De volta ao Blog. Será? Às vezes, pausas
obrigatórias nos levam também a pausas naquilo de que mais gostamos e que não
estamos tecnicamente impedidos de fazer. Mas o emocional impede, e como, certas
atividades.
Hoje, me aventurei a entreabrir o armário em
que estava trancada durante essa segunda leva de dores excruciantes. Estando a
porta entreaberta, fui caminhar na Lagoa e o mesmo ritual se repetiu. Primeiro,
minha boca abriu diante da beleza do fim de tarde e não pude pensar em nada.
Minutos de contemplação que pareceram uma década. Vencida essa etapa, os
pensamentos começaram a se multiplicar e a querer tomar forma e, ato contínuo,
me veio a vontade de escrever.
Aqui estou,
sem saber bem o que pensei porque de um ponto em diante, a dor era tanta que me
raptou as reflexões e se aboletou soberana em minha cabeça. Mas me lembro que
estava pensando nos efeitos que produzem estas paradas, pausas forçadas.
De um modo geral, vamos pela vida saudáveis.
Trabalhamos muito, fazemos o que dá e como dá as outras atividades que nos dão
prazer ou que são obrigatórias. Agenda muito cheia na grande maioria dos casos. Cuidar dos filhos – já
grandes requer muito mais tempo porque cuidar significa ouví-los, trocar,
propor atividades, ralar junto quando é preciso; cuidar de nós mesmas –
aparência, espírito, intelecto, nos dar prazer, namorar ou cuidar do casamento;
ir a festas, encontros, cultivar as amizades, viajar. Ah e viajar, normalmente
de férias. Férias não contam como pausa ou são uma pausa prevista, normalmente
ansiadas por conta do descanso de que estamos precisando.
Quando
se tem uma pausa por motivo de saúde, como eu estou tendo, tudo muda muito de
figura. A agenda de todo mundo é cheia, a sua é vazia. Você precisa resolver
como vai encher seu dia tentando não sentir muita dor, e tentando arrancar de
você vontade de fazer qualquer coisa.
Pior quando não se tem um diagnóstico, ou quando tem e você tem certeza
de que está errado. Quantas decepções quando o problema é a saúde. Ou pior, a
doença.
Tem-se muito tempo para refletir e se
decepcionar. Com quase tudo e todos os envolvidos nesse absurdo que é a venda
de conhecimento para quem está doente. Eu teria feito um bom pé de meia se não
tivesse pago o monte de médicos com os quais me consultei e que, na melhor
hipótese, não acrescentaram nada e na pior, erraram redondamente. Sem
qualquer constrangimento. Difícil acreditar. Ouço sempre que a qualidade da
relação determina a cura. Mas como?
Tenho agora meu pé muito atrás com quem promete
cura: física ou espiritual. Com quem promete estar ao seu lado sempre que
precisar. Isso não existe. Sua cura está só em você. Conheça-se, ouça seu
corpo, sua cabeça e seu espírito, lide com eles, e deixe o médico fazer o estritamente necessário. E grite
se você achar que está errado. O grande, o enorme erro é se iludir.
Nessa pausa forçada, você também compreende a
diferença entre amigos e companheiros de vida saudável. Não que esses últimos
sejam maus ou mereçam desprezo, mas não são amigos. Todos repetem a plenos
pulmões que são amigos para o que der e vier. Não são e a gente precisa se
acostumar com isso na boa. É legal essa faxina interna porque no fundo, você
também de desobriga de um monte de coisas que só na pausa é que você vê que não
te dizem respeito. Um enorme peso vai embora. O equívoco é muito pesado.
Na pausa forçada dá tempo de questionar seu
trabalho. De se decepcionar com ele também e dá tempo de pensar em fazer outra
coisa se e quando você tiver condições. Dá tempo de fazer planos novos e
adaptados à sua nova deficiência.
Dá tempo de
se decepcionar com muitos que não sabem lidar com a deficiência. Que têm a
saúde como princípio para a convivência. Talvez não por mal mas por não ter
aprendido diferente.
As pausas
forçadas são muito boas. Oferecem a oportunidade de rever tudo, passar tudo a
limpo e ainda faxinar a vida e o coração.
Não desejo a ninguém pausas forçadas por
motivos de saúde. Ninguém merece. Se acontecer, aproveitem como estou tentando
aproveitar a minha. Mas se felizmente não acontecer, tentem pausas de avaliação
uma vez ou outra. Não só férias de lazer.
Seria ótimo se pudéssemos ter certeza de que o caminho da vida seria o
dos filmes. Nascer, crescer, formar uma linda família, ficar velhinho com o
apoio dos filhos e morrer serenamente. Não temos certeza. Então, não custa
conhecer um pouco do mundo em que vivemos, das mentiras em que nos fazem
acreditar, e tentar traçar um plano B, para o caso da vida nos obrigar a fazer
diferente.
Foi nisso que andei pensando em minha caminhada
ao cair da tarde. Fui caminhando e fazendo um balanço, me lembrando do que tem
se passado em minha cabeça e coração. Pensei também que de forma alguma sei
escrever contos. Se sei escrever alguma coisa, alguns dizem que sei, é sobre a
realidade. Contos não. Estou pensando muito seriamente em deixar o grupo de
mini-contos. Papo para outra escapada.
Bem-vinda de volta: uma ideia na cabeça e um teclado nas mãos. O estilo do que se escreve se resolve por si mesmo. Apenas continue, por você, por nós. Bj
ResponderExcluirObrigada querida. Lindo e emocionante seu comentário. E animador. E inspirador. E motivador.....rsrs
ResponderExcluirNão pararia nunca.
Bjs e bjs