domingo, 3 de março de 2013

Para quem gosta da verdade

Chegamos ao MAM. Adrina Varejão e seu universo nos esperavam. Nossa maior artista plastica, pelo menos na opinião de boa parte da crítica especializda.
Havia visto parte da sua obra em Inhotim, em belíssimo pavilhão só para ela. Um cubo em cima de um espelho d'água que reflete o cubo que reflete a água. Um jogo belíssimo. E não sei se ali Adrina se sente tão à vontade.
Chegamos, e nenhuma indicação de estacionamento. Pergunta daqui e dali paramos o carro.
Andamos um bom pedaço para chegar à bilheteria. Muito barato R$12,00. Que bom que assim muita gente pode vir, pensei.
Passada a bilheteria, começa o MAM, aquele espaço tão lindo a mostrar suas entranhas sujas, mal arrumadas, mal planejadas.
Diz uma moça que fazia as vezes de bilheteira: rasgo aqui seus ingressos e vocês passam por aquela última roleta que está quebrada. Ok é possivel que as roletas tenham estragado de última hora.
Pergunto:
- Tem um folheto da exposição?
- Não. Começa aqui em baixo e depois continua no segundo andar
- Obrigada
Nenhuma sinalização. Cada peça ao deus dará sem um mínimo pequeno texto explicando nada e depois de uma fila de três obras, papeizinhos colados na parede com seus nomes. A brincadeira era adivinhar se os nomes estavam de direita para a esquerda ou ao contrário.
Obras contundentes. Muito contundentes. Para Adriana não há aparência. É preciso ver por dentro. É preciso ver a verdade.
Atrás das paredes, emparedados mesmo, há toda uma realidade interna, visceral, normalmente escondida pelo branco dos azulejos.  Ponham as paredes abaixo e a verdade de cada família, de cada casa, seus segredos, suas verdades, suas mentiras, aparecerão. O Brasil colônia está alí. Vilipendiado. Roubado. mascarado.
Rasguem o mundo e as feridas sangrarão por todos os lugares.
Vejam um linda mulher e ela não é um uno formoso e sedutor: ela é pernas, braços, visceras, cabeça. Ela é corpo, espírito e intelecto. Esqueçam a aparência da linda mulher. Concentrem-se em suas partes feias bonitas, nojentas. O todo por fora não deve nos enganar.
Mesmo uma fruta nunca está inteira. Adriana a parte para saber o que há dentro. Carocinhos, cor vermelha. Dentro é diferente. Dentro é outra impressão.
Assim é o MAM. Lindo espaço, linda arquitetura. Podre.
Banheiros imundos. Um café que só tem exatamente isso: café. Nada para comer. Instalações e serviço pobres e sem qualquer alusão a estarmos em um espaço sagrado de arte.
Um museu sujo, um espaço feito de aparências.
Adriana Varejão sem querer está no lugar que complementa sua obra. Ela não precisou rasgar o MAM para escancarar suas entranhas. O MAM se escancara sozinho e nos deixa um gosto ruim de tudo de podre que existe atrás daquelas paredes.
Teremos muitos turistas. Temos uma população ávida por arte e cultura. Temos artistas fabulosos e um Museu de Arte Moderna que esconde a sujeira de tudo que é administrado pelos nossos secretários que, ao contrário da artista, imaginam que a aparência nos distrai e engana.
Rasguem-na, dilacerem-na, mutilem-na, esquartejem-na. E ficarão surpresos.

4 comentários:

  1. Claudia, texto com a sua assinatura do início ao fim! Esse rasgar as aparencias é tão caracteristico no que você escreve... Adorei o confronto da tônica da obra da artista com o espaço que a abriga. Talvez, em outra exposição, esse contraste, ou melhor, essa integração, não gritasse tanto!E entendo porque o visceral- da artista e do museu - te provocou tanto! Deixa dormir... Mas tira da cama amanhã cedo! Vale a pena! Bjs. Alice

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  2. Eu disse que estou sendo afoita. Como quem lê são meus amigos e eu sou ansiosa com meus quinze minutos, não consigo esperar noite de descanso do texto rsrs. Sei que amanhã sera outra coisa. Acho que vou comecar outro blog, mais profissional e ai sim, publicar a versão final e divulgar tb. Por ora, estou ainda na vibe de esfcreve publica. Mas não sei se deu para notar, ja usei alguns elementos de cronica qu e aprendi.
    bjs querida

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  3. Que relato incrível, deu pra entender perfeitamente a indignação. Pobre de nós, que temos fome de cultura e arte mas precisamos nos conformar com a maneira pela qual as recebemos. Ainda vou lá conferir mas agradeço a prévia. Bjs, Marcia.

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  4. Que bom que gostou La Marcie. Tenho tentado escrever mais de acordo com o que tenho aprendido sem deixar de ser eu. Dificillllllll rsrrs. BJ

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