aflição primeira, cresce a segunda aflição fundamental, o apego. O apego não é simplesmente o desejo, mas vincula qualidades desejáveis aos objetos e encobre as indesejáveis. O resultado é o anseio.
O apego é a conscientização deturpada na qual idealizamos um objeto: “Se eu conseguisse chegar lá, teria aquele emprego, aquela esposa, aquele carro, e, então, seria feliz”.
“A idealização cria uma ficção para a qual nos inclinamos. Quando combinamos uma pessoa com uma ficção sobreposta, podemos nos apaixonar pela ficção maravilhosa e mais tarde nos decepcionar achando que a pessoa “mudou.””

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