quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Em busca de um novo destino - primeira reflexão



Precisa-se de uma  vida nova. A gente sabe isso quando nenhuma posição é boa, quando o corpo dói de qualquer jeito, quando os sorrisos saem com dificuldade, quando a paisagem se torna banal mesmo que linda, os dias uma sucessão de horas infelizes e as noites sempre dormidas não para descansar mas para nunca mais pensar
Precisa-se de um destino novo. Novos planos. Novos sonhos. A gente sabe que precisa e até fica um pouco contente. O tempo de descobrir que não tem planos e sonhar é uma prática há muito esquecida, pouco exercitada, e sobretudo, nunca perseguida.
Mas precisa-se, e precisar não é um desejo é uma necessidade e não admite não ser satisfeita. Quem tem fome tem que comer; quem tem sede beber; quem precisa de um abraço que seja qualquer um porque o preço de uma necessidade desconsiderada é o desespero seguido da morte.
Hora de achar destinos, catar folhetos de possíveis viagens esquecidas no fundo das gavetas já trancadas em almas antigas, mais alegres, mais corajosas e mais criativas. Hora de saber porque não embarcamos nesses aviões e navios e trens que um dia nos convidaram a partir. E se não partimos naqueles momentos tão amemos, como haveríamos de cair na estrada agora, que o corpo dói, que a alma dói e que o peso da vida não é descartável. Que delícia quando um balão perde altura e se vai jogando lá de cima o peso extra, o que é supérfluo. O que pesa mas não agrega e deixa o balão subir e seguir o rumo que o vento quiser.
E o medo? O que se faz do medo? E se falhar? E se de novo falhar? Se não achar o rumo? Se não ficar no prumo? Essa é uma última chance, uma última vez.
E aí me vem a luz que ilumina atalhos sombrios, sonhos desbotados, mapas de tesouros muito velhos e rasgados, álbuns de fotografias em preto e branco empoeirados. E e é justo lá, nessa velharia, que estão os impedimentos, as culpas, os medos reais, o peso real de uma vida inteira pela frente a ter que cumprir expectativas, a ter que ser uma menina exemplar, a ter que ser grande e não decepcionar. É lá nesse baú pouco explorado, largado num canto cheio de  riquezas e ao mesmo tempo cheio de exigências e confrontos e monstros prontos a nos tragar ao menor deslize, foi lá que que a escolha foi difícil, foi lá que a angústia teve início, foi lá que o destino transformou-se em incerto e, olhando de perto, foi lá que vida e morte se enfrentaram pela primeira vez.
Sobrevivi a anos quase infinitos e penso agora, que a meia parte da vida é a perfeita. É a leve, é a que me pertence de fato, é a que não deveria me amedrontar: os monstros ficaram presos no passado – me lembro bem disso e agora, que já nada me ameaça, que os pavores dos erros são vícios adquiridos tão lá longe – nem os vejo, agora o destino pode ser meu. Para que lado for. Escolhido só por mim, vivido só por mim. Rindo dos erros e acertos. Me importando tanto com uns quanto com os outros, ou seja, não me importando.
Do que começa agora, eu sou a dona absoluta e o máximo a enfrentar é minha finitude que afinal não assusta porque também será muito bem-vinda. Caminha-se sempre para um fim. Não há estrada que não dê em nada. Seguirei a minha – ainda sem saber qual é mas haverei de achar e tropeçarei na morte em um momento qualquer que sempre estará bem, porque de alguma forma esse destino terá me conduzido exatamente para onde deve dar. Só peço duas coisas: que eu tenha alguma escolha nessa hora tão solene e que haja uma mão querida para segurar a minha.




5 comentários:

  1. Breathless ... mas é irresistível ver esse texto esteticamente, tão bem construído e tão lindo. A cada dia, precisamos (todos) de novas vidas e recomeços, como na canção do Milton - Encontros e Despedidas. Um beijo grande!

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  2. Muito lindo, Claudia. Tem tudo a ver com meu momento... Mas sinto que os medos e as angustias continuam ainda depois da "meia idade", quando se já está caminhando para a "terceira idade". Para ser livre, leve e solto é primeiro preciso se desapegar. De tudo. E toda dificuldade reside ai. E para ser livre, leve e solto teríamos que não ter obrigações materiais, preocupações materiais.Como fazer? Eu ainda acho que deve- se seguir a recomendação de um sábio judeu que diz que as vezes é necessário agir primeiro e refletir depois.
    bjo grande da França

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  3. Estou sem folego. Li de uma tacada, sem sequer respirar. Vai me dar muita vontade de conversar, logo depois de reler 30 vezes esse texto INCRÍVEL.
    Bjs, Marcia

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  4. Li nas madrugadas insones muito legal estamos todos nessa

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  5. vc é um talento ! MT bom !

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